domingo, 2 de fevereiro de 2014

Literatura Reflexiva - Rubens Braga, Sueli Aparecida Herrera Carneiro e, Manoel Messias Pereira

crônica de Rubens Braga


A OUTRA NOITE

Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.

Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou o sinal fechado para voltar-se para mim:

-O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas, tem mesmo luar lá em cima?

Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra - pura, perfeita e linda.

-Mas, que coisa...

Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa.

-Ora, sim senhor...

E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um "boa noite" e um "muito obrigado ao senhor" tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei.


Rubens Braga

cronista brasileiro




Valsa do Amor

poesia de Sueli Aparecida Herrero Carneiro
Amigo

É uma alegria saber.
Que alguém se lembra da gente.
É carinho e bem querer.
Que faz o coração contente.

Amigo é aquele que vai.
Amigo é aquele que vem.
É um bem que não se esvai.
É um querer que nos faz bem.

Temos amigos de fora.
E temos aqueles de outrora.
Um bom amigo não se esquece.
No coração permanece.


Sueli Aparecida Herrero Carneiro

professora e poetisa
Milton Nascimento Canção da América





Poesia de Manoel Messias Pereira

Um corpo adoentado
chamado Estado
podre, fétido
desgovernado
um teatro,
uma peça
como uma festa
regado
a um caldo
de dinheiro
público,
muitas vezes desviado
outras vezes mal empregado,
a cosia é séria
basta ver as veias,
deste corpo
chamado estado,
neurótico
e único
com o propósito
de entreter,
entreter-nos
sem o olhar ético
com pão e circo
cujo os palhaços
somos nós que rimos
e aplaudimos
sem sermos críticos
essa nossa miséria
adulta
total e absoluta,
nesta comédia
sem graça
que vira essa tragédia
essa desgraça
graças a essa
brincadeira
sem graça
de desgovernadamente
tentar governar
e só fazer festas
com o dinheiro público
e isto é phoda!


Manoel Messias Pereira

 poeta
São José do Rio Preto-SP.

  Legião Urbana


Nenhum comentário:

Postar um comentário

opinião e a liberdade de expressão

Manoel Messias Pereira

Manoel Messias Pereira
perfil

Pesquisar este blog

Seguidores

Arquivo do blog