sábado, 10 de dezembro de 2011

Família de Miguel Sabat Nuet, receberão as cinzas do pai assassinado pela Ditadura no Brasil


As cinzas do cidadão hispano-venezuelano Miguel Sabat Nuet, morto pela ditadura militar brasileira em 30 de outubro de 1973, serão entregues a seus três filhos, que vivem na Venezuela. Eles receberão as cinzas do pai em uma solenidade em memória de Nuet, que será realizada no próximo dia 12 de dezembro, em São Paulo.

Os restos mortais de Nuet foram exumados a pedido da procuradora da República Eugênia Augusta Gonzaga, do Ministério Público Federal em São Paulo, em abril de 2008. Eles estavam enterrados no cemitério Dom Bosco, em Perus, zona norte de São Paulo.

A ossada estava no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo até a última quarta-feira, data em que foi cremada a pedido da família. A cremação foi supervisionada pelo MPF e as cinzas já estão numa urna, sob a custódia da Polícia Federal, pronta para a entrega aos familiares de Nuet.

Em julho de 2008, um fêmur e dentes foram extraídos da ossada para exame por um laboratório de engenharia molecular, de São Paulo. Em agosto do mesmo ano, o resultado do exame comprovou que a ossada encontrada no cemitério clandestino de Perus, em São Paulo, é de Nuet.

Nuet foi preso por uma equipe do Departamento de Operações Internas (DOI) em 9 de outubro de 1973 e apareceu morto três semanas depois em sua cela. Segundo a polícia informou na época, Nuet teria se suicidado.

Com dupla nacionalidade, Nuet morreu aos 50 anos. Vendedor de veículos na Venezuela, ele não teria nenhuma ligação com a militância política contra a ditadura. Segundo apurado, ele deve ter sido preso por engano no Brasil, como suspeito de atividades "terroristas", pois na sua ficha constava um "T" vermelho, que indicava esse tipo de atividade ilegal. Apesar de ter morrido nos porões da ditadura, nunca foi provado seu envolvimento com nenhuma organização da luta armada.

Prisão ilegal
Após a identificação de Nuet, o procedimento administrativo sobre sua morte foi então reaberto perante a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos, sendo que o hispano-venezuelano foi reconhecido como mais uma vítima da ditadura brasileira.

Com relação à sua morte, uma testemunha que esteve presa no Dops à época afirma que se recorda de ter ouvido gritos de "ajuda" e "socorro" em espanhol, vindos de uma cela da carceragem em 1973. O lugar de onde vinham tais gritos era a cela no Dops conhecida como "fundão" ou "forninho". De acordo com a testemunha, os gritos "duravam o dia todo".

De acordo com documentos obtidos pelo MPF-SP junto ao Arquivo Público do Estado de São Paulo apontam que Nuet foi detido ilegalmente pelos militares, que reconheceram inclusive que ele "nada tinha de subversivo". Os responsáveis por seu sequestro e, talvez, por sua morte, foram autoridades públicas agindo sob ordens diretas de representantes do Exército brasileiro. Tais dados, na avaliação da procuradora Eugênia e da Comissão de Mortos e Desaparecidos, permitem concluir que ele foi vítima de sequestro, tortura e homicídio.

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Manoel Messias Pereira

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