domingo, 2 de junho de 2013

Nós, Mãe

Ah! Brancos, negros e mestiços
escaldaram o teu corpo de sensações
como o bafo quente de um vulcão maldito.
E os teus seios secaram
o teu corpo mirrou
e as pernas engrossaram
enraizando-se no teu próprio corpo.

E os teus olhos. . .

Os teus olhos perderam o brilho
ao sentirem o chicote
rasgar as carnes duras dos teus filhos.
Os teus olhos são poços de água pálida,
porque cheiraste na velha cubata
o odor intenso de uma aguardente qualquer.
Os teus olhos tornaram-se vermelhos
quando brancos, negros e mestiços instigados
pelo alcool
pelo chicote
pelo ódio
se empenharam em lutas fratricidas
e se danaram pelo mundo.

E a ti,
Oh! mãe de negros e mestiços e avó de brancos!
ficou-te esse jeito
de te perderes na beira de algum caminho
e te sentares de cabeça pendida
cachimbando e cuspindo para os lados.

Mas os teus filhos não morreram, negra velha,
que eu oiço um rio de almas reluzentes
cantando: nós não nascemos num dia sem sol.



Francisco Jose Tenreiro

poeta africano
(nascido em 1921 e falecido em 1963)


São Tomé - África

Nenhum comentário:

Postar um comentário

opinião e a liberdade de expressão

Manoel Messias Pereira

Manoel Messias Pereira
perfil

Pesquisar este blog

Seguidores

Arquivo do blog