domingo, 10 de novembro de 2013

Precisão

Tardezinha. O sol alaranjado, estacado no caixilho oco do quadrado da janela, tocaiva dona Laura, que se tangia desacorçoada, de um lado pro outro do único vão de barraco.

Queixava-se da demora do filho menor, vista espichada no prumo da lixeira. Receava que so chegasse junto com o breu da noite.

Para bem dizer, ela nunca aprovou a lida do rebento, catando de- comer pra ela e os irmãos no lixo, apesar da precisão.

Quando, enfim, ele riscou na moldura da porta do barraco, Laura escancarou a boca num sorriso solto, sem nem se importar com a desculpa que já vinha escapulindo das mãos abanando do menino:

-Não deu pra trazer nada hoje. Um urubu chegou primeiro!



Francisco Pippio

escritor e sociólogo 
sergipano autor de As Cidades (7Letras)


texto publicado na revista Cult n.159 -julho de 2011





Mano Brown

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Manoel Messias Pereira

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