Ou a Bolívia não dá sorte em suas centenárias questões diplomáticas e territoriais com o Brasil ou ocorre o inverso, o Brasil não consegue um modus vivendi com os bolivianos, mesmo com Evo Morales, considerado um “companheiro” do País. Culminando com a situação delicada nas relações entre os dois países, após a morte de um jovem em jogo de futebol na Bolívia causada por sinalizador disparado por torcedores brasileiros, eis que diplomata resolveu agir por conta própria e trouxe para o Brasil um senador boliviano asilado há mais de ano na embaixada do Brasil em La Paz, segundo ele, por razões humanitárias.
Os punhos de renda do Itamaraty estão sendo esgarçados, e uma regra de ouro da diplomacia não foi observada, a do silêncio público sobre questões entre países, até que a autoridade maior fale, no caso o agora ex-ministro Antonio Patriota, ou a presidente da República, Dilma Rousseff. Aliás, a presidente falou, demonstrando irritação, sobre o episódio da entrada do senador boliviano Roger Pinto Molina no Brasil. Descartou comparações da embaixada do Brasil com a época do regime militar. “Não há nenhuma similaridade. E eu estive no DOI-Codi e asseguro a vocês: é tão distante o DOI-Codi da embaixada brasileira lá em La Paz como é distante o céu do inferno. Literalmente isso”, disse Dilma, irritada, questionando um dos principais argumentos usados pelo encarregado de negócios do Brasil em La Paz, Eduardo Saboia, autor da proeza.
Os desencontros foram muitos, e a retirada do senador de maneira furtiva escancarou a crise no Itamaraty, que tem regras quase castrenses. Os problemas entre a Bolívia e o Brasil vêm de longe. Em 1877 começaram a chegar ao Acre - que na época era território boliviano - os primeiros colonizadores, quase todos nordestinos em busca da borracha encontrada na Floresta Amazônica. No final do século XIX havia na região 50 mil brasileiros, e os seringueiros entraram em luta com as tropas para ocupar a região. Em 1903, sob a liderança do gaúcho Plácido de Castro, proclamaram o Estado Independente do Acre. O governo brasileiro ocupou militarmente a região, entrou em conversações diplomáticas com a Bolívia e o Acre então foi comprado.
Para sair da embaixada, Pinto Molina precisava de salvo-conduto, negado pelas autoridades bolivianas, alegando que o parlamentar responde a mais de 20 processos judiciais no país, por crimes de corrupção e desvios de recursos.
Porém, para quem aceitou asilar Cesare Battisti, condenado pela Justiça italiana por quatro assassinatos e considerado perseguido político, é certa a decisão. O que diria José Maria da Silva Paranhos Junior, o Barão do Rio Branco, como patrono da geralmente bem conceituada diplomacia brasileira? Nascido em 1845, o barão foi também jornalista, professor e político, e a data de seu nascimento, 20 de abril, assinala o Dia do Diplomata.
Rio Branco foi ministro das Relações Exteriores de 1902 a 1912, ano em que faleceu. Enfim, o Itamaraty, hoje, da maneira com que está sendo conduzida a política externa brasileira, claudicante, dúbia, sem saber ao certo de que lado está, faria Rio Branco corar de vergonha. Que o novo ministro consiga colocar o Itamaraty no rumo que é coerente com o seu passado nem tão distante.
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