segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Independência da Rodésia em 1965 com apoio de Portugal

A Independência da RODESIA, o apoio de Portugal


Referências :
BARROSO, Luís. O apoio de Salazar a Ian Smith. Relações Internacionais

Em 1965, o primeiro-ministro rodesiano, Ian Smith, com o apoio e incentivo de Portugal, declarou unilateralmente a sua independência (DUI) da Grã-Bretanha, dando início a uma crise regional que durou cerca de uma década.

Ao decidir apoiar e incentivar Smith, Oliveira Salazar envolve Portugal na crise, pois pretendia que aquele saísse vencedor do diferendo com a Inglaterra. Desse modo, contribuía para que um governo negro nacionalista não chegasse ao poder na Rodésia do Sul e, por conseguinte, limitava apoios para os movimentos de libertação que actuavam em Angola e Moçambique. Todavia, sendo já debilitada a sua posição devido às atitudes britânica e norte-americana quanto à política colonial, o apoio de Portugal a Ian Smith acarretaria também o antagonismo dos países afro-asiáticos, agravando ainda mais a sua posição internacional.
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Numa atitude que «desconjuntou as Nações Unidas», Ian Smith, o primeiro-ministro da Rodésia do Sul, declarou a independência unilateral a 11 de Novembro de 1965. Pela íntima ligação que se supunha existir entre Lisboa e Salisbury, U Thant, então secretário-geral da onu, convocou Franco Nogueira para uma reunião de emergência do Conselho de Segurança a fim de debater a atitude do primeiro-ministro rodesiano. Depois de consultar Salazar, Franco Nogueira recusou comparecer. A atitude do ministro português indiciava um claro sinal da ligação entre ambos os governos. Pelos dados de que dispunham, os governantes portugueses reconheciam que o problema rodesiano se iria manter por muito tempo na sua política externa.

Definido entre Salazar e Smith em Lisboa, em Setembro de 1964, o apoio do Governo português a Salisbury acabou por ser determinante na manutenção de Smith no poder face às pressões britânicas e africanas, e no lançamento de bases políticas para uma mais efectiva cooperação militar nos anos 1970 através dos «Exercícios Alcora».
Os resultados obtidos na investigação efectuada evidenciam o esforço desenvolvido pelo Governo português em conceder apoio político-diplomático, económico e militar à Rodésia, num período em que este país era um Estado pária. Os casos da acreditação de Harry Reedman, representante rodesiano em Lisboa que era «reconhecido» por Lisboa como embaixador, do contorno ao embargo de combustíveis e o aprofundamento das relações militares, nomeadamente ao nível de intelligence, são as evidências empíricas desse esforço, espelhando claramente o empenho do Governo português na sobrevivência e manutenção de Ian Smith no poder.

O envolvimento de Portugal na crise rodesiana deve ser enquadrado no esforço do Governo português em ancorar-se em África, numa clara atitude de resistência à descolonização. A «Guerra Colonial» tinha efectivamente começado em 1961 em Angola e, pela primeira vez, Portugal não dispunha do apoio explícito dos seus tradicionais aliados, os Estados Unidos e a Inglaterra. Por esse motivo, Portugal teve um interesse especial na crise provocada por Ian Smith.
Além do mais, o acto rodesiano constituiu um excelente pretexto para Salazar afrontar, embora de forma indirecta, os ingleses, na sequência da falta de apoio efectivo a Portugal na ocupação de Goa, Damão e Diu pela União Indiana e da posição do Governo de H. Wilson em relação à política colonial portuguesa.
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De facto, Salazar reconhecia que um «governo de maioria negra» em Salisbury provocaria «o pânico nos brancos e uma crise económica e financeira, de que os restantes países africanos [Tanzânia e Gana]» eram «a demonstração quotidiana», lançando a Rodésia no «massacre e no caos». Por essas razões, para o Governo português, a questão da Rodésia era um «problema vital», enraizando «a convicção [de Salazar] de que tudo em África, a Sul do Zaire e do Rovuma», se poderia salvar para o «ocidente, para a sua política e para a civilização» se não «se perdesse a Rodésia».
Salazar acreditava que uma guerra entre o Ocidente e a URSS era provável e que Portugal, se mantivesse as suas possessões em África, acabaria por ser reconhecido como preponderante na defesa dos valores do Ocidente e como um travão à progressão comunista.

Nestas condições, em finais de Agosto de 1965, tornava-se eminente a DUI e começava a desenhar-se no horizonte um grave incidente entre Portugal e a Grã-Bretanha, que Franco Nogueira definiu em forma de opção política nos seguintes termos:

«A questão da Rodésia é das mais difíceis que se nos deparou. Que devemos fazer? Encorajar a Rodésia, levá-la à independência, reconhecê-la? Que fará a Inglaterra? Que represálias? A verdade é que da Inglaterra, neste caso, nada temos a esperar. Da Rodésia sempre poderemos, se sobreviver, esperar alguma coisa. Não vejo que a Inglaterra nos queira fazer muita mossa; e de modo nenhum que nos dirija qualquer ultimatum como em 1890. E se a Rodésia desaparece? Então perderemos 250.000 amigos dispostos a bater-se […] e ficamos com os flancos interiores de Angola e Moçambique abertos à infiltração. Se queremos continuar em África, teremos de aguentar, e de nos encostar aos que querem ficar em África.»
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As opções para Oliveira Salazar eram claramente diferenciadas :
- alinhar com a Inglaterra e, de algum modo, amenizar a hostilidade dos países afro-asiáticos representados nas Nações Unidas ;
- ou apoiar Ian Smith e contar com mais um apoio em África, para além da África do Sul, mesmo sabendo que essa decisão iria desencadear a hostilidade da Inglaterra, e provavelmente dos Estados Unidos, e da comunidade internacional.

Ao decidir apoiar Smith, Salazar eliminou de imediato a opção não compensatória : alinhar com a Inglaterra.
O interesse nacional – «manter-se em África» – enquadrava-se no pilar ideológico do Estado Novo. A Constituição incorporava o Acto Colonial de 1930[38], iniciativa legislativa que centralizava política, administrativa e financeiramente a gestão das colónias, «num todo indivisível com a cabeça na Metrópole», onde residiria «a essência orgânica da Nação Portuguesa». Na ordem política portuguesa do Estado Novo, a primeira realidade era a existência independente da Nação portuguesa com o direito de possuir fora do continente europeu o património marítimo, territorial, político e espiritual abrangido na esfera do seu domínio ou influência. Procurava-se firmar a noção moral e espiritual de um império que representasse de forma muito clara um prolongamento de Portugal: a integridade da «Nação Portuguesa» estava no centro da ideologia política do Estado Novo.
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Manoel Messias Pereira

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