quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Exposição em Paris sobre Walter Benjamin


 O filósofo Walter Benjamin (1892-1940), um dos nomes mais importantes da história da filosofia na primeira metade do século XX, deixou um tesouro de pensamentos e imagens salvos graças a seus amigos, e que estão sendo apresentados, a partir de hoje, e pela primeira vez, no Museu de Arte e História do Judaísmo de Paris, 71 anos depois de sua morte na fronteira franco-espanhola.



Os arquivos deste pensador berlinense, autor, entre outros livros, de A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica (1936), existem graças à correspondência com os amigos, entre eles os filósofos Theodor Adorno, Hanna Arendt e Gershom Scholem; o dramaturgo Bertolt Brecht e o escritor Herman Hesse.



Partia de um pensamento que incorporava a influência romântica a um certo messianismo de origem judaica. Nos anos 1920, passou somar a estes fatores o Materialismo Histórico, aproximando-se, então, da chamada Escola de Frankfurt.



A influência de Nietzsche também é claramente perceptível. Sua projeção literária começou com a tese de doutorado: A Crítica de Arte no Romantismo Alemão (1919), seguindo-se, mais tarde As Teses sobre o Conceito de História (1940) - escritas no mesmo ano de seu suicídio, para escapar aos captores fascistas. Postumamente, em 1982, foram publicados os textos reunidos na coletânea Passagens, relativa ao período situado entre os anos 1927 e 1940.



São consideradas inúmeras as influências deixadas por Walter Benjamin na filosofia, na política e na arte contemporânea. A singular combinação de um pensamento messiânico com o Materialismo Histórico, por exemplo, leva à possibilidade de enxergar em Benjamin, tal como propôs Michael L'wi, um precursor da teologia da libertação - o movimento religioso observado na América Latina nas últimas décadas do século XX). Dessa forma, em Benjamin, o Messias seria capaz a própria humanidade oprimida, em sua luta pela libertação.



Os angustiosos anos de ascensão do nazismo obrigaram-no, em 1933, a exiliar-se em Paris. Mas Benjamin, como mostra uma célebre fotografia de Gisele Freund, preparava, na Biblioteca Nacional, suas futuras obras, entre elas as teses Sobre o conceito de história, e um livro ambicioso Paris, capital do século XIX sobre as galerias, arcadas e paisagens da cidade.



Quando as tropas nazistas invadiram a capital francesa, em junho de 1940, Benjamin empreendeu viagem para o posto fronteiriço de Port Bou; planejava cruzar os Pirineus, atravessar a Espanha e embarcar em Lisboa para Nova York. Ao que parece, suicidou-se com uma dose de morfina, em 26 de setembro, ante o temor de que grupos franquistas o devolvessem à França ocupada.



Os manuscritos, fotografias, arquivos, catálogos, cadernos e postais apresentados em Paris "são um testemunho de seus esforços para continuar escrevendo em circunstâncias hostis", diz um dos curadores da exposição, Ermund Wizisla.



Os textos enviados a seus amigos "são frutos da árvore do cuidado, cujas raízes crescem em meu coração e as folhas em teus arquivos", diz em uma carta ao amigo Scholem, quem emigrara para a Palestina, em 1923.



"Recolher seus textos dispersos seria uma tarefa quase impossível, se não fossem suas precauções e a lucidez de seus amigos", acrescentou Wizisla.



A obra de Benjamin é "um audaz projeto de história, arte e pensamento", diz o curador da exposição, lembrando que o filósofo também costumava estabelecer conexões iluminadoras: Chaplin e Kafka.



"Chaplin é chave para entender Kafka, na medida em que Chaplin oferece situações onde as condições do excluído e do deserdado, e a eterna dor humana se encontram ligadoa de maneira única às circunstâncias mais especiais da existência hoje em dia, o regime do dinheiro, a grande cidade, a polícia... em Kafka, todo acontecimento é, ao mesmo tempo, imemorável e uma notícia de última hora", escreveu.



Os arquivos Walter Benjamin fazem parte atualmente de um instituto da Fundação para a Promoção da Ciência e da Cultura de Hamburgo e da Academia de Artes de Berlim, a cidade de sua infância.







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Manoel Messias Pereira

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