domingo, 25 de agosto de 2013

Análise de 1940 a 1970: Espaços e Desafios das Mulheres Construtoras da Educação no Município de Codó _MA


Análise de 1940 a 1970: Espaços e Desafios das Mulheres Construtoras da Educação no Município de Codó-Ma

por Maria Alda Pinto Soares

Sobre a autora[1]

1 INTRODUÇÃO

Pesquisar sobre a história da educação de Codó não é tarefa fácil, uma vez que, não existem muitos registros acerca desta, principalmente quando se trata das escolas normais Ginásio Codoense e Instituto Magalhães de Almeida- primeiras instituições formadoras de professores do município- fechadas há muito tempo, não se sabe ao certo onde foram guardados os seus registros do tempo de funcionamento destas. Os poucos materiais de pesquisa são alguns manuscritos contidos nos arquivos do Grupo Escolar Colares Moreira (primeira escola primária e ginasial de Codó). Outro fator que dificulta o trabalho é a ausência de arquivos sobre a trajetória educacional do município na prefeitura e secretaria municipal de Educação.

Sendo assim, e não de menor importância, a presente pesquisa está metodologicamente fundamentada na História Oral valendo-se de entrevistas realizadas com dois ilustres professores da cidade de Codó- MA, a citar orgulhosamente, a professora Luiza D lly Alencar de Oliveira e o professor Carlos Gomes da Silva, que contribuíram significativamente para o desenvolvimento deste trabalho, através de suas célebres e vivas memórias, além da disponibilização de alguns arquivos pessoais. Outras fontes importantíssimas para o presente artigo foram dois livros do professor Carlos Gomes da Silva, Escritos Avulsos e Codoenses & Não Codoenses , infelizmente, ainda não lançados; e o livro Codó, histórias do fundo do baú , do querido escritor João Batista Machado.

Portanto, apresentamos aqui uma breve análise dos anos 1940 a 1970 no município de Codó através de um estudo sobre os espaços e desafios das mulheres construtoras da educação no município de Codó- MA.

2 AS ESCOLAS NORMAIS E A FEMINIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO

A criação das escolas normais inicia uma nova etapa no processo de institucionalização da profissão docente, demarcado por um dualismo: de um lado, o controle estatal se faz mais restrito; de outro, os docentes, de posse de um conhecimento especializado, melhoravam o seu estatuto sócio-profissional.

No Brasil, esse processo de institucionalização da formação docente teria início a partir da década de 30 e 40 do século XIX, com o surgimento das primeiras escolas normais provinciais, a serem citadas, da província de Minas Gerais (1835), da província do Rio de Janeiro (1835), da província da Bahia (1836) e da província de São Paulo (1846), criadas por consequência do Ato Adicional de 1834. No entanto, apesar do pioneirismo, durante todo o século XIX, esse tipo de formação se caracterizaria por um ritmo alternado de avanços e retrocessos, de acordo com Luciano Mendes de Faria Filho (2007), em seu artigo Instrução elementar no século XIX.

Na década de 30, quando surgiram as primeiras escolas normais no Brasil, já havia em muitas províncias algumas escolas de meninas. Ao que tudo indica, destinavam-se mais ao ensino de prendas domésticas, às orações e aos rudimentos de leitura. As mulheres deveriam aprender a ler e escrever e fazer as quatro operações. A concepção de um currículo diferenciado relacionava-se ao papel reservado à mulher numa sociedade de costumes patriarcais e aos preconceitos quanto à sua capacidade intelectual.

O sexo feminino fazia parte do imbecilitus sexus , ou sexo imbecil. Uma categoria à qual pertenciam mulheres, crianças e deficientes mentais e eram comuns a pronúncia de ditados preconceituosos contra a mulher, retratados e potencializados aqui no Brasil, desde a colônia pelos portugueses, como por exemplo, mulher que sabe muito é mulher atrapalhada, para ser mãe de família, saiba pouco ou saiba nada . A mulher honrada deve ser sempre calada , Contente-se com as contas do rosário , do poeta português Gonçalo Trancoso, conhecido como um zeloso moralista e praticante de uma supersticiosa religiosidade da época. Portanto, desmerecendo a capacidade intelectual do sexo feminino.

No século XX, a escola sofre processos de profunda e radical transformação. A educação abre um lugar para as massas, pois, a escola ao nutrir-se de um forte ideal libertário, dá vida a novas experiências escolares, impondo-se como instituição-chave da sociedade democrática. Assim, a prática educativa voltou-se para o sujeito mais humano, onde apareceram então, em nossa história, novos protagonistas: a criança, o deficiente e a mulher, dando vida a um processo de socialização destas.

Segundo Heloisa VILLELA (2007):

O novo estatuto social feminino no magistério fez também emergir mecanismos de controle e discriminação contra as mulheres e enraizar ideologias de domesticidade e maternagem [...] Entretanto, como contrapartida feminina, essa ideologia foi utilizada como um elemento de resistência, pois, atacando tal discurso, as mulheres desimpediam o caminho para sua rápida inserção profissional. (Pág.120).

De acordo com Constância Lima DUARTE (2007) Os novos ventos trouxeram educadoras portuguesas e francesas para as meninas das famílias mais abastadas e, lentamente, foi deixando de ser uma heresia social o ato de se instruir e ilustrar alguém do sexo feminino (Pág. 293). Assim, temos estas educadoras como as primeiras preceptoras na educação feminina no Brasil, vindas de várias partes da Europa, eram encomendadas por famílias ricas, que inicialmente, e por um longo tempo, moraram e educaram nas casas de muitas famílias de elite.

A bandeira de luta pela educação das mulheres foi abraçada por aquelas que haviam conseguido romper o preconceito e destacar-se. Num espaço de cinco décadas, uma profissão quase que exclusivamente masculina tornar-se-ia prioritariamente feminina, sendo que a formação profissional possibilitada por essas escolas teria papel fundamental na luta das mulheres pelo acesso a um tratamento digno e remunerado.

3 MULHERES CONSTRUTORAS DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE CODÓ-MA: A memória viva de nossos professores.

Segundo relata o escritor João Batista Machado em seu livro Codó, histórias do fundo do baú , a primeira escola primária em Codó, ainda no tempo de vila, surgiu em 1852, sob a direção do professor Hermenegildo Estevão Sousa. No entanto, os cargos de direção e magistério foram ao longo do tempo, assumidos essencialmente por mulheres. Estas vinham principalmente do estado do Piauí e da cidade de Caxias- MA, pois, sendo Codó fundado em 16 de Abril de 1896, ainda não possuía nenhum colégio de formação de professores. Esta só surgiria anos mais tarde com a criação do Ginásio Codoense em 1952, sob a responsabilidade da professora Carmem Palácio Lago- sendo então a primeira escola normal de Codó- e do Instituto Magalhães de Almeida. Com o crescimento da cidade e com o objetivo de uma educação melhor para os estudantes codoenses, a professora Filomena Catarina Moreira, a primeira normalista importada para Codó, iniciou a sua brilhante carreira, na qual enfrentou muitos desafios, pois, além de mulher, Filomena Catarina era negra, fato importuno num país que há poucos passara pela abolição da escravatura.

Na história da Educação Codoense, ainda constam mais nomes importantes; nomes estes apresentados no livro Codoenses & Não Codoenses , ainda não publicado, do professor Carlos Gomes da Silva, sendo fruto de cinquenta anos de experiência em diversas atividades profissionais, como, serventuário da justiça, bancário, magistério em escolas públicas e particulares, secretário de educação, dentre outros. São estes nomes, algumas e importantíssimas mulheres de nossa história: Mariquinha Alvim d Aguiar Silva, Maria José Siqueira, das irmãs Maria Alice Machado e Nair Machado, Maria Elisa Machado Veras, Neyde Magalhães, Afir Lia Ribeiro, Opala Gomes, Cacilda Meneses, Ivete Araújo, Amódoce Ximenes, Carmem Palácio Lago, Clinaura Freitas, Luiza D lly Alencar de Oliveira, Silene Gomes de Oliveira, Crisantina Monturil Terto, Maria do Socorro Farias, Maria da Luz, Socorro Silva, Ruth Araújo, Eva Gomes, Almerinda Bayma, Maria Evarista de Sousa Barros, Maria de Jesus Silveira Siqueira, Maria Judith Dias Salazar, como destaques na arte de ensinar. Para este momento, elencamos em especial, algumas professoras deste belo grupo para aprofundar nosso conhecimento sobre sua vida magisterial. São elas:

Filomena Catharina Moreira

Filomena Catarina nascida em 25 de Novembro de 1886 (não se tem registros sobre a sua cidade natal), chegou em Codó no dia 18 de Julho de 1908 a convite do Sr. Raimundo Bayma, então responsável pelo desenvolvimento da cidade. Filomena Catharina Moreira foi professora de toda uma geração de codoenses, que a partir de seu curso primário na Escola Mista César Brandão, seguiram carreira sem nunca esquecer de mencionar a origem de seus primeiros passos. Entre eles, podemos citar, o Padre José de Ribamar Carvalho, um dos filhos mais ilustres da cidade, exerceu os cargos públicos de maior notoriedade no Estado, foi secretário de Educação do Estado do Maranhão, Professor e Reitor da Universidade Federal do Maranhão.

A professora Filomena Moreira educou com os princípios de seu tempo, num processo de formação que visava à consciência da dignidade pessoal, responsabilidade pelas atitudes socialmente assumidas, compromisso com princípios éticos, preocupação com o ser próprio e com o outro.

O currículo adotado por Filomena Moreira abrangia o estudo das disciplinas formais dos conteúdos de português, matemática, geografia, história, prendas femininas, educação física, desenho. Ela dedicava um lugar especial para a música, tocava bandolim, entoava canções da época e dava exemplo de convivência familiar com sua mãe que lhe educara sozinha.

A professora Filomena vivia na própria escola em que acolhia os seus alunos. Era uma casa grande, espaçosa, de compartimentos amplos, além de salas de aula havia salões de convivência, quintal imenso, com árvores frutíferas, algumas criações de animais e cultivos de plantas. Alimentava harmonia no clima adequado para preparar as pessoas para a vida.

Maria Alice Machado

Filha de Marcelino da Cunha Machado e Raimunda Viana Machado, nasceu em 13 de Janeiro de 1910 na cidade de Altos- PI e faleceu em 05 de Fevereiro de 2000. Iniciou o curso primário em Altos, posteriormente concluído em Teresina, onde também cursou o Pedagógico na Escola Normal Antônio Freire.

Em 1931, começou sua longa jornada. Foi lecionar em Beneditinos, Piauí, em substituição a sua ex-professora, Hilda Ribeiro, esposa do Juiz de Direito daquela Comarca. A satisfação do pessoal de Beneditinos durou pouco, pois, em 1933 foi transferida para Natal, hoje Monsenhor Gil- PI. A cidade de Beneditinos fez um abaixo-assinado, mas o Diretor de Instrução Pública, Dr. Benedito Napoleão, não o aceitou, alegando que sua presença em Natal era de suma importância para a educação daquele povo. Dali, em 1934, foi transferida para Miguel Alves, permanecendo até meados de julho de 1935.

Não era fácil ser escolhido professor. Falou Maria Alice numa entrevista a Revista Leia Hoje (2000):

O governo publicava no Diário Oficial do Estado, as vagas existentes, por cadeiras, onde quer que as houvesse. Só em povoados, designava-se 1ª entrância; vilas, 2ª entrância e cidades, 3ª entrância. Os concorrentes enviavam dois envelopes; no primeiro dava-se preferência a entrância, no segundo colocava-se o curriculum e o diploma, mencionado as cadeiras pretendidas. Após 45 dias, o governador, somente ele, abria os envelopes, nomeava os vencedores para suas respectivas entrâncias.

Somente em Julho de 1935, Maria Alice chega a Codó a pedido do chefe político Honorino Silva, para lecionar no Grupo Escolar Colares Moreira. Porém em 1937, foi transferida para Picos, mas, ainda retorna a Codó em Agosto de 1938, onde atuou como diretora.

Entre os alunos de Maria Alice Machado, segue uma lista de nomes importantes na história de Codó, posteriormente professores, donos de escolas, médicos e políticos da cidade, a citar, Reinaldo Zaidan, Pedro Saads, Sebastião Murad, Julio Salem, Biné Figueiredo, Renê Bayma, Maria Eliza Saads, Maria Alice Machado Veras, entre tantos outros. Na administração de Reinaldo Zaidan, a professora foi homenageada, dando o seu nome a uma das ruas de nossa cidade. Também na administração de Dr. Antônio Joaquim Araújo, foi construída a Escola Municipal Maria Alice Machado. Essas homenagens constituíram uma forma de demonstrar o apreço pelo comprometimento e seriedade do trabalho desta docente para com o estudante codoense.

Numa conversa com o professor Carlos Gomes, ela assim respondeu ao ser elogiada por ele:

Professor, não fui e nem sou competente. Não fiz nada a mais e nem melhor que as minhas colegas. Se hoje voltasse a escola, não saberia mais dar uma aula. Já estou um pouco esquecida. Hoje, aposentada, vivo procurando recordar na memória, a grande saudade que sinto do grande número de filhos que tive, os quais são meus queridos ex-alunos.

Neide Magalhães

Filha de Jonatha Mesquita Magalhães e de Aledes Pereira Magalhães nasceu em Caxias onde realizou os seus primeiros estudos e se diplomou em Professora Normalista em 1938. Exerceu vários cargos públicos na área da educação, a citar, Secretária de Educação do município de Codó, Diretora Regional de Educação e por longos anos Diretora do Grupo Escolar Raimundo Muniz Bayma, quando se aposentou.

Mãe do médico e ex-prefeito da cidade de Codó Antônio Joaquim Araújo Filho, do engenheiro Danilo Celso Magalhães Araújo, Raimundo Leonel Araújo e de Cleide Maria Magalhães Araújo. Faleceu em 04 de Fevereiro de 1990.

Maria Elisa Machado Veras

Filha do casal Alay da Cunha Machado e de Maria Rita Araújo Machado. Cursou o primeiro grau menor no Grupo Escolar Colares Moreira e o primeiro grau maior em Teresina-Pi, na Escola Normal Antonino Freire. Diplomou-se em Professora Normalista pela Escola Normal Antonino Freire, após um curso realizado de 1969 a 1971.

Carmem Palácio Lago

A menina Carmem, de família humilde, nasceu na manhã de uma quinta-feira, 17 de outubro de 1912, no povoado Bonfim, no município de Codó, filha de José Raimundo Lago e Hermínia Palácio Lago. Iniciou os seus estudos aos sete anos na antiga Escola Estadual Singular, mais tarde Escola Ferreira Bayma, atualmente Unidade Escolar Colares Moreira . A ilustre Mestra Filomena Catarina Moreira foi a sua primeira professora. Concluiu com brilhantismo o antigo primário, na sua terra natal.

Parou os estudos por algum tempo, devido não existir Curso Ginasial em Codó. Cedo, ainda, começou a lecionar como professora leiga , na Escola Gomes de Sousa, criada na gestão do prefeito Ramos Pires. Em 1935, foi para São Luis reiniciar os estudos; preparou-se para o Exame de Admissão, sendo aprovada com excelentes notas. Com dois anos apenas, cumpriu toda a carga horária correspondente ao antigo ginásio. Em 1941, conclui com destaque o Curso Normal.

Já diplomada em 1942, retornou a Codó, passando a lecionar em várias escolas na sede, inclusive na zona rural (Povoado Cocos). Em abril de 1947 a Escola Luis Rêgo passou a denominar-se de Grupo Escolar João Ribeiro, onde lecionou por algum tempo, até ser designada diretora da referida escola, substituindo a professora Marita Bayma. Em 1952 foi fundadora do antigo Ginásio Codoense; membro do Conselho da CNEC local. Além de Professora de História do mesmo colégio até a década de 1970, teve uma participação muito significativa na criação da Escola Normal Ginasial de Codó, em 1965 e foi escolhida como diretora. Em 1984, a Escola Normal Ginasial de Codó recebeu uma nova denominação, de Colégio Imaculada Conceição de Maria e continuou na sua direção por muito tempo.

Sendo filha de político, não fugiu a regra. Atuou como vereadora na legislatura 1965 a 1970, e representou com muita dignidade e altruísmo a mulher codoense na Câmara Municipal. Ainda, como política, foi candidata à vice-prefeita em 1982 na chapa encabeçada por José Inácio Guimarães Rodrigues, defendendo sempre a sigla partidária do PMDB. Professora Carmita, como era chamada carinhosamente, mesmo aposentada, continuou falando sempre em Educação, sua filosofia de vida. Na administração do Prefeito Antonio Joaquim, a ilustre professora foi homenageada com a construção de uma escola, à Rua Valter Zaidan, ostentando o seu nome.

Luiza D lly Alencar de Oliveira

Nasceu na cidade de Água Branca, filha de Luis Carlos Alencar e de Adália Anália Alencar. Casada com Evanildo Gomes de Oliveira. Dedicada aos estudos, iniciou a sua formação escolar no Grupo Colares Moreira. Em seguida, cursou o Ginásio Codoense e o 2º Grau na Escola Técnica de Comércio do Maranhão, onde concluiu o curso Técnico em Contabilidade e na Escola Normal Codoense concluiu o Normal e o quarto Adicional (1970/1980). Constam no seu currículo outros cursos de formação e diversas funções públicas desempenhadas, como por exemplo: Curso Superior em pequena Licenciatura em Pedagogia em 1984 e Licenciatura Plena em Pedagogia, cursado já no campus VII da Universidade Federal do Maranhão, em Codó, concluído em 1994.

Exerceu também funções em escolas particulares do município, a citar, professora por duas vezes na Escola Santa Filomena (Associação das Irmãs Missionárias Capuchinhas- O Convento) pela primeira vez em 1972 e a segunda em 1986. Luiza D lly enquanto Secretária de Educação e Cultura do Município de Codó criou a 1ª bandeira de Codó por ocasião dos 75 anos da cidade, para ser hasteada em 16 de Abril de 1971 e o hino codoense, diga-se de passagem, com uma bela letra e melodia.

Observando a história e o perfil destas ilustres professoras nascidas ou não em Codó na temporalidade de 1940 a 1970, podemos destacar alguns fatores importantes desse período, que nos chamam a atenção. Primeiro, a maioria destas professoras eram indicadas ou como prefere dizer o professor Carlos Gomes, eram apadrinhadas pelos governantes. Muitas vezes, iniciavam sua carreira no magistério ainda leigas e só depois, já com experiência em sala de aula adquirida, é que iniciavam uma formação em colégio normal. Como exemplo, podemos citar Luiza D lly, que iniciou carreira apenas com o curso de contabilidade, sem noções de didática e do perfil de professor, que foi segundo ela adquirindo pouco a pouco. Esse foi um grande desafio . A única professora a passar por um concurso público de que temos conhecimento, foi Maria Alice Machado, como citado acima em uma de suas falas. Outro fator que merece um olhar especial, é que estas professoras, justamente por serem apadrinhadas eram pessoas com um bom nível econômico.

Sobre as disciplinas oferecidas no curso normal cursadas por elas, podemos destacar: Português, Matemática, História Brasileira e Maranhense, Geografia Brasileira e Maranhense, Física, Química, Biologia, Metodologia Geral, Desenho pedagógico, Prática de Ensino, Artes aplicadas, Recreação e Jogos, Música e canto, Metodologia da Linguagem, Metodologia do Cálculo, Metodologia das Ciências, Psicologia Geral Educacional, Sociologia, Filosofia, Administração, Higiene e Educação Moral e Cívica. Essas disciplinas compunham um currículo destinado à formação ideal de acordo com a época vigente para a atuação em sala de aula, com caráter conteudista e muitas vezes, oferecidos com escassez de materiais didáticos.

Enquanto regentes de sala de aula, cumpriam o Programa de Instrução Pública com o seguinte desenvolvimento: Leitura e Interpretação, Linguagem Oral, Linguagem Escrita, Cálculo, Ciências Físicas Naturais, Ciências Sociais, História e Instrução Cívica, Música e Canto, Técnicas Manuais, Educação Física, Atividades do pelotão de saúde, Clube agrícola e Cooperativa Escolar.

Os principais desafios enfrentados pelas normalistas deste tempo foram a precarização de espaços, de material didático, de transportes e também, talvez o mais difícil, de convencimento as muitas famílias pobres do município sobre a importância da educação para o desenvolvimento da cidade. Salientamos neste momento, o quadro de discentes da época, filhos da então elite da cidade; hoje, médicos, advogados, prefeitos, vereadores e muitos e memoráveis professores. Ainda assim, as normalistas venciam os desafios e conseguiam aos seus passos trabalhar por uma educação de qualidade. Sobre este desempenho, encontramos nos manuscritos soltos do Grupo Escolar Colares Moreira, o seguinte elogio de um inspetor do Estado, talvez chamado, pela leitura da velha anotação, Amancio Matos, datado em vinte de Agosto de 1942: É digno de louvor o trabalho das professoras do grupo escolar Colares Moreira pela sua eficiência e ordem nos serviços da estatística educacional .

Em relação ao status social de ser professor, percebemos um reconhecimento diferenciado dos dias de hoje. Ser professor significava realmente para a sociedade, ser instrumento de mudança e símbolo de respeito, pois, ao ensinar/ instruir, o aluno aprendia e reconhecia o professor como um mestre. Exemplos desse prestígio são as escolas do município, que ostentam em suas fachadas os nomes de algumas das professoras aqui citadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As memórias aqui apresentadas nos permitem compreender um pouco da história educacional do município de Codó- MA. Percebemos no decorrer das pesquisas, quão desafiador foi resgatar memórias de um grupo tão importante para a nossa historia. Observou-se também o envolvimento, o poder e a representação que o professor ocupava neste período -décadas de 1940/1970- revelando neste trabalho uma docência marcada pela persistência e pelo afeto.

Essas são as bases educacionais da cidade, dignas de serem registradas e divulgadas, enquanto personagens de uma história real. Por este fato, salientamos a importância de se construir registros a partir da memória dos professores que ainda temos enquanto resgate histórico, antes que eles nos deixem. Faz-se também um apelo pela publicação dos livros do professor Carlos Gomes Escritos Avulsos e Codoenses & Não Codoenses , que há tempos espera confiante de que os codoenses possam ler as suas páginas e conhecerem a sua história.

REFERÊNCIAS

DUARTE, Constância Lima. A ficção didática de Nísia Floresta. IN: LOPES, Eliane M.T;

FARIA FILHO, Luciano Mendes; VEIGA, Cynthia Greive- 500 Anos de Educação no Brasil: Coleção Historial. 3ed. 1 reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

FARIAS FILHO. Luciano Mendes. Instrução elementar no século XIX. IN: LOPES, Eliane M.T; FARIA FILHO, Luciano Mendes; VEIGA, Cynthia Greive- 500 Anos de Educação no Brasil: Coleção Historial. 3ed. 1 reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

FRANCO, Cambi. História da Pedagogia. - São Paulo. Fundação Editora da UNESP (FEU), 1999.

GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. Filosofia e história da educação brasileira: da colônia ao governo Lula. Barueri, SP: Manole, 2009.

LEIA HOJE, Revista. Enciclopédia do Maranhão- Codó. Ano VI- Nº 49- Ano 2000.

MACHADO, João Batista. Codó, histórias do fundo do baú. FACT/ UEMA, 1999. 298 p.

VILLELA O. S. Heloisa. O mestre-escola e a professora. IN: LOPES, Eliane M.T; FARIA FILHO, Luciano Mendes; VEIGA, Cynthia Greive- 500 Anos de Educação no Brasil: Coleção Historial. 3 ed. 1 reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

[1] Pedagoga e Graduanda em Licenciatura em Ciências Humanas-Universidade Federal do Maranhão - Universidade Federal do Maranhão- alda.educare@gmail.com.




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Manoel Messias Pereira

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