quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Michel Ziadan Filho comenta sobre a sucessão na Coreia do Norte

ENTREVISTA: Michel Zaidan



Coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia da UFPE, o professor Michel Zaidan Filho comenta o processo de sucessão na Coreia do Norte
Publicado em 27/12/2011

JORNAL DO COMMERCIO - A Coreia do Norte é um país extremamente fechado e grande parte das notícias que recebemos de lá vêm de fontes oficiais. Como analisar essas notícias?

MICHEL ZAIDAN – A liberdade de imprensa tem sido sempre sacrificada pelas chamadas "razões de estado". Não só nos países ditos comunistas. Também nos democráticos e capitalistas, a imprensa participa do esforço de guerra contra o inimigo (o comunismo, o terrorismo islâmico etc.) O que ocorre é que em sociedades onde o Estado é tudo e a sociedade civil é nada, os órgãos de imprensa se transformam em correias de transmissão da vontade do governo ditatorial ou não. Onde estado e partido se confundem, não é possível separar a propaganda da informação fidedigna. É preciso dar um enorme desconto às informações veiculadas, desconstruí-las e reconstrui-las, para utilizá-las. É possível apelar para dissidentes, a internet ou organizações humanitárias, no exterior. De toda forma, a imprensa hoje faz parte dos parelhos ideológicos de Estado, seja ele qual for.

JC - Todo processo de sucessão pode ser problemático, especialmente em ditaduras. Aparentemente, Kim Jong-un está estabelecido como novo líder do país. Existe algum risco interno para ele? A força da imagem do pai e do avô garantiram uma sucessão tranquila?

ZAIDAN - Tranquila enquanto for mantido o consenso básico entre os militares e a sociedade civil. Nenhuma ditadura é eterna. O povo se cansa de ditadores ineficientes. A ideologia tem um prazo de validade dado pelas carências materiais e o acesso a informações diferenciadas. Só as monarquias são vitalícias, isto por conta da vontade de deus ou da tradição cultural. As ditaduras são mortais e perecíveis. Tudo depende do equilíbrio a ser adotado entre coerção e persuasão. E o atendimento às carências básicas da população.

JC - Kim Jong-un é jovem, inexperiente e até alguns anos atrás nem era o sucessor natural do pai. O que esperar do novo líder da Coreia do Norte? Sua educação na Suíça pode ter alguma influência em seu modo de governar?

ZAIDAN - Ele pode se tornar um títere na mão de conselheiros influentes u eminências pardas do regime. No geral, os sucessores ou são incapazes ou tendem a abrir o regime, numa espécie de aggionarmento" da ditadura. É esperar para ver o caminho que o sucessor vai tomar e se sua educação suíça terá algum efeito sobre suas decisões políticas.

JC - As imagens mais marcantes vindas da Coreia do Norte são de sua população em prantos com a morte do ditador (imagens que a TV estatal faz questão de divulgar ao máximo). Em todo mundo, a "honestidade" desse luto vem sendo questionada. Até onde as demonstrações públicas de tristeza podem ser consideradas propaganda? Ou realmente a imagem construída em volta de Kim Jong-il influenciava a população?

ZAIDAN - Deve ser um misto de orfandade coletiva pelo desaparecimento do "grande líder" e de propaganda. Deve haver sinceridade nessas lágrimas, mas elas devem estar sendo utilizadas propagandsticamente pelo regime. A mitologia política, em regimes fechados como o da Coréia, tende a produzir esses fenômenos de massa. Até no Ocidente "livre", essa mitologia existe:assassinato de Kennedy, de Vargas no Brasil, a morte de Tancredo etc. O mito faz parte da política "midiática" moderna.

JC - Cuba, um dos poucos países comunistas remanescentes, tem adotado uma política cada vez mais aberta à economia global. Podemos ver esse mesmo movimento ocorrendo na Coreia do Norte no futuro?

ZAIDAN - É bem possível, se o sucessor for sábio ou astuto. Não é possível manter o país isolado da comunidade internacional, sobretudo depois do fim do socialismo real. Alguma mudança ter de haver, sob pena do regime se acabar. Se o sucessor de Kim jong não for um mero títere ou um idiota, ele sabe que terá de fazer concessões econômico e políticas e abrir o país para o mundo, construindo parcerias estratégicas. Não pode é continuar à margem da comunidade internacional, segurando a bomba atômica. A china poderia ajudar a Coréia.



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Manoel Messias Pereira

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