segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Reflexão Literária, Monica San, Mario de Sá Carneiro e Manoel Messias Pereira -

Boi Soberano

O sofrimento muitas vezes faz adormecer sentimentos, a saudade aperta o peito e faz amainar o desejo, a tristeza faz com que o passado seja jogado em alguma velha gaveta de onde só sai quando é arrancado de lá por uma velha lembrança.
Hoje o passado me veio assim, feito a chuva que
despenca lá fora, sem pedir licença, como a querer marcar sua presença e manter-se vivo.
Quando se tem uma cadeira de rodas como extensão de suas pernas, e a pouca compreensão de um "cuidador"
como extensão dos seus anseios, desejos e
necessidades pouca coisa há que se temer.
A vida já fez todas as provas e provocações
que podia e que se pudesse suportar.
O passado quando bate à porta vem
como a chuva a lavar estradas,
molhar lavouras, fazer florir o verde,
sorrir a passarada, e lavar a alma.
Ao meu lado, presa às suas lembranças, ela mareja os olhos.
Para por uns instantes o ritual do pão e leite,
seu alimento básico e talvez até espiritual.
E ouve. Do lado de fora a chuva, tantas vezes desejada
para que não deixasse morrer suas plantinhas,
nem sacrificar aqueles à quem amava, cá dentro,
tocando no computador (o que há de mais
moderno em sua pouca compreensão) o passado.
O seu passado.Tirado da gaveta pelas mãos do futuro
que ela nem sabe até onde irá acompanhar.
O netinho que pede: Mãe, deixa eu ouvir o Boi Soberano?
Uma velha canção, talvez uma das mais belas que já ouvi.
Nada que se compare às grandes produções mundiais.
Apenas uma história bonita, comovente,
cantada com alma e sentimento.
O que pouco se faz hoje em dia.
Os poucos minutos que levam a canção são suficientes
para trazer à tona lembranças doloridas de um passado sofrido.
Mas lembranças preciosas que a fazem , com certeza,
lembrar do quanto já foi na sua simplicidade
e humildade, soberana, como aquele boi!

Monica San
poetisa
São José do Rio Preto - SP
(texto poético encontrado no blog Página da vida)


boi soberano
Tião Carreiro e Pardinho




Quase


Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...


Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...


Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!


De tudo houve um começo ... e tudo errou...
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...


Momentos de alma que,desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...


Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...


Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...


Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...


Mario de Sá Carneiro
(1890  - 1916)
poeta português


Adriana Calcanhoto cantando Mario de Sá Carneiro




Os jovens

Os jovens 
a cada dia 
maturam 
suas utopias 
com diferentes 
perspectivas 
como peças 
narrativas 
como obras 
expostas, 
os jovens 
são árvores 
primaveris 
que num grito 
de silêncio 
de consciência 
riem, chorando 
simplesmente, 
pela sua jovialidade 
diante de um mundo 
de sombrio.

Manoel Messias Pereira

poeta

São José do Rio Preto - SP


Luis Melodia e Cassia Eller - Juventude Transviada


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