sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Nascimento de Alves Redol



Casa da Imprensa: centenário do nascimento de Alves Redol

Por Martins Morim

Alves Redol, foi evocado ontem, na Casa da Imprensa, em mais uma sessão comemorativa do centenário do nascimento do primeiro escritor neo-realista português, desta vez pelo Partido Comunista Português (PCP), precisamente no local onde decorreu o velório do «grande escritor e cidadão exemplar», como salientou o líder dos comunistas portugueses, Jerónimo de Sousa.

Um filme sobre a vida e a obra deste ribatejano, nascido em Vila Franca de Xira, no dia 29 de Dezembro de 1911, que o secretário-geral do PCP enalteceu como «figura maior da literatura portuguesa» e «escritor de dimensão internacional», que «completou a actividade literária com uma intensa e constante intervenção política, enquanto resistente antifascista e militante comunista».

A sala de assembleias da Casa de Imprensa encheu-se para ouvir o dirigente comunista falar do autor de Gaibéus, o primeiro romance neo-realista português, em 1939, facto que qualificou como «verdadeiro acto de coragem». E explicou porquê:
— No nosso país, o processo de fascização do estado, concebido por Salazar, inspirado no fascismo italiano e no nazismo alemão, tinha acabado de ser concretizado, com a censura férrea, a proibição dos partidos políticos, a promulgação do famigerado Estatuto Nacional do Trabalho, a imposição da constituição fascista, a criação do Tribunal Militar Especial, da polícia política (então chamada PVDE), do campo de concentração do Tarrafal, da Legião Portuguesa, e de todo um vastíssimo conjunto de instrumentos repressivos. Isto, enquanto, lá fora, terminava a Guerra de Espanha com a vitória dos fascistas e Hitler dava início à II Guerra Mundial e ao seu sonho de domínio do mundo.

Não deve espantar, portanto, mais tarde, em Maio de 1965, Alves Redol, tenha recordado num prefácio para mais uma edição desta obra que «Gaibéus nasceu quando muitos morriam por nós».


De Vila Franca para Angola
Alves Redol nasceu em Vila Franca de Xira, no dia 29 de Dezembro de 1911, filho de António Redol da Cruz, comerciante, e de Inocência Alves Redol. Frequentou o Colégio Arriaga, em Lisboa, onde concluiu o curso comercial.

Observador atento da realidade que o circundava, cedo começou a aperceber-se do mundo dos gaibéus, dos avieiros, dos camponeses e dos pescadores da região. E, aos 15 anos, deu prova dessa atenção e das preocupações que o atormentavam num artigo publicado em Vida Ribatejana. Eram os primeiros passos de um longo caminho que viriam a fazer de Redol o escritor que, como lembrou Jerónimo de Sousa, «trouxe para literatura os problemas dos trabalhadores, os seus anseios, as suas aspirações, as suas lutas».

Dois anos depois daquele artigo, partiu para Luanda, onde chegou com «os bolsos vazios, uma garrafa de vinho do Porto na mão e uma grande vontade de vencer», como ele próprio recordaria mais tarde. Mas não teve vida fácil em Angola, onde foi empregado de escritório, professor no ensino nocturno, porque o salário era curto, e da Vida Ribatejana, semanário para o qual continuou a escrever, não poderia esperar recompensa financeira pelos artigos. Mas a doença obrigou-o a regressar a casa.

Fundador do ‘Goal’ e militante activo
De novo em Vila Franca de Xira, funda o Goal, semanário ribatejano de Desporto, Literatura e Arte, cujo primeiro número saiu no dia 11 de Janeiro de 1933. Tinha 22 anos e revelava já preocupações de natureza social e imensa vontade de intervir na realidade que o envolvia, sempre guiado pela ideia de encontrar soluções para os problemas e as injustiças que identificava.

Alguns anos mais tarde, já nos idos de 40, acabaria por aderir ao PCP e Jerónimo de Sousa fez questão recordar esse período de «luta intensa e de intensa intervenção do Partido», para enquadrar a adesão de Alves Redol e para salientar que, enquanto militante, ele desenvolveu «grande e empenhada actividade, quer participando na organização local do Partido, quer dando o seu contributo para a construção das greves de 1943/44 — na sequência das quais Soeiro Pereira Gomes é forçado a mergulhar na clandestinidade — quer, ainda na organização dos intelectuais comunistas».

Sempre muito vigiado pela PIDE, Alves Redol, conheceu duas vezes a brutalidade da polícia política e foi o único escritor português obrigado a submeter aos seus romances à censura prévia dos esbirros do regime. Nada que o desmotivasse de prosseguir as actividades literária e política e, como salientou Jerónimo de Sousa, «com uma coerência notável, ele será sempre o grande escritor porta-voz dos explorados, o antifascista consequente, o militante comunista abnegado». No folheto entregue aos presentes, ele apresentado como «um escritor do povo».

Alves Redol morreu em Novembro de 1969, três meses antes de completar 57 anos e o seu funeral, recordou o dirigente comunista, «constituiu uma impressionante manifestação do apreço, da admiração e da gratidão que lhe votaram os trabalhadores e o povo»

BIBLIOGRAFIA

Romances
Gaibéus (1939)
Marés (1941)
Avieiros (1942)
Fanga (1943)
Anúncio (1945)
Porto Manco (1946)
Horizonte Cerrado (1949)
Os Homens e as Sombras (1951)
Vindima de Sangue (1953)
Olhos de Água (1954)
A Barca dos Sete Lemes (1958)
Uma Fenda na Muralha (1959)
Cavalo espantado (1960)
Barranco de Cegos (1961)
O Muro Branco (1966)
Os reinegros (1972)

Teatro
Maria Emília (1945)
Forja (1948)
O Destino Morreu de Repente (1967)
Fronteira Fechada (1972)

Contos
Nasci com passaporte de Turista (1940)
Espólio (1943)
Comboio das Seis (1959)
Noite Esquecida (1959)
Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos (1962)
Histórias Afluentes (1963)
Três Contos de Dentes (1968)

Literatura Infantil
Vida Mágica da Sementinha (1956)
A Flor Vai Ver o Mar (1968)
A Flor Vai Pescar Num Bote (1968)
Uma Flor Chamada Maria (1969)
Maria Flor Abre o Livro das Surpresas (1970)

Fotos de Alexandre Pona/ASF
00:30 - 07-12-2011 IMAGENS RELACIONADAS

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Manoel Messias Pereira

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