quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O OPERÁRIO DA UTOPIA




Apanhado em meio da noite,


Jgado ao chão da cela,


o corpo nu conhece


a primeira humilhação,


Outras virão: o soco,


o choque, a ameaça,


o urro na escuridão.




-Quantos volts


suporta um corpo


-em coação,


até que dele escorra o fel


da delação?




-O que procuras o ortura/dor


nas pedras do rim alheio


como vil minera/dor?


-O que ama esse ama/dor


da morte?




esse morcego suga/dor


sob os porões da corte?


esse joga/dor


do jogo bruto


e cria/dor


do luto?




O tortura/dor se sente, e acaso o é


um trabalha/dor diferente:


seu trabalho é destruir


o sonha/dor insistente,


como o médico que resolvesse


matar de dor


-o cliente.




Mas sob a tortura


o que há de melhor no homem


jamais se manifesta. Quando muito


podeis catar no chão


o pouco que dele resta.


Mas soltai-o em festa, ao sol,


e vereis que a verdade


de seus gestos se irradia.


Livre


vestindo a pele do dia


o torturado caminha


com o seu corpo tatuado


de violência e poesia.




Mas ele não marcha só.


Apenas segue na frente


na direção da utopia.




Affonso Romano de Sant'Anna

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Manoel Messias Pereira

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