segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Santos Reis :Fé e Tradição

Santos Reis: fé e tradição


DIÁRIO DA MANHÃ
CÉLIA VALADÃO
Tenho imenso prazer em escrever hoje para lembrar uma data, em cujos valores me levam a pensar a minha trajetória de vida, haja vista ser, não apenas uma data, mas um período em que me toca e me emociona. Esse período reflete a religiosidade e a tradição secular que permanece viva, tanto nos meios rurais como também nos centros urbanos.

Falo, portanto, do dia 6 de janeiro, quando se comemora o Dia de Reis. E para situar essa data, aqui faço um retrospecto da história desse período dedicado aos Santos Reis, que é uma data tão importante na vida das pessoas devotadas aos Santos, no Brasil e no mundo. O Dia dos Santos Reis é assim denominado por ser nesse dia que Jesus, recém nascido, recebeu a visita dos Reis Magos, Melchior, Baltazar e Gaspar, os quais se tornaram Santos a partir do século VIII quando foram referenciados pela igreja católica, por terem sido os primeiros a visitar o Menino Jesus, ocasião em que levaram presentes a Jesus Cristo. Cada um dos Reis Magos saiu de suas cidades de origem para presentearem o novo Rei tão esperado.

Baltazar saiu da África levando mirra para o menino, um presente ofertado aos profetas. A mirra é um arbusto originário desse país, de onde é extraída uma resina para a preparação de medicamento.

O presente do Rei Gaspar, que partiu da Índia, foi o incenso, como alusão a sua divindade. Os incensos são queimados há milhões de anos para aromatizar os ambientes, espantando insetos e energias negativas, além de representar a fé, a espiritualidade.

Melchior ou Belchior partiu da Europa, levando ouro ao Messias, Rei dos Reis. O ouro simbolizava a nobreza e era oferecido apenas aos deuses.

A referência dos católicos quanto aos Reis Magos encontra-se no Evangelho segundo São Mateus, não havendo, portanto, outra fundamentação teológica a essa história católica. Mas a tradição interpôs para fazer dessa data também um folclore religioso, cuja veneração e homenagem aos Reis Magos pelos festejos do Dia de Reis são  ligados às comemorações  natalinas, tendo em vista que no dia 6 de janeiro os ornamentos de natal são desfeitos e cedem lugar às festividades da tradição religiosa e folclórica – a “Folia de Reis”. As Folias de Reis tiveram seu início nas encenações das peças teatrais das Igrejas Católicas na Europa em meados do século XVI. Estas encenações relatavam passagens bíblicas e temáticas do ciclo natalino, incluindo a Epifania (primeiro indício da vinda de Cristo.) Embora façam parte do nosso folclore, esse costume veio para o Brasil por intermédio dos portugueses, ainda no período da colonização, no século XVI, cerca do ano de 1534, trazido pelos Jesuítas, para servir como instrumento na catequização dos índios e, posteriormente, dos negros escravos. Essa manifestação cultural caracteriza-se pelos cantos e danças nas residências. Hoje se mantém viva nas manifestações folclóricas de muitas regiões do país. Ela apresenta um caráter profano-religioso, fazendo parte do ciclo natalino, anualmente realizado entre 24 de dezembro a 6 de janeiro.

Como esse costume faz parte da nossa cultura tradicional brasileira, reporto-me a esse período dos festejos de Natal para lembrar-me da minha ativa participação, quando acompanhava ainda criança os grupos que visitavam as casas, tocando músicas alegres em louvor aos Santos Reis e ao nascimento de Cristo. Assim, se estendiam até a data consagrada aos Reis Magos, 6 de janeiro. Essas manifestações festivas fazem parte da minha vida em boas lembranças juntamente com minha família, mas que continuo participando, pela minha devoção aos Santos Reis.

Os grupos chamados de “Folias de Reis” ou, em determinados lugares, de “Terno de Reis”, são compostos por músicos que tocam instrumentos, em sua maioria de confecção caseira e artesanal, como tambores, reco-reco, flauta e rabeca  (espécie de violino rústico), além da tradicional viola caipira, gaita, sanfona ou pé-de-bode.

Além dos músicos instrumentistas e cantores, aos grupos muitas vezes também se agregam dançarinos, palhaços e outras figuras folclóricas devidamente caracterizadas, segundo as lendas e tradições locais. Todos se organizam sob a liderança do Mestre da Folia e seguem com reverência os passos da bandeira, cumprindo rituais tradicionais de inquestionável beleza e riqueza cultural.

As canções são sempre sobre temas religiosos, com exceção daquelas tocadas nas tradicionais paradas para jantares, almoços ou repouso dos foliões, onde acontecem animadas festas com cantorias e danças típicas regionais, como catira, moda de viola, etc. Contudo, ao contrário dos Reis da tradição, o propósito da folia não é o de levar presentes, mas de recebê-los do dono da casa para finalidades filantrópicas. Ali, as fartas mesas dos jantares e as bebidas são oferecidas aos foliões e até mesmo aos convidados.

A tradição acontece em várias regiões, sobretudo nas pequenas cidades dos Estados de Goiás, Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, dentre outros. Em Goiás, a folia de Reis peregrina por várias cidades, especialmente em Goiânia, a tradição revela o quanto os goianos são devotos dos Santos Reis. Grande parte dos grupos culmina suas temporadas de folias na Matriz de Campinas.

A forma em que os foliões se envolvem quando entoam as músicas de agradecimentos e pedidos é comovente. Quando participo cantando e rezando com aquelas pessoas tão fervorosas, me emociono, porque naquele momento se realiza a fé expressa de maneira simples e espontânea, caracterizada pelos hábitos da população rural e cultivada na cidade.

O Dia de Reis não é, portanto, apenas um referencial folclórico, ou até o dia de se realizar pedidos de superstições, mas um dia de louvar e agradecer, na forma mais singela, por meio das músicas e pelas orações, todas as graças realizadas por intercessão desses Santos queridos.

(Célia Valadão, vereadora, líder do governo municipal)



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Manoel Messias Pereira

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