domingo, 31 de janeiro de 2010

O amor no conceito de Jankélévitch

Vladimir Jankélévitch



Para que faísque a centelha, para que a corrente passe, é preciso que a intencionalidade implique uma transitividade; mas a própria transitividade e o complemento direto do verbo amar que é sua mira, e o precioso acusativo de amor que ela supõe não bastariam sem a reciprocidade.




Uma verdadeira relação dialógica, isto é, uma relação de troca, tem este preço: ela exige que om influxo passe de um ao outro e reciprocamente de um ao outro; que o amante seja também o amado de seu amado, e o amado o amante de seu amante; cada um sendo respectivamente ativo e passivo em relação a seu correlato. Na falta do que, a correlação, tornada novamente relação não mútua e unilateral de um amante não amado como um amado não amante. logo teria feito esfriar-se e relacionar-se novamente com parceiro de porcelana. Um amor manco e, por conseguinte, infeliz, é realmente um amor? A felicidade, com tudo o que a palavra implica de ativo e intrinsicamente rico, é coisa importante demais na opinião de Lulle para que o gosto pela infelicidade e a condescendência com o fracasso representem nessa filosofia um papel verdadeiro. O amor lulliano deve ser recíproco porque deve ser feliz.




O amado-amante e o amante-amado são diferentes um do outro. Ora, a diferença exclui a ociosidade e impede o sono. A diferença intriga-nos e mantém-nos acordados; ela solicita vigilaância e esforço; a excitante diferença pede um trabalho reflexivo que, no ínfinito, reduz a negação dos heterogêneos. O distanciamento torna-se "propinquidade e finalmente a proximidade superlativa sem nunca se reduzir a uma coincidencia pontual que seria a morte do amor. O amor tende a diferença infinistesimal, imponderável, impalp´´avel, indosável, a qual é, por assim dizer, o extremo limite do dual e do uno. No momento em que a distância entre o amante e o amado ficou mínima, os dois parceiros são quase indiscerníveis um do outro. . .quase, mas só quase.






Vladimir Jankélévitch


livro -Primeira e ultimas páginas

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Manoel Messias Pereira

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