OPINIÃO
Na história sociocultural de Angola, existe um conceito filosófico que norteia o preceito cultural nacional, contribuindo para o modus vivendi do cidadão, na base de uma visão humanista, de solidariedade, amor ao próximo e ao bem comum.
Esse conceito reside na palavra angolanidade, formada por sufixação. A expressão, a dado passo da nossa história política e cultural, emergiu; e ao longo do tempo, ganha formulações de capital interesse para a compreensão dos desígnios do povo angolano.
A Angolanidade é um conceito de elevado primor, deve ser público, compreendido e amparado para que cada um de nós, encontre, na sua vivência, a base sustentável de identificação nacional, baseada no princípio filosófico nacional, actual e sustentável, para que na formulação de políticas sociais, culturais e mesmo económicas, se tenham bem vivos os valores que norteiam o ser angolano.
É exactamente na base desse pressuposto que deve existir a nossa visão de nação. Visão essa, plasmada acima de tudo, pelo olhar da cultura nacional, já que a cultura é o dia-a-dia de um povo, como diz o escritor angolano Luandino Vieira.
É exactamente no capítulo dos estudos da literatura angolana onde o conceito em apreço emergiu, talvez por ser uma disciplina auxiliar da filosofia.
Alfredo Margarido, escritor Português, estudioso das literaturas africanas, em l96l, escreveu um “ ensaio significativo” sobre a poesia de Agostinho Neto em que “propunha a utilização do conceito de angolanidade, para definir a substância nacional angolana”(l980: 5). O conceito foi, nesse momento, pela primeira vez, inserido num texto escrito. O escritor Costa Andrade escreveria igualmente, logo a seguir, um artigo dedicado a “Dois poetas da angolanidade”(l962: 76-9l), encomendado por Mário Pinto de Andrade que preparava então um dos números da revista Présence Africaine consagrado a Angola. Numa entrevista concedida ao autor destas linhas, Costa Andrade afirmava que “a ideia de angolanidade como formulação da palavra em si(...) é de l959”.
Na sua “Introdução a um colóquio sobre poesia angolana”, Agostinho Neto lamentava em l960, o risco da assimilação e da desreferencialização dos intelectuais angolanos que “(...) perturbados pelo processo de coisificação, esqueceram por muito tempo que existia a civilização africana” (Luís Kandjimbo, Ler: Apologia de kalitangi).1 A palavra angolanidade, ao longo da história, ganha várias abordagens, quer do ponto de vista antropológico, sociólogo, literário e etc. Abordagens essas, vindas de cientistas sociais angolanos como Mário Pinto de Andrade, Luis Kandjimbo, Victor kajibanga, etc, e portugueses como o ensaísta Manuel Jorge e Alfredo Margarido e etc.
Para Mário Pinto de Andrade, “...
a angolanidade requer enraizamento cultural das comunidades humanas, abraça e ultrapassa dialecticamente os particularíssimos das regiões e das etnias, em direcção à nação.
Ela opõe-se a todas as variantes de oportunismo (com as suas evidentes implicações políticas) que procuram estabelecer uma correspondência automática entre a dose de melanina e dita autenticidade angolana. Ela é, pelo contrário, linguagem da historicidade dum povo”.2 Para o ensaísta português Manuel Jorge, a “ Angolanidade deve construir-se a partir dos elementos concretos da sua manifestação, e não como um esforço de negação de uma realidade cultural imposta, mas como esforço de afirmação de uma realidade cultural nova, nascida do cruzamento das civilizações e das suas obras (…)”. Pois, segundo ele, a “Angolanidade constrói-se com tudo o que a historia legou ao povo angolano: o substrato negro-africano, e os elementos da cultura dominante que através dos séculos penetraram até ao mais fundo do consciente popular”3.
Neste capitulo o ensaísta angolano Luís kandjimbo, apresenta-nos um estudo de obrigatória referência, intitulado “O ENDOGENO E O UNIVERSAL NA LITERATURA ANGOLANA”, comunicação apresentada no painel cultural do Seminário sobre a Realidade Política, Económica e Cultural de Angola, Paris 6-9 de Novembro, realizado pela embaixada de Angola em Franca por ocasião da festa nacional.
Para L. kandjimbo “(…)no discurso cultural angolano, a problemática do endógeno e do universal revela-se no debate que se trava no âmbito do discurso crítico literário, em torno de dois conceitos, que se constituem ao mesmo tempo em paradigmas para o discurso crítico: Angolanidade e Crioulidade”.
O conceito de Crioulidade, segundo ele, “é uma forma semiofágica, alterofágica, relativista e eurocêntrica de compreender o mundo angolano.
Representa, por isso, uma corruptela da expressão do universal, ao fazer apelo a ressonância da visão imperial do colonialismo português em Angola”.
Ao contrário do conceito de crioulidade, argumenta o ensaísta angolano, “o conceito de angolanidade, apresenta-se como um conceito aberto, marcado pela universalidade.
Torna defensável o pluralismo cultural. É revelador da necessidade do diálogo intercultural. Nega a pureza das culturas. Faz apologia da resistência à penetração da visão colonial e luso-tropicalista que vai sobrevivendo ainda hoje”.
“O conceito de angolanidade enraíza-se numa dimensão ontológica como pressuposto para a produção de um discurso teórico-literário.
Congloba não só os resultados das estratégias de enunciação literária em língua portuguesa. Incorpora ainda o sistema semiótico da oralidade, onde imperam, códigos diferentes, nomeadamente paralinguísticos, cinésicos, proxémicos, lúdicos, etc.
(…)”, acrescenta Para o conceito “estratégico de Angolanidade”, aquele notável ensaísta angolano, recomenda reunir “todas as características para fundar uma teoria geral explicativa, introduz processos de categorização que, por operar com elementos da cultura angolana e não apenas com alguns dos seus elementos contingentes e supérfluos, têm de responder aos desafios e tentações hegemónicas de outras teorias consagradas pela historia do colonialismo em Angola,4 por exemplo, a teoria do luso-tropicalismo e a teoria da crioulidade. Por outras palavras, diremos que a teoria da angolanidade há-de obedecer aos imperativos de uma descolonização epistemológica, exigindo, no plano intelectual, a elaboração de «conceitos hemeomorfos», para empregar uma expressão de Raimundo Panikkar(…)”.
Pombal Maria
Escritor - Alfredo Margarido
Na história sociocultural de Angola, existe um conceito filosófico que norteia o preceito cultural nacional, contribuindo para o modus vivendi do cidadão, na base de uma visão humanista, de solidariedade, amor ao próximo e ao bem comum.
Esse conceito reside na palavra angolanidade, formada por sufixação. A expressão, a dado passo da nossa história política e cultural, emergiu; e ao longo do tempo, ganha formulações de capital interesse para a compreensão dos desígnios do povo angolano.
A Angolanidade é um conceito de elevado primor, deve ser público, compreendido e amparado para que cada um de nós, encontre, na sua vivência, a base sustentável de identificação nacional, baseada no princípio filosófico nacional, actual e sustentável, para que na formulação de políticas sociais, culturais e mesmo económicas, se tenham bem vivos os valores que norteiam o ser angolano.
É exactamente na base desse pressuposto que deve existir a nossa visão de nação. Visão essa, plasmada acima de tudo, pelo olhar da cultura nacional, já que a cultura é o dia-a-dia de um povo, como diz o escritor angolano Luandino Vieira.
É exactamente no capítulo dos estudos da literatura angolana onde o conceito em apreço emergiu, talvez por ser uma disciplina auxiliar da filosofia.
Alfredo Margarido, escritor Português, estudioso das literaturas africanas, em l96l, escreveu um “ ensaio significativo” sobre a poesia de Agostinho Neto em que “propunha a utilização do conceito de angolanidade, para definir a substância nacional angolana”(l980: 5). O conceito foi, nesse momento, pela primeira vez, inserido num texto escrito. O escritor Costa Andrade escreveria igualmente, logo a seguir, um artigo dedicado a “Dois poetas da angolanidade”(l962: 76-9l), encomendado por Mário Pinto de Andrade que preparava então um dos números da revista Présence Africaine consagrado a Angola. Numa entrevista concedida ao autor destas linhas, Costa Andrade afirmava que “a ideia de angolanidade como formulação da palavra em si(...) é de l959”.
Na sua “Introdução a um colóquio sobre poesia angolana”, Agostinho Neto lamentava em l960, o risco da assimilação e da desreferencialização dos intelectuais angolanos que “(...) perturbados pelo processo de coisificação, esqueceram por muito tempo que existia a civilização africana” (Luís Kandjimbo, Ler: Apologia de kalitangi).1 A palavra angolanidade, ao longo da história, ganha várias abordagens, quer do ponto de vista antropológico, sociólogo, literário e etc. Abordagens essas, vindas de cientistas sociais angolanos como Mário Pinto de Andrade, Luis Kandjimbo, Victor kajibanga, etc, e portugueses como o ensaísta Manuel Jorge e Alfredo Margarido e etc.
Para Mário Pinto de Andrade, “...
a angolanidade requer enraizamento cultural das comunidades humanas, abraça e ultrapassa dialecticamente os particularíssimos das regiões e das etnias, em direcção à nação.
Ela opõe-se a todas as variantes de oportunismo (com as suas evidentes implicações políticas) que procuram estabelecer uma correspondência automática entre a dose de melanina e dita autenticidade angolana. Ela é, pelo contrário, linguagem da historicidade dum povo”.2 Para o ensaísta português Manuel Jorge, a “ Angolanidade deve construir-se a partir dos elementos concretos da sua manifestação, e não como um esforço de negação de uma realidade cultural imposta, mas como esforço de afirmação de uma realidade cultural nova, nascida do cruzamento das civilizações e das suas obras (…)”. Pois, segundo ele, a “Angolanidade constrói-se com tudo o que a historia legou ao povo angolano: o substrato negro-africano, e os elementos da cultura dominante que através dos séculos penetraram até ao mais fundo do consciente popular”3.
Neste capitulo o ensaísta angolano Luís kandjimbo, apresenta-nos um estudo de obrigatória referência, intitulado “O ENDOGENO E O UNIVERSAL NA LITERATURA ANGOLANA”, comunicação apresentada no painel cultural do Seminário sobre a Realidade Política, Económica e Cultural de Angola, Paris 6-9 de Novembro, realizado pela embaixada de Angola em Franca por ocasião da festa nacional.
Para L. kandjimbo “(…)no discurso cultural angolano, a problemática do endógeno e do universal revela-se no debate que se trava no âmbito do discurso crítico literário, em torno de dois conceitos, que se constituem ao mesmo tempo em paradigmas para o discurso crítico: Angolanidade e Crioulidade”.
O conceito de Crioulidade, segundo ele, “é uma forma semiofágica, alterofágica, relativista e eurocêntrica de compreender o mundo angolano.
Representa, por isso, uma corruptela da expressão do universal, ao fazer apelo a ressonância da visão imperial do colonialismo português em Angola”.
Ao contrário do conceito de crioulidade, argumenta o ensaísta angolano, “o conceito de angolanidade, apresenta-se como um conceito aberto, marcado pela universalidade.
Torna defensável o pluralismo cultural. É revelador da necessidade do diálogo intercultural. Nega a pureza das culturas. Faz apologia da resistência à penetração da visão colonial e luso-tropicalista que vai sobrevivendo ainda hoje”.
“O conceito de angolanidade enraíza-se numa dimensão ontológica como pressuposto para a produção de um discurso teórico-literário.
Congloba não só os resultados das estratégias de enunciação literária em língua portuguesa. Incorpora ainda o sistema semiótico da oralidade, onde imperam, códigos diferentes, nomeadamente paralinguísticos, cinésicos, proxémicos, lúdicos, etc.
(…)”, acrescenta Para o conceito “estratégico de Angolanidade”, aquele notável ensaísta angolano, recomenda reunir “todas as características para fundar uma teoria geral explicativa, introduz processos de categorização que, por operar com elementos da cultura angolana e não apenas com alguns dos seus elementos contingentes e supérfluos, têm de responder aos desafios e tentações hegemónicas de outras teorias consagradas pela historia do colonialismo em Angola,4 por exemplo, a teoria do luso-tropicalismo e a teoria da crioulidade. Por outras palavras, diremos que a teoria da angolanidade há-de obedecer aos imperativos de uma descolonização epistemológica, exigindo, no plano intelectual, a elaboração de «conceitos hemeomorfos», para empregar uma expressão de Raimundo Panikkar(…)”.
Pombal Maria
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