Waldemar Bastos
O músico angolano Waldemar Bastos apresenta-se em concerto com a Orquestra Gulbenkian a 16 de novembro, no Centro Cultural de Belém, no que descreveu como um "encontro da música ocidental erudita com a música contemporânea de África".
Em entrevista à Lusa, o compositor angolano, que vem apresentar o álbum “Classics of my Soul”, gravado com a Orquestra Sinfónica de Londres, e que acaba de chegar de uma série de atuações na Coreia do Sul, contou que gravar com uma orquestra era um sonho antigo.
“Este disco foi um sonho que eu tive, há muitos anos, de também cantar a música contemporânea de África com uma orquestra; eu comecei a tocar porque o meu pai era organista de música sacra, tanto que eu toco por defeito: na minha maneira de tocar violão, eu toco com preenchimento, toco baixo, solo e ritmo ao mesmo tempo, precisamente porque mesmo muito jovem – comecei com sete anos – eu já tinha a preocupação de querer ter algo a acompanhar-me por trás”, explicou.
“E fui caminhando, caminhando, até que chegou a esse ponto de gravar clássicos [do cancioneiro angolano] com a Orquestra Sinfónica de Londres e o disco foi muito bem aceite”, observou.
Agora, em Lisboa, vai apresentar o disco com a Orquestra Gulbenkian, o que considera “muito importante”.
“Para mim, tocar com a Orquestra Gulbenkian é o encontro da música ocidental erudita, uma orquestra clássica, sinfónica, com a música contemporânea de África, que não é mais do que os nossos sonhos – os meus e felizmente de muito mais músicos no mundo – de quebrar barreiras e, com estes encontros, dar às pessoas uma viagem na compreensão do entendimento entre as culturas, de uma forma natural, de uma forma aberta e profunda, mas que, ao mesmo tempo, é leve, porque, afinal de contas, nós só somos um Homem e a música é aquilo que nos pode levar a ver e a sentir que um mundo mais fraterno e mais harmonioso é bem possível”, sustentou.
Sobre a sua música, muitas vezes definida como um misto de afro-pop, fado, soul e influências brasileiras, Waldemar Bastos explicou que ela tem a ver com as músicas todas que ouviu.
“Porque nós, se falarmos historicamente, enquanto colonizados, ouvíamos de tudo – eu ouvia Amália Rodrigues. A minha música tem um bocado de tudo, porque tudo de bom das culturas, eu absorvo; o que é belo, eu absorvo naturalmente”, referiu.
“É lógico que sou compositor de um país que tem uma música forte e a espinha dorsal ou a alma é aquela. Mas, à volta dela, está toda a minha viagem musical e intelectual ou espiritual, por onde eu ando”, sublinhou.
Inquirido sobre se acha que os músicos, como outros artistas, devem ter um papel interventivo na sociedade, Waldemar Bastos respondeu: “Eu penso que sempre que se fala de valores, os valores são um apelo à consciência, e acolá, onde as coisas não estiverem corretas, essa música pode fazer refletir”.
“Aí, sem intervenção direta política - porque eu acho que a música é música -, mas os valores que ela transporta, os sentimentos, tudo isso, pode fazer refletir e ajudar a política até a melhorar”, defendeu.
“A minha música nunca foi de intervenção direta… Eu faço arte. E o belo pode ter a capacidade de transformar para melhor”.
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