sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
50 anos de luta pela libertação em Angola
opinião
NOS 50 ANOS DO INÍCIO DA GUERRA COLONIAL
A LUTA DE LIBERTAÇÃO EM ANGOLA
Por Armando Teixeira
Barreiro
Estava iniciado o terrível conflito que iria durante 13 anos consumir incomensuráveis recursos e destroçar dezenas de milhares de vidas, sobretudo de autóctones, mas também portuguesas, atrasando ainda mais o pobre país da beira-Atlântico, jardim fenecido de dignidade roubada.
NOS 50 ANOS DO INÍCIO DA GUERRA COLONIAL
[ PARA A HISTÓRIA DO COLONIALISMO PORTUGUÊS]
16. A LUTA DE LIBERTAÇÃO EM ANGOLA
O século XX e as extraordinárias alterações políticas ocorridas desde os seus primórdios ( nomeadamente a Revolução Soviética de Outubro de 1917) trouxeram á luz do dia a problemática da dominação colonial nas possessões inglesas, francesas, holandesas, espanholas e portuguesas, colocando a luta de libertação dos povos subjugados na primeira linha das preocupações e dos ideais progressistas da humanidade.
Nesta perspectiva, o desejo de independência dos povos das colónias portuguesas e o consequente eclodir de revoltas nacionalistas, seguindo o natural curso da história da libertação nacional já iniciada noutros países africanos, foi ignorado, reprimido e afogado em sangue.
A Argélia pegara em armas em 1954 contra a França e o Gana tornara-se independente da coroa de sua majestade em 1957, enquanto que o regime fascista-colonialista de Salazar e seus apaniguados, procurava iludir a realidade e elidir a opinião interna e internacional, com “slogans” como ,…” As três províncias ultramarinas são parte do todo nacional uno e indivisível “.
Os antecedentes históricos do bombardeamento dos plantadores de algodão na Baixa do Cassange, em Angola, em 1960, com milhares de vítimas; a repressão da greve no porto de Pidjiguiti em Bissau, em 1959, com dezenas de mortos; os acontecimentos repressivos de Mueda, em 1960, sobre os camponeses macondes do Norte de Moçambique, com muita gente massacrada, culminaram em Luanda no levantamento nacionalista de 4 de Fevereiro de 1961.
Estava iniciado o terrível conflito que iria durante 13 anos consumir incomensuráveis recursos e destroçar dezenas de milhares de vidas, sobretudo de autóctones, mas também portuguesas, atrasando ainda mais o pobre país da beira-Atlântico, jardim fenecido de dignidade roubada.
Quando ocorreu este levantamento em Angola, considerado simbolicamente como data de início da Guerra Colonial, já um significativo caminho havia sido feito, desde a fundação em 1954 da União dos Povos de Angola (UPA), por Holden Roberto, e, em 1956 do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), por Mário de Andrade, Viriato da Cruz e Agostinho Neto.
Este último fora estudante de Medicina em Lisboa, nos inícios da década de 50 e esteve preso pela PIDE durante muitos meses, por pertencer ao MUDJuvenil, o Movimento de Unidade Democrática da Juventude, muito activo na primeira metade da década. Toda a sua Comissão Central fora presa, incluindo o jovem estudante negro angolano, engajado na luta antifascista em Portugal.
Libertado em 1956, com residência fixa e apresentação regular na polícia política, aproveitou esse tempo para terminar o curso de medicina e acabou por sair clandestinamente de Portugal, de barco, pelo Sul, com o apoio de um oficial da Marinha, o depois almirante Rosa Coutinho.
Vivia-se uma época de viragem histórica em África, animada pela independência de sucessivas colónias..
Em 1960, o Congo Belga torna-se independente, depois de intensa disputa política com a potência colonial. A Bélgica a dada altura mudou de estratégia, dando-se a formação de República Democrática do Congo, mas não foi inocente esta mudança. As sementes do neocolonialismo geram novas formas de violência inter-étnica, os acontecimentos imediatos à independência são mostrados nas televisões e cinemas de todo o mundo, como prova da …” incapacidade dos negros se governarem a si próprios”, enquanto os interesses das grandes companhias belgas são acautelados, continuando as grandes explorações mineiras na mão das multinacionais.
Um dos principais obreiros da independência, Patrice Lumumba, líder político progressista e sindicalista prestigiado, foi tragicamente assassinado e é iniciada a guerra de Secessão do Katanga, a maior e mais rica região mineira.
O regime saído das profundas convulsões do Congo - Kinshasa (antiga Leopoldeville), não permite que o MPLA se instale militarmente no seu território, em contrapartida apoiou desde a primeira hora a UPA, com o seu quartel-general na capital desde a fundação.
O MPLA tinha a sede em Brazaville, no Congo ex - francês, também independente em 1960, e assentou a sua base militar de treino e apoio em Dolisie, na floresta do Mayombe, com o beneplácito do governo da novel República Popular do Congo, onde iniciou a preparação para a inevitável luta armada de libertação nacional.
Nota Final : Gostariamos de ter terminado este trabalho de recolha durante este ano em que se assinala a efeméride do inicío da Guerra Colonial. Tal não foi possível, ainda faltam alguns capítulos, pelo que nos resta a possibilidade de faze-lo em livro. Fica prometido.
Armando Teixeira
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