segunda-feira, 3 de março de 2014

Reflexão Literária - Crônica de Manoel Messias Pereira, poesias de Manuel Bandeira e Wellington Ferreira Ramos

Crônica de Manoel Messias Pereira
A pobre e velha senhora da Estação de Trem

Quase todos os dias, uma senhora de aparência cansada percorria a estação de trem e pedia dinheiro aos transeuntes para completar o valor de uma passagem, como ela dizia. Mas nunca partia, saía dali, e voltava num outro dia.

A história era sempre a mesma tinha que ver uma filha e recolhia o dinheiro pra completar a passagem e nunca partia. Aquela pobre desgraçada mulher já fazia parte da arquitetura de lugar, da filosofia do lugar, da harmonia do lugar. Todos os dias ela abordava os transeuntes pedindo a esmola, com a mesma história.

O trem chegava partia, haviam que descesse, havia quem partia, haviam aqueles que se abraçavam, aqueles que choravam, aqueles que sorriam, aqueles que quando o trem ia acenavam lenços. E assim sorrindo, chorando, acenando era um festival de gerúndios acontecendo.

Mas a paisagem da estação sempre trazia aquela senhora que pedia uma miséria pra completar a passagem mas nunca partia. Nunca ninguém viu-a bebendo, fumando ou fazendo uso de droga qualquer. Na verdade acho que ela não tomava nem café.

É mas ontem amanheceu chovendo e a senhora que caminhava de um lado para o outro estava num canto da estação quieta, deitadinha. Chamou atenção do guarda.Que chamou-a, chamou-a, mas ela não  levantou. Enfim estava morta.

Talvez ontem ela não conseguiu pedir esmola pra ninguém, nem falou que necessitava completar o dinheiro pra partir. O trem sim chegou partiu. Mas se ela não foi no trem há quem diga que ela foi sim para o além.

Talvez a arquitetura do lugar, ficou triste, e foi por isto que o dia amanheceu chorando, com a chuva, já que ela não tinha ninguém pra chorar por ela.


Manoel Messias Pereira

cronista e poeta
São José do Rio Preto - SP


O trenzinho da Caipira de Villa Lobos


poesias de Manoel Bandeira
Trem de Ferro
Café com pão 
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vaou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo 
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)


Manuel Bandeira

poeta brasileiro
Recife - PE - Brasil



Raul Seixas - Olha o Trem


Wellington Ferreira Ramos
Para lugar algum

Estou esperando o Trem
Com destino para lugar algum
Em sua trilha infinita
Lotação igual a um

Nesse trem não levarei malas
Nem lembranças, nem saudades
Viajando na velocidade da vida
Para trás deixo minhas maldades

Pela janela vejo nuvens
Sinto que já não faço parte
Desse mundo cheio de intrigas
Abandono o espírito covarde

Entrando na cabine
Vejo de branco o maquinista
Suas mãos têm cicatrizes
Culpa de eu ser egoísta



Wellington ferreira Ramos

poeta brasileiro
Ibirité - MG - Brasil



Almir Sater




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