sábado, 1 de fevereiro de 2014

Reflexão Literária - Oswald de Andrade, Cecilia Mireles e Manoel Messias Pereira

poesia de Oswald de Andrade

A descoberta

Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.


Oswald de Andrade

poeta, da Semana de Arte Moderna de 1922

São Paulo-SP.


Chico Buarque e Caetano Veloso

Poesia de Cecilia Meireles
Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo 
que está onde as outras coisas nunca estão, 
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo: 
quero solidão. 

Meu caminho é sem marcos nem paisagens. 
E como o conheces? - me perguntarão. 
- Por não ter palavras, por não ter imagens. 
Nenhum inimigo e nenhum irmão. 

Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada. 
Viajo sozinha com o meu coração. 
Não ando perdida, mas desencontrada. 
Levo o meu rumo na minha mão. 

A memória voou da minha fronte. 
Voou meu amor, minha imaginação... 
Talvez eu morra antes do horizonte. 
Memória, amor e o resto onde estarão? 

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra. 
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão! 
Estandarte triste de uma estranha guerra...) 
Quero solidão.



Cecília Meireles

poetisa brasileira
Rio de Janeiro - RJ


Mariza

Texto de Manoel Messias Pereira
Gilberto Gil nos filhos de Gandhi

A ginga de Deus

Ao tecer qualquer referência á cultura afro-brasileira, não podemos esquecer da presença da música e da dança.
Quando ainda era criança, ouvia comumente esta frase "não acredite num Deus que não dance". Na vida, nos cultos afros, em todos os rituais, há batuques acompanhados de expressões corporais, o que entendemos por "curimba", os mais velhos afirmam que a energia dos corpos se irradia como algo sagrado, é a sabedoria original, o patrimônio espiritual para o trato das coisas da vida.
Os atos como o nascimento, o batismo, a puberdade, o casamento, a morte, assim como os atos da semeadura, da colheita, a doença, a pesca, as invocações nas estiagens, os esconjuros dos espíritos tem a presença de rituais com musicas e danças fundamentalmente.
Nos cultos afros, as estrelas, o sol, os planetas, os satélites naturais, a sombra, o quente, o frio, os vegetais, os minerais possuem as tais forças ocultas. A Sagrada Tradição dos Orixás, são tidas como forças divinas que revelam ensinamentos para conhecermos e controlamos as potências naturais como o vento, o raio, o fogo, a água doce, a água salgada, a chuva, o ar e a temperatura, obviamente com os nossos trabalhos para a sobrevivência. Cada Orixá, tem sua pedra fundamental, suas cores e danças, daí o espetáculo visual ritualístico, usado por artistas do canto afro, como Martinho da Vila, Gilberto Gil entre outros.
Geralmente, as festas dos negros tem um misto de lendas, religiosidade e muita espiritualidade. O exemplo disto é a comemoração do dia 25 de janeiro, quando os negros de Salvador lembra a Revolta Malês, numa mistura de cristianismo e islamismo, para perpetuar a maior revolta de escravos urbanos, já ocorrido na América Latina, mas que até hoje os pseudos historiadores brasileiros, foram na sua maioria incapazes, estupidamente castrados de cérebros e não conseguiram escrever isto nos livros didáticos, quando que temos uma lei como a 10639, que trata das questões da cultura afro e da africanidade nos ensinos fundamentais e médios.
Entendemos que o islã não constitui uma força religiosa hegemônica, representou um concorrente de peso, num ambiente cultural que também inclui os orixás,o vodum dos povos gegês, o espiritualismo dos angolanos que trouxeram o omolocô. E neste caldo de cultura está presente grupos como os filhos de Gandhi que vestem de branco nas sextas feiras, um costume dos adeptos do islamismo e que os negros umbandistas ou membros do candomblé, chamam de achôfifum. Além do mais os filhos de Gandhi fazem o rito-baru, que para os umbandistas são as guardas do caminho, comum nas saídas de desfiles, procissões e também no carnaval. Todos estes rituais são perfeitamente harmônicos.
Outro ponto interessante é que o Levante Malês traz uma citação do Alcorão (3:108) "Ala não quer injustiça contra as suas criaturas" E na própria história dizem que os rebeldes foram as ruas com roupas dos adeptos do islão. E os que morreram traziam nos corpos amuletos e rezas além da passagem do Alcorão. Em 1835 os negros desejavam o fim da escravidão e a tomada do poder com a derrubada da monarquia.
Quando o poeta Gilberto Gil diz, 'que a felicidade do negro é a felicidade guerreira" ou quando o poeta Oswald de Andrade diz que "O carnaval é a maior festa religiosa', creio que entendo que o ser humano dança, conta a sua história suas lutas, seus amores, sua espiritualidade e daí Deus tem de mostrar a sua ginga, e a ideia de que devemos acreditar num "Deus que dance" é entendida. assim a Igreja Católica Apostólica Romana, passou a ter a compreensão da cultura afro, por meio do ecumenismo, graças a Pastoral Afro e a presença de padres negros, o que não existia anteriormente.
Com a ginga é possível entender que Deus está no meio de nós, pois todos gostam de dançar, do contrário estamos abandonados por Deus, e que estivesse rezando dançando ou comemorando com toda a alegria teria o Criador alheio a tudo. A questão é a seguinte "não acredite num Deus que não dança".





Manoel Messias Pereira
poeta

São José do Rio Preto - SP



Gilberto Gil



Nenhum comentário:

Postar um comentário

opinião e a liberdade de expressão

Manoel Messias Pereira

Manoel Messias Pereira
perfil

Pesquisar este blog

Seguidores

Arquivo do blog