segunda-feira, 11 de junho de 2012

Condições de vida influenciam islamismo radical na África



Condições de vida influenciam islamismo radical na África, diz especialista

Em artigo para o jornal francês Le Monde, a cientista política especializada em geopolítica dos conflitos e professora da Universidade de Versailles Saint-Quentin-en-Yveline, Julien Théron, afirma que o islamismo radical se tornou um importante componente geopolítico na África. Na publicação, a professora destaca que a aparente unidade ideológica desses grupos, no entanto, mascara uma grande diversidade, mas que esses grupos radicais não são menos convergentes por seus objetivos.



Théron expressa que, apesar da idéia de um monopólio da facção terrorista Al-Qaeda sobre os grupos islâmicos africanos, na realidade é o Grupo Islâmico Armado argeliano que serve de exemplo a muitos grupos armados. Segundo a especialista, eles adotaram a estrutura em falanges e combatente autônomos, mas sobretudo uma ideologia relativamente localizada e um operacionalização fundada menos na ação local.



Ela contextualiza que, na Somália, a União das Cortes Islâmicas emergiu como um movimento muçulmano composto, antes de se separar, tendo dois ramos radicais como produto, as famosas milícias Al-Chebaab e o Hizbul Islam antes de se fundir sob a bandeira dos chebaas negros. Embora em contato com a Al’Qaeda na Península Arábica, a guerra dos líderes e o colapso do regime no Iêmen provocaram certa pressa de distância em relação à Al-Qaeda. Contudo, a especialista afima que os chebaabs lutam antes de tudo pelo poder na Somália.



Da mesma forma, na Nigéria, o grupo Boko Haram, conquanto seja influenciado por movimentos salafistas e talibãs, pratica um islamismo heterodoxo que agrega práticas que têm mais da cultura africana do que do rigor islâmico. Théron opina que se a emergência sociológica de Boko Haram é comparável à do movimento talibã, ela se faz menos por uma adesão aos princípios do fundamentalismo do que sobre uma contestação política do poder na região.



Em Mali, atenta o artigo, é possível encontrar toda a diversidade dos grupos islâmicos do continente africano. Fora a Al-Qaeda do Maghreb islâmico (AQMI), que opera até fora do continente, muitos grupos têm surgido na metade norte do país após a conquista desta região pelos tuaregues secessionistas, grupos, que segundo Théron, se distinguem por diferentes objetivos. A especialista destaca que Ansar Dine é um movimento islâmico, mas dirigido por um tuaregue, Iyad Ag Ghali, que viveu na Arábia Saudita. Segundo ela, o grupo parece estar ligado tanto à AQIM como à independência Tuareg, mas não é separatista e prefere o estabelecimento de um regime islâmico em todo o país.



A autora ressalta outro grupo ativo: o Movimento por Unificação da Jihad na África Ocidental (Mujao), que constitui uma força djhadista regional dirigida por um mauritano, Hamada OuldKhaïrou, que reivindica a incorporação, entre outros tuaregues, de nigerianos e chadianos. Ele diz se aplicar dentro da lógica da AQMI e de Ansar Dine, mas também dos chebaas somalianos e dos islamistas do Oriente Médio ou da Ásia. “Seu objetivo é estender o jihadismo à África negra”, afima Théron.



Para a autora, AQIM, Mujao, Ansar Dine constituem três facetas do islamismo radical na região do Sahel, cujas ideologias e objetivos são distribuídos de forma islâmico-nacionalista.



“Além disso, e trata-se de um desenvolvimento relevante, Boko Haram enviou ao norte do Mali combatentes nigerianos e do Níger”, escreve Théron.”Eles coordenariam suas operações com a AQMI, que conseguiria finalmente supervisionar alguns destes grupos islâmigos emergidos em escala local, com inspiração religiosa sensivelmente distinta e atrelados à sua região de origem”.



Se estes diferentes movimentos se assemelham quanto à rejeição de um Ocidente libertário e de serem formados por regimes locais considerados corruptos, se diferem em suas origens geográficas, ideologias religiosas, demandas políticas e respectivos procedimentos.



“O fato é que com a ausência crônica de melhores condições de vida locais, o radicalismo de oposição que partilham está crescendo. E é precisamente nesta oposição comum que eles extraem seu principal fator de convergência estratégica. A luta contra esses grupos, portanto, deve reforçar os seus direitos locais, assim como sua aliança de leste a oeste da África”, finaliza Thóren.



Tags: áfrica, conflitos, islamismo, radical, revolução


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Manoel Messias Pereira

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