sábado, 11 de junho de 2011

As Escolas e a homofobia




Escolas não estão prontas para lidar com o preconceito
11/06/2011 06:09
Fonte: O Tempo (MG)

Arthur Oliveira assumiu a homossexualidade aos 17 anos. Mas conheceu o preconceito bem antes disso. "Desde a pré-escola, os meninos não gostavam de ficar perto de mim. Eles debochavam porque eu não gostava de jogar futebol", lembra.

Certa vez, uma professora propôs que os alunos adaptassem o conto "Branca de Neve e os Sete Anões" para o teatro. Alguns colegas o humilharam em público, dizendo que ele poderia interpretar a mocinha da história. "Para piorar, depois do ensaio, três meninos me cercaram e começaram a me agredir com empurrões e pontapés. O episódio só não foi mais grave porque alguém interveio". Ele chegou a convencer os pais a transferi-lo para outra escola. "Meu sofrimento era perceptível. Queria sair de qualquer jeito".

Relatos como os de Arthur, hoje com 21 anos, são muito comuns aos estudantes que não se enquadram aos padrões heterossexuais de gênero. E a escola, que deveria justamente estimular a diversidade, é um dos espaços mais intolerantes. Recente estudo da Fundação Perseu Abramo com 413 homossexuais e bissexuais em 150 cidades brasileiras aponta que pelo menos 27% deles sofreram preconceito no ambiente escolar e 13% afirmam que esse foi o primeiro lugar onde sofreram discriminação.

O kit anti-homofobia, elaborado pelo MEC e cuja distribuição foi suspensa pela presidente Dilma Rouseff, pode ser uma das soluções para, ao menos, amenizar esse quadro. Sua principal função é orientar os educadores a lidarem com a diversidade sexual, com sugestões de filmes e oficinas. "O kit é essencial para combater a homofobia. A discussão não pode passar despercebida. Pelo contrário, deveria começar mais cedo, desde o início da educação", defende a educadora Adla Betsaida Martins, coordenadora do Grupo de Estudos sobre Gênero, Sexualidade e Sexo em Educação (GSS), da UFMG. Além de abalar a autoestima, a homofobia no ambiente escolar afeta o aprendizado e é uma das principais causas da evasão de alunos, cerca de 20%, segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe). "Os abusos físicos e emocionais comprometem muito o desempenho daqueles que não atendem aos padrões de masculinidade e feminilidade", afirma Adla. Segundo ela, quanto maior o índice de preconceito, maior a queda do rendimento. "Não conheço homossexual que não tenha enfrentado bullying e homofobia na escola, principalmente em cidades pequenas", diz Eliane Dias, 33. Lésbica e negra, ela conhece bem o significado prático da palavra "preconceito". "Não era tão feminina como as outras meninas e não gostava muito de usar saias e vestidos. Em vez disso, jogava handebol. Era a goleira, a mais masculinizada da equipe. Quando estava na 4ª série, apanhei de uma colega só porque era diferente", recorda. Devido à discriminação, Eliane pensou em suicídio na adolescência - a propósito, nos EUA, 62,5% dos adolescentes que tentam se matar são homossexuais. "Duas pessoas com quem eu me relacionava se afastaram de mim quando perceberam que eu era lésbica. Isso também é uma agressão. A gente sofre calado, pois se sente marginalizado", diz. A maioria das escolas brasileiras é omissa nas demonstrações de homofobia e muitas vezes as interpretam como naturais. É o que revela recente pesquisa qualitativa da ONG Pathfinder International, que entrevistou 1.406 alunos e educadores de 44 instituições públicas em 11 capitais brasileiras. "Os professores realmente estão despreparados", admite a professora Adla Betsaida Teixeira, coordenadora do Grupo de Estudos sobre Gênero, Sexualidade e Sexo em Educação (GSS), da UFMG. "Eles não reconhecem seu próprio discurso homofóbico e suas limitações para ouvir e entender o sofrimento do aluno". Além da falta de qualificação para lidar com a homossexualidade, os educadores enfrentam o preconceito dos próprios pais ? muitos, a propósito, são contrários ao kit anti-homofobia. "Os professores relatam que, sempre que abordam o assunto, no outro dia muitos pais procuram a escola para reclamar", afirma a presidente do Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), Edith Modesto.

De acordo com ela, a maioria das vítimas sofre calada. "Eles têm vergonha da família e, na maioria das vezes, não relatam os abusos sofridos", diz. Foi o que aconteceu com Gustavo Teixeira, hoje com 25 anos. Ele não sofreu episódios graves, mas teve que conviver com piadinhas, no ensino médio, que afetaram seu convívio social. "Eu me isolei, pois não conseguia me adaptar aos padrões de gênero impostos na escola. Em alguns momentos, tive vontade de abandonar os estudos", relata. Na época, ele ainda não tinha plena consciência de que era gay. "Passei por um processo de negação e vivi uma vida que não era a minha até a faculdade, onde encontrei aceitação". Mas mesmo a faculdade não é isenta de preconceitos. A universitária Julinéia Soares, 22, reclama de que sua orientação sexual incomoda as pessoas. "Questionamentos não são tão incisivos, mas são frequentes. Uma colega de classe já me acusou de me afirmar como bissexual só para ?aparecer?", diz. "Infelizmente, o movimento contra o kit anti-homofobia demonstrou que a sociedade ainda não está preparada para debater o preconceito de orientação sexual e gênero", lamenta Edith. "Mas falar sobre a diversidade é necessário. Talvez os professores possam utilizar recursos mais leves, diluindo a homofobia entre outras formas de preconceito, inclusive o religioso", sugere.







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Manoel Messias Pereira

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