Professora do Laranjeiro estreia-se em disco de fado
Professora do Laranjeiro estreia-se em disco de fado
Docente de português na Escola Secundária Ruy Luís Gomes, no Laranjeiro, Rosa Maria Duarte lança o seu primeiro disco de fado aos 50 anos. Embora tenha nascido em Alcântara e convivido desde pequena com a canção tradicional lisboeta, nunca a sentiu “de forma tão envolvente como agora”. É uma “fadista tardia”, afetada pelo “vício” que a deixa em “descompensação” ao fim de uns dias sem cantar. “Fado que Cura” é apresentado esta sexta-feira no restaurante A Muralha, em Lisboa.
Composto por catorze fados, escolhidos sobretudo a partir das suas preferências pessoais, “Fado que Cura” pretende pôr fim a uma etapa e servir como “cartão-de-visita” da cantora. Um espécie de “portefólio” que lhe permita abrir outras portas para uma carreira cada vez mais séria no fado. Amália Rodrigues está presente em grande parte das escolhas porque “ajuda a integrar no mundo do fado”. É um meio muito conservador, onde “não há possibilidade de inovar com muita intensidade”, pelo que é preciso “criar um caminho a pouco e pouco” para conseguir “romper o espartilho da cultura fadista”.
Rosa define-se como uma “pessoa positiva”, que não gosta de “ficar agarrada ao passado”, mas reconhece que “para trás está a rede, o berço onde tudo começou”. Mas não esconde a sua costela de “rebeldia”, que a faz, ainda hoje, ser apreciadora de rock e frequentar os grandes festivais. Ouve Metallica, Supertramp ou Queens of the Stone Age, aprecia muito Muse, assim como se deleita com jazz, blues ou country, porque o “corpo também precisa de extravasar energia” e o fado obriga a uma “contenção de movimentos”.
A abrir o CD está o único original do disco, “Fado que Cura”, com um poema da própria Rosa Maria Duarte e com uma música tradicional do fado, de Pedro Rodrigues. Na gaveta estão outros poemas para novas oportunidades, mas não se pode esquecer que “o público gosta do conhecido”. Afinal, a poesia não é nada de estranho para esta professora, conhecedora profunda da literatura portuguesa e em mãos com uma tese de doutoramento que também a ajudou a entrar neste mundo do fado.
Ao abordar a “criatividade no processo de produção literária”, a investigadora debruçou-se sobre figuras como José Cardoso Pires, “um homem da noite”. Por isso, o fado surge quase “no seguimento do doutoramento”, pois o fado assenta sobretudo na sua componente literária. “É por isso que o fado não enfada”, diz.
Repartindo-se entre as aulas e a investigação, a colaboração com o “Setúbal na Rede” e a família, Rosa aposta no seu “autocontrolo e disciplina” para conciliar tudo. Canta quatro vezes por semana em casas lisboetas, frequenta a escola de fado da Mouraria, e consegue “cumprir três dias da semana com uma vida normalíssima”. A professora acredita que uma carreira de fadista é perfeitamente compatível com o resto, até porque “o fado é pós-laboral”.
Pedro Brinca - 06-02-2014 14:12
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