domingo, 23 de agosto de 2009

O Instante

Ainda bem jovem nos idos de 1975, li na extinta Revista Escrita numa entrevista com o professor Antonio Candido que indagou-o sobre o conceito de vanguarda. A resposta foi "a opção consciente no sentido de renovar as artes ou a literatura de modo radical e constante, e não renovar para permanecer. Nesse sentido é um fenômeno pós-romântico e só configurou plenamente no nosso século. " E ainda acrescentou que a mudança social e tecnica é tão acelerada, muda tanto na fisionomia das sociedades que as formas literárias e artísticas se desgastam rapidamente, requerendo o esforço de refazê-las. E nesta mesma entrevista o professor citava Paul Valéry que numa frase dizia " o instante é a nossa unidade de tempo e está aberto ao provisório" e nisto penso que que é necessário a experiência, o reiventar o trabalho laboratorial do escritor.

Nesta mesma revista o escritor Assis Brasil, contestava os poetas, os críticos que acreditavam que a poesia pós vanguarda, seriam as letras de musicas de artístas como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Carlos Capinam. Dizendo que isto era um grande equívoco,pois numa análise destas letras sem a participação harmônica da melodia remontam os anos 50, caminhos feitos por Carlos Drumond de Andrade e Manuel Bandeira.

Outros poetas como Afonso Ávila e Afonso Romano de Sant Anna oriundo do movimento "tendência" de Minas Gerais estavam ligadas ao concretismo embora extrapolavam a idéia da imagem. E desta forma Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Décio Pignatari, já haviam publicados livros na concepção metafórica da poesia.

Com estes comentarios feitos a mais de trinta anos, creio que no contexto literário pouca coisa mudou, ou seja romper com o senso comum na forma de escrever, do fazer pético não é um trabalho fácil.

É preciso sempre ficar atento para os novos autores, que de forma fragmentada acontece em nossas vidas, e reconhece-los, como seguidores de uma corrente de uma lógica, ou melhor como dizem a juventude de uma tribo é dificil, penso que muitos até já romperam com um status quos do passado, como Ana Cristina Cesar, Mafra Carboniéri, Felipe Velho,, Eder Pires da Fonseca, João José Purini, Xico Chaves, Luis Silva o popular Cuti entre outros tantos. Mas estes autores não estão inseridos num movimento x ou y, E dai a necessidade até de um trabalho acadêmico, pra embasar, dar suporte a qualquer tentativa de discurso ou caminho que possamos apropriar.

Ah adorei ver um poeta outro dia na Revista Cult, um tal de Marcelo Ariel que escreveu um poema chamado "O espantalho para criança" cujo o texto é assim "No meio do lixão
Visão do alto
Uma calça e uma camisa
sem sapatos
suas mãos
dois urubus rasgando um saco
sua cabeça
um rato."
Outro fragmento do auto ele diz "morte pode ser o teu último e verdadeiro orgasmo/ translúcido nos limites do emaranhado da almA ou o vôo do pássaro da anti-matéria/dentro do branco dos teus olhos.

Manoel Messias Pereira
professor e poeta

Nenhum comentário:

Postar um comentário

opinião e a liberdade de expressão

Manoel Messias Pereira

Manoel Messias Pereira
perfil

Pesquisar este blog

Seguidores

Arquivo do blog