terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Literatura Russa





 os russos

04/01/2011 

Fonte: Jornal de Santa Catarina



Com o calor que está fazendo – e com o ar-condicionado quebrado – o jeito é abrir todas as janelas e começar a ler os russos. Sim, os russos, as comédias de Gogol, os dramas de Dostoiévski, os romances de Tolstoi, os contos de Tchekhov. Em vez desse mormaço que, no mundo da realidade, vem nos cozinhando em fogo lento, ali, no mundo da ficção russa, encontraremos o vento das noites frias, as espessas camadas de neve que cobrem campos e cidades, os mujiques que se encolhem e tremem em seus casacões remendados e, como uma espécie de fundo musical permanente, junto aos gritos dos bêbados e aos gemidos dos servos mais desgraçados do czar, os acordes de balalaicas lamurientas (alguém consegue se esquecer do Tema de Lara, trilha sonora do filme Doutor Jivago?). Nunca estive em Moscou, nem em São Peterburgo, muito menos em Volvogrado, Saratov ou Novosibirsk, e é bem provável que nunca tenha a oportunidade de visitar quaisquer desses lugares. Entretanto, quem lê os russos acaba incorporando algumas dessas cidades à sua geografia pessoal, com a vantagem de que, no caso dos autores supracitados, elas são descritas a partir do século 19, como se fossem museus de usos e costumes a céu aberto. “Quem lê viaja”, já dizia o slogan de uma antiga campanha de incentivo à leitura. Parece que é verdade, especialmente para quem não tem dinheiro para as passagens. O mais interessante da literatura russa, pelo menos para nós que falamos português, encontra-se nos nomes misteriosamente sonoros dos personagens. Em Crime e Castigo, que trata de um assassino atormentado pela culpa, Dostoiévski resolveu batizá-lo de Raskolnikov e assim “rasgar” a sua alma para o leitor. Já Gogol, em O Capote, ao descrever o protagonista, decidiu chamá-lo de Akaki Akakievitch (nem precisava dizer que o sujeito era gago!). E Ana Karenina, a grande heroína de Tolstoi? Com um nome tão gracioso e pungente, é óbvio que esta alma perdida tentará se encontrar em aventuras extraconjugais. Em se tratando de nomear personagens, porém, Tchekhov é o mais criativo. Num pequeno conto que publicou numa revista humorística, as pessoas tentam se lembrar do sobrenome de um antigo curandeiro, sabendo apenas que esse sobrenome tem algo que lembra cavalos. E aí vem a lista de hipóteses: Cavalinsky, Potrinsky, Potrankoff, Equininov, Cavaloff, Montarinsky, Ginetovsky, Alazovsky, Cavalenko, Cavalevitch etc. Quando faz muito calor, sugiro a leitura dos russos. E quando faz frio, também.















©UN
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Manoel Messias Pereira

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