domingo, 16 de outubro de 2011

Solidão Urbana


O sinal vermelho imobiliza os automóveis. O bonequinho iluminado, dando um passo, libera a faixa de listras brancas a dezenas de pedestres que saltam a rua. Homens, mulheres, jovens, velhos, um carrinho de bebê, negros, amarelos, ruivas, loucas cruzam a artéria urbana apressadamente.

De segunda a sexta-feira, várias horas por dia, o fato se repete. Muitos pares de pernas que se movimentam. Inumeros braços que se agitam. Tanto olhos que não êem. Corpos que seguem os caminhos de todos os dias. Pessoas que se deslocam como autônomos. Mentes ligadas nos problemas individuais.

O epiléptico cai, se convulsiona, espuma. Os transeuntes o contornam. Alguns saltam sobre as pernas que impedem os passos apressados. Uma bengala branca atinge a cabeça do infeliz. O cego estranha aquele obstáculo inesperado. Pára, desvia.

Ninguém aparou o doente na queda. Nenhum braço susteve a cabeça que bateu no asfalto. O homem está só com sua doença.

O sinal verde acende. O bonequinho está novamente imóvel no poste da calçada. Uma buzina ressoa estridente: um homem espumando impede o avanço do veiculo oficial. O guarda interrompe a conversa com a mulata e olha aborrecido os carros parados.

No interior refrigerado do Diplomata preto, a autoridade ordena ao motorista que desvie e siga. Está atrasado para a reunião com o Arcebispo Metropolitano. Irão tratar da campanha "Solidariedade Humana".



Ewerton Eder de Andrade

Cronista
(Imperatriz-MA)

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Manoel Messias Pereira

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