21 de fevereiro Dia da Língua Materna
Não há prêmios
quando a linguagem humana
é organizada pra magoar,
não há questões filosóficas
quando sentimentos negligenciam a ternura
e não sabe respeitar
o próximo como a ti mesmo.
Não vejo nenhuma humanidade
na monstruosidade
de quem tenta até retirar tua pele preta
revestida de dignidade
de quem é o ser da diáspora africana,
e só saiu de lá, a força, pra trabalhar,
condignamente, respeitosamente
e assim como negros, sempre brilhando
Sejas Pelé, Abdias do Nascimento ou Malcom X,
Ou os negros que resitiram por lá
como Steve Bikos, Samora Machell ou Nelson Mandela,
Pessoas tão grandes
que souberam expressar em suas faces
seriedade, doçura e humildade.
Mas é triste quando vejo olhares
como mares abertos, ou abertos mares,
de lágrimas pelos rostos a rolares.
Diante da tristeza argumentativa
de tantos canalhas racistas
que usam a língua mais pra machucar,
Me fazendo eu também chorar.
Não há prêmios
quando a linguagem humana
é organizada só pra magoar.
Manoel Messias Pereira
poeta
São José do Rio Preto - SP
Caetano Veloso
Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais boiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago
poeta português
Galegã, Azinhaga - Portugal
(16/11/1922 + 18/06/2010)
Vanessa da Mata
Não há prêmios
quando a linguagem humana
é organizada pra magoar,
não há questões filosóficas
quando sentimentos negligenciam a ternura
e não sabe respeitar
o próximo como a ti mesmo.
Não vejo nenhuma humanidade
na monstruosidade
de quem tenta até retirar tua pele preta
revestida de dignidade
de quem é o ser da diáspora africana,
e só saiu de lá, a força, pra trabalhar,
condignamente, respeitosamente
e assim como negros, sempre brilhando
Sejas Pelé, Abdias do Nascimento ou Malcom X,
Ou os negros que resitiram por lá
como Steve Bikos, Samora Machell ou Nelson Mandela,
Pessoas tão grandes
que souberam expressar em suas faces
seriedade, doçura e humildade.
Mas é triste quando vejo olhares
como mares abertos, ou abertos mares,
de lágrimas pelos rostos a rolares.
Diante da tristeza argumentativa
de tantos canalhas racistas
que usam a língua mais pra machucar,
Me fazendo eu também chorar.
Não há prêmios
quando a linguagem humana
é organizada só pra magoar.
Manoel Messias Pereira
poeta
São José do Rio Preto - SP
Caetano Veloso
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais boiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago
poeta português
Galegã, Azinhaga - Portugal
(16/11/1922 + 18/06/2010)
Maria Bethânia
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