Pena de denunciados por atentado no Riocentro pode passar de 66 anos
Seis pessoas foram denunciadas por ataque a bomba em abril de 1981.
Investigação do MPF durou dois anos; outros 9 identificados já morreram.
Káthia Mello
Do G1 Rio
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Procuradores da República do Rio de Janeiro durante entrevista coletiva nesta segunda-feira (17),no Centro do Rio (Foto: Káthia Mello/G1 Rio)
Procuradores da República durante entrevista
coletiva nesta segunda-feira(17) no Rio de Janeiro
(Foto: Káthia Mello/G1 Rio)
Após dois anos de investigação, o Ministério Público Federal denunciou seis pessoas — cinco militares e um delegado de polícia — envolvidos na explosão de uma bomba no estacionamento do Riocentro, na Zona Oeste do Rio, na noite de 30 de abril de 1981. Outros nove envolvidos foram identificados pelos procuradores, mas já morreram.
De acordo com os procuradores, que conversaram com jornalistas nesta segunda-feira (17) no Centro do Rio de Janeiro, os crimes são imprescritíveis por se tratar de crimes contra a humanidade e as penas máximas podem passar de 66 anos de prisão.
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Entre os denunciados estão os militares Nilton Cruz, que na época era o chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Inteligência (SNI); o comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Nilton Cerqueira; o capitão Wilson Machado, que estava no volante do Puma onde explodiu a bomba; o então major Edson Sá Rocha, que, segundo os procuradores, foi quem apresentou o plano de explodir o Riocentro em 1980 à chefia de operações; e Divany Barros, agente do Doi-Codi que atualmente é major reformado. Segundo a denúncia, Divany Barros vai responder por fraude processual por ter retirado provas do local da explosão, entre elas a agenda do sargento Guilherme do Rosário que morreu na explosão.
Na denúncia, o delegado de polícia do Espírito Santo, Claudio Guerra, que, segundo o MPF, integrava uma das equipes operacionais que iria efetuar prisões que seriam relacionados às bombas, também foi indiciado. Newton Cruz, Nilton Cerqueira, Wilson Machado e Claudio Guerra foram denunciados por homicídio doloso (duplamente qualificado por motivo torpe e uso de explosivos), por associação criminosa armada e por transporte de explosivo. O general Newton Cruz foi denunciado ainda por crime de favorecimento pessoal.
O MPF disse que a reabertura da investigação foi possível a partir de novas provas e testemunhas que viram as bombas sendo jogadas e dentro do carro. De acordo com o MPF, muitas dessas pessoas estavam próximas dos locais da explosão e são vítimas. Pela primeira vez, a investigação ouviu os seguranças do Riocentro. "Foram encontradas inúmeras provas novas que nunca tinham sido apreciadas nas investigações anteriores. Tanto provas documentais quanto provas testemunhais que levaram a elucidar alguns aspectos e algumas nuances do atentado no Riocentro que jamais tinham sido exploradas", explicou o Procurador da República, Antonio Cabral.
Entre os documentos reunidos estão a agenda pessoal do então chefe do destacamento de operações Doi-Codi, no Rio de Janeiro, o tenente-coronel Julio Miguel Molinas Dias, que morreu em 2012, em Porto Alegre. Segundo o procurador, o coronel relatava minuto a minuto, hora a hora, as informações que recebia sobre o caso Riocentro. Ele disse que a agenda ficou guardada por 18 anos e foi encontrada pela filha dentro do armário dele.
O processo com 38 volumes ouviu 43 depoimentos e reuniu 37 horas de gravações que serão disponibilizadas no site do MPF.
O MP disse que as investigações ainda não terminaram e que pelo menos três pessoas que estão sendo investigadas. Para isso, eles estão oferecendo a chamada "colaboração premiada", ou seja, se algum envolvido estiver disposto a colaborar com a investigação pode ser beneficiado com o não oferecimento da denúncia ou com a redução da pena em caso de condenação. " A história do atentado do Riocentro ainda tem alguns aspectos que precisam ser esclarecidos e por isso as investigações vão prosseguir. Acho que a história não mudou mas a história está sendo complementada", afirmou o procurador.
Segundo o procurador, o Grupo Justiça de Transição do MPF conseguiu a confissão de três pessoas denunciadas no processo. Durante coletiva de imprensa, na sede da Procuradoria, os procuradores informaram que este é o terceiro inquérito aberto sobre o caso Riocentro. Os dois primeiros (em 1981 e em 1999) foram abertos pela Justiça Militar. Este é o primeiro inquérito civil que indicia militares por envolvimento no atentado a bomba no Riocentro quase 33 anos depois do ocorrido.
Relembre o caso
Em 30 de abril de 1981, véspera do Dia do Trabalho, um show reuniu 20 mil pessoas no Riocentro, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O evento acabou entrando para a história pelo lado trágico, com a explosão de duas bombas no local.
A primeira bomba explodiu dentro de um carro, ferindo o capitão Wilson Luis Chaves Machado e matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário. A segunda explodiu na casa de força do Riocentro, sem causar vítimas.
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