segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Museu do Ceará
FOTOS: FABIANE DE PAULA
Pelos corredores do local passam, todos os dias, estudantes, pesquisadores e turistas
Inaugurado há 80 anos, o local é considerado um dos mais importantes pontos de difusão da história local
Ele já é um senhor de idade. Aos 80 anos, carrega tanto os problemas físicos quanto o rico conteúdo típico das idades avançadas. Entre problemas e conquistas, o Museu do Ceará segue como uma das instituições mais importantes para a preservação e difusão da história do Estado.
Primeiro museu criado pelo governo estadual, hoje seu acervo chega a quase 15 mil peças, entre roupas, mobília, pinturas, fotografias, moedas, documentos, armas, objetos religiosos e outros artefatos - com destaque para as coleções de arqueologia e antropologia indígena e, claro, para o corpo empalhado do famoso Bode Ioiô.
Sede do Sistema Estadual de Museus (SEM-CE), o Museu do Ceará é um dos mais ativos, tanto pela programação de mostras temporárias e permanentes quanto de formação - desde a visitação de estudantes até a formação de professores e profissionais da área de museologia, além da manutenção de uma linha de publicações.
O impacto, porém, ocorre mesmo antes de entrar, no encontro com a fachada do Palacete Senador Alencar, que abriga o Museu. Construído em 1871 para sediar a Assembleia Provincial do Estado, o prédio destaca-se pela imponência das colunas, janelas e da escadaria interna, em estilo neoclássico.
O Palacete integra o conjunto de edificações do Centro histórico de Fortaleza, formado pela Igreja do Rosário, a Praça General Tibúrcio e o Palácio da Luz, entre outras. Antes de acolher o Museu do Ceará, foi ocupado pelo Liceu do Ceará, o Fórum, o Tribunal Regional Eleitoral, a Faculdade de Direito, a Biblioteca Pública, o Instituto do Ceará e a Academia Cearense de Letras.
Início
À época denominado Museu Histórico do Ceará, a instituição foi criada em 3 de fevereiro de 1932, pelo decreto nº 479, como parte do Arquivo Público do Estado. Seu organizador e primeiro diretor foi o historiador Eusébio Néri Alves de Sousa, responsável pelo cargo até 1942.
A inauguração e abertura ao público, no entanto, aconteceram apenas no ano seguinte, quando passou a funcionar em um prédio na esquina das ruas 24 de Maio e Liberato Barroso. Em meados do ano seguinte, foi transferido para a Avenida Alberto Nepomuceno (vizinho à Praça da Sé, onde permaneceu até 1957). Até chegar ao Palacete, em 1990, o Museu do Ceará passou por outros três endereços.
Desde a gestão de Eusébio de Sousa - quando as propostas de exposições não seguiam recortes temáticos ou de espaço e tempo, mas resumiam-se à reunião tipológica de objetos - o trabalho desenvolvido no Museu avançou muito. Após ser desvinculado do Arquivo Público, foi filiado ainda ao Instituto do Ceará, quando é revestido de um caráter regional, com o objetivo de documentar fatos do Nordeste e, em especial, do Ceará.
O responsável pela transformação foi Raimundo Girão, que futuramente ocuparia a cadeira de diretor do Museu. Entre as mudanças empreendidas, ele incorporou ao acervo objetos do Museu do Instituto do Ceará, entre os quais a coleção Thomaz Pompeu Sobrinho. Também adquiriu a colação de antropologia indígena pertencente ao Museu Rocha. O trabalho de reorganização teve a importante colaboração da historiadora Valdelice Girão. Nesse momento, acontece o primeiro tombamento do acervo, em 1959.
Em 1966, o Museu passa a integrar a recém-criada Secretaria da Cultura do Estado. Cinco anos depois, a instituição é assumida pelo professor Osmírio de Oliveira Barreto, quando a relação com a comunidade foi substancialmente melhorada, através de projeto que levava apresentações do Museu para as escolas da Capital e Região Metropolitana de Fortaleza.
Entre as décadas de 90 e 2000, acontecem novas conquistas importantes para o Museu do Ceará, sob as gestões de diferentes diretores. Valéria Laena, por exemplo, iniciou um programa de restauração de algumas coleções e objetos do acervo. À época, também são criadas a Associação dos Amigos do Museu do Ceará, a reserva técnica (com peças do acervo que são revezadas em exposições) e o núcleo educativo.
Já a historiadora Berenice Abreu teve uma administração voltada a ações de cunho social, com trabalhos envolvendo crianças de rua e cursos de montagem de exposições e de formação de guias em bairros da periferia.
A partir de 2000, o historiador Régis Lopes assume a direção do Museu, marcada por um programa integrado de atividades, entre elas a criação do laboratório de Museu e memória na História Social, pesquisas sobre o acervo e a montagem da exposição de longa duração "Ceará: história no plural".
Hoje uma das principais exibições permanentes do Museu, é composta por oito módulos temáticos, a exemplo de "Memórias do Museu" (com documentos sobre a trajetória da instituição); "Artes da escrita" (com peças relacionadas a escritores cearenses); "Escravidão e abolicionismo"; "Padre Cícero: mito e rito"; "Caldeirão: fé e trabalho" (com objetos que pertenceram ao líder da comunidade religiosa, beato José Lourenço); e "Fortaleza: imagens da cidade" (onde fica o tal Bode Ioiô).
Outro destaque oriundo da gestão de Lopes foi o Memorial Frei Tito, inaugurado em 2002, com objetos e documentos relacionados à vida do religioso que lutou contra o Regime Militar.
Em 2008, a historiadora Cristina Rodrigues Holanda assume o cargo, de cujo trabalho destaca-se a realização de novas exposições e a aproximação de reivindicações de grupos étnicos e tradicionais - estratégia que rendeu publicações específicas, seminários e a reorganização de um módulo sobre povos indígenas, pertencente à exposição de longa duração "Ceará: história no plural".
ADRIANA MARTINS
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