crônica de Rubens Braga
A OUTRA NOITE
Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.
Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou o sinal fechado para voltar-se para mim:
-O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas, tem mesmo luar lá em cima?
Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra - pura, perfeita e linda.
-Mas, que coisa...
Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa.
-Ora, sim senhor...
E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um "boa noite" e um "muito obrigado ao senhor" tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei.
Rubens Braga
cronista brasileiro
poesia de Sueli Aparecida Herrero Carneiro
Amigo
É uma alegria saber.
Que alguém se lembra da gente.
É carinho e bem querer.
Que faz o coração contente.
Amigo é aquele que vai.
Amigo é aquele que vem.
É um bem que não se esvai.
É um querer que nos faz bem.
Temos amigos de fora.
E temos aqueles de outrora.
Um bom amigo não se esquece.
No coração permanece.
Sueli Aparecida Herrero Carneiro
professora e poetisa
Poesia de Manoel Messias Pereira
Um corpo adoentado
chamado Estado
podre, fétido
desgovernado
um teatro,
uma peça
como uma festa
regado
a um caldo
de dinheiro
público,
muitas vezes desviado
outras vezes mal empregado,
a cosia é séria
basta ver as veias,
deste corpo
chamado estado,
neurótico
e único
com o propósito
de entreter,
entreter-nos
sem o olhar ético
com pão e circo
cujo os palhaços
somos nós que rimos
e aplaudimos
sem sermos críticos
essa nossa miséria
adulta
total e absoluta,
nesta comédia
sem graça
que vira essa tragédia
essa desgraça
graças a essa
brincadeira
sem graça
de desgovernadamente
tentar governar
e só fazer festas
com o dinheiro público
e isto é phoda!
Manoel Messias Pereira
poeta
São José do Rio Preto-SP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
opinião e a liberdade de expressão