DIÁRIO DA MANHÃ
JOÃO JOAQUIM DE OLIVEIRA
Aristóteles, um dos grandes sábios e filósofos gregos afirmava que a felicidade consistia não em prazer ou bens materiais, mas acima de tudo na prática da virtude. Platão e seu mestre Sócrates foram outros gigantes da filosofia que ensinavam a busca do que é bom, belo e justo como expedientes que enobreceriam a pessoa humana.
Hoje aqui no Brasil, se alguém saísse em público e apregoasse essas atitudes, certamente seria chamado de trouxa ou careta, tal o clima de apodrecimento ético e moral que permeia nossa sociedade.
Quando a gente olha para trás, para nossa história, podemos perceber que a desonestidade, o embuste, as iniciativas corruptas fazem parte de nossa cultura. Elas vieram com os colonizadores portugueses e outros imigrantes que aqui se aportaram. Caso dos franceses, holandeses, etc. O próprio padre jesuíta Antonio Vieira (1608-1697), em seus sermões falava lá pelos idos de 1600, das práticas não probas daqueles tempos, como se fosse hoje.
Mas, fica a indagação: o Brasil sai do século XX, de tanta evolução e conquistas sócioculturais e mergulha no século XXI, num moto-contínuo de tantos avanços. Mas, e esses vícios e desvios de conduta? Pior, aumentaram na mesma toada de todo o progresso. Dá para entender tal inversão de valores? Será que o ser humano paralelamente à sua diferenciação racional e intelectual, vem perdendo o senso e o valor construtivo da ética e da moral? Numa percepção rasa e imediatista é o que parece. Há quem defenda uma tese de que o mau-caratismo, o jeitinho desonesto e corrupto do brasileiro tem mesmo origem com muitos imigrantes que aqui desembarcaram. Portugal, nosso colonizador, para cá embarcou milhares de pessoas em débito com a Justiça. Estas pessoas vieram numa espécie de castigo, para enfrentarem as cruezas e ameaças que eram doenças, índios nativos (os legítimos donos do Brasil) e outras feras deste território ainda todo selvagem. Esses primeiros habitantes, ao que contam, foram como que os mestres de toda forma de desonestidade, malandragem e corrupção.
Trata-se de uma tese até plausível que justifica muitos de nossos costumes não éticos e desonestos de se viver. A própria “descoberta” e invasão destas terras por Cabral e sua comitiva já foi uma espécie de violência e usurpação aos povos indígenas, nativos e primeiros legítimos donos do Brasil.
Gaiata ou realística deixemos esta consideração de lado e vamos a pensamentos e proposições de aceite mais universal. Filósofos gregos como o próprio Aristóteles e Pitágoras afirmavam que a consciência e prática da honestidade e da ética se adquirem pelo ensinamento e exercício destas virtudes. De fato, temos que nos vergar a estas prédicas considerando como sendo estes atributos do caráter um aprendizado desde os primeiros anos de vida. Sendo marcas e signos do comportamento humano, devem compor a educação da pessoa humana o mais precoce possível. Noutras palavras, a criança não nasce sabendo discernir o que é ético e não ético, o certo do errado, o que se deseja e deve fazer. É o princípio QPD, quero e posso, mas devo fazer? São ensinamentos que devem ser inseridos na conduta dos filhos desde o berço. A criança tem que receber de forma sistemática essas diretrizes pelos pais, pelos cuidadores, pela escola de forma contínua, num efeito a lhe imprimir o valor e cultura de todas as atitudes que a torne consciente de seus deveres e direitos, esteja ela no meio familiar ou social qualquer. São os chamados limites impostos à criança. Hoje temos assistido um desleixo desses princípios. Nossos filhos e alunos têm sido criados sem a pedagogia destes valores, tão construtivos e determinantes na índole da pessoa humana.
No caso do Brasil, eu acredito que a desonestidade, o famoso jeitinho trambiqueiro e de levar vantagem em tudo tem a ver com toda a educação que os brasileiros recebem da família e escolas. Tirante a questão educacional não podemos esquecer as nossas leis que sempre foram muito brandas e com cláusulas protetoras aos agentes desonestos e corruptos. Além dos péssimos exemplos de nossos políticos, eles próprios os redatores das leis.
Nós só vamos mudar a fama e o escarninho folclore de País entre os mais desonestos do mundo com a pedagogia de berço da ética e da moral. A par desta consciência, a eleição de gestores públicos probos e honestos; e uma legislação mais clara e rígida com os delitos de toda ordem, não importando se o desonesto é pé-de-chinelo ou gravata importada da França.
(João Joaquim de Oliveira, médico; cronista do DM, e-mail: joaomedicina.ufg@gmail.com)
Yes!!! Finalmente, sensatez!
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