Ah! Brancos, negros e mestiços
escaldaram o teu corpo de sensações
como o bafo quente de um vulcão maldito.
E os teus seios secaram
o teu corpo mirrou
e as pernas engrossaram
enraizando-se no teu próprio corpo.
E os teus olhos. . .
Os teus olhos perderam o brilho
ao sentirem o chicote
rasgar as carnes duras dos teus filhos.
Os teus olhos são poços de água pálida,
porque cheiraste na velha cubata
o odor intenso de uma aguardente qualquer.
Os teus olhos tornaram-se vermelhos
quando brancos, negros e mestiços instigados
pelo alcool
pelo chicote
pelo ódio
se empenharam em lutas fratricidas
e se danaram pelo mundo.
E a ti,
Oh! mãe de negros e mestiços e avó de brancos!
ficou-te esse jeito
de te perderes na beira de algum caminho
e te sentares de cabeça pendida
cachimbando e cuspindo para os lados.
Mas os teus filhos não morreram, negra velha,
que eu oiço um rio de almas reluzentes
cantando: nós não nascemos num dia sem sol.
Francisco Jose Tenreiro
poeta africano
(nascido em 1921 e falecido em 1963)
São Tomé - África
escaldaram o teu corpo de sensações
como o bafo quente de um vulcão maldito.
E os teus seios secaram
o teu corpo mirrou
e as pernas engrossaram
enraizando-se no teu próprio corpo.
E os teus olhos. . .
Os teus olhos perderam o brilho
ao sentirem o chicote
rasgar as carnes duras dos teus filhos.
Os teus olhos são poços de água pálida,
porque cheiraste na velha cubata
o odor intenso de uma aguardente qualquer.
Os teus olhos tornaram-se vermelhos
quando brancos, negros e mestiços instigados
pelo alcool
pelo chicote
pelo ódio
se empenharam em lutas fratricidas
e se danaram pelo mundo.
E a ti,
Oh! mãe de negros e mestiços e avó de brancos!
ficou-te esse jeito
de te perderes na beira de algum caminho
e te sentares de cabeça pendida
cachimbando e cuspindo para os lados.
Mas os teus filhos não morreram, negra velha,
que eu oiço um rio de almas reluzentes
cantando: nós não nascemos num dia sem sol.
Francisco Jose Tenreiro
poeta africano
(nascido em 1921 e falecido em 1963)
São Tomé - África
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