sábado, 13 de julho de 2013

Marcas de Mãe

O primeiro prato feito
não admitia dúvida:
tinha divisões, onde
cada porção se punha
certa e definitiva.
O punhado de arroz
a colher e meia de feijão
a cor de legume medido
a carne cortada em cubos
contados. Depois, no prato
raso do mesmo jogo
a fatia certeira de queijo
e de doce acabando juntos.
Mais tarde, na louça adulta
e anônima, a mesma mão
destinada, dispunha
sem engano, a comida.
Nem mais, nem menos
mas com tempero oculto
um veneno de mentira:
o que era antes interdito
à criança se permitia
ao menino que não crescia.
Agora, sem sua certeza
me sirvo hesitante:
o que corto, o que ponho
ora sobra, ora falta
e não sei, exatamente
o que me alimenta ou me mata.



Armando Freitas  Filhos

poeta
texto publicado na Folha de São Paulo

ilustríssima 9/06/2013




Um comentário:

  1. As almas tem formas estranhas de alimentar-se; o que alimenta uns, mata outros. Ótimo poema!

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Manoel Messias Pereira

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