sábado, 14 de setembro de 2013

Desafios das Escolas Indígenas e quilombolas

13/09/2013 21:05
Plenárias discutem desafios das escolas para indígenas e quilombolas

Para os indígenas, nunca é ensinado que Cabral descobriu o Brasil, explica educadora

Da Redação - Foto: Maurício Garcia


Jerá Giselda Guarani fala durante conferência
São Paulo tem mais de 40 aldeias indígenas; quatro delas estão na capital e abrigam uma população de mais de 6 mil pessoas. Os desafios para a educação dessas etnias foi o tema abordado por Jerá Giselda Guarani, em uma das plenárias realizadas nesta sexta-feira, como parte da 1ª Conferência de Educação para as Relações Étnico-Raciais do Estado de São Paulo.

Jerá é vice-diretora da unidade escolar Guyra Pepó, da aldeia Tenonde Porã (etnia guarani mbya), no extremo sul da capital. Ela falou sobre o trabalho da Secretaria da Educação estadual na implantação de escolas que definiu como de educação diferenciada, situadas dentro de territórios indígenas.

"A alfabetização é bilíngue. A escola tem que atuar com todas as disciplinas de juruá [cultura não-guarani], mas a maneira como as matérias são ensinadas é adaptada. Para os indígenas, nunca é ensinado, por exemplo, que Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil", ela observou.

A combinação, nas aulas, de disciplinas do currículo estadual e de ações para o fortalecimento da língua e da cultura indígenas provoca questionamentos, segundo Jerá, sobre os limites da escolarização da cultura indígena e a capacidade que esta apresenta de continuar atuando sem a interferência do ensino tradicional.

Ela acredita, no entanto, que uma conciliação é possível, definindo, a partir de um planejamento local, estadual e nacional, intenções pedagógicas sobre o que ensinar da cultura juruá. "A tecnologia é importante, mas precisamos discutir até que ponto trazer isso para as crianças e em paralelo fortalecer a cultura guarani sem que a escola interfira tanto. Por isso tomamos o cuidado de, por exemplo, não levar o líder espiritual ou as danças tradicionais para a sala de aulas", explicou Jerá. "Assim é possível fazer com que a escola se torne um instrumento de sabedoria."

O ensino avançou no respeito à cultura das etnias, avaliou Jerá. Daí, segundo ela, surgiu a proposta da secretaria de privilegiar a atuação de professores indígenas da mesma etnia, que saberiam equilibrar os elementos de ambas as culturas na sala de aulas. No Estado são encontradas tribos das etnias guarani mbya, tupi-guarani, kaigang, terena e krenak. As quatro aldeias na capital (Tenonde Porã, Krukutu e duas no pico do Jaraguá) são da etnia tupi-guarani.

O ensino nas comunidades quilombolas foi abordado na mesma plenária pelo professor Luiz Marcos de França Dias. Ele é originário da comunidade quilombola de São Pedro, no Vale do Ribeira, que hoje conta com 150 pessoas. Seu tataravô foi um dos fundadores da comunidade.

Dias lembrou que, na sequência de reivindicações que remontam aos anos 1980, após a Lei 10.639/2003 foram definidas legalmente as bases da educação para as relações étnico-raciais e, em 2012, surge o parecer que formaliza a educação escolar quilombola. "Isso é essencial para um grupo que sempre esteve excluído e nunca teve seus valores culturais e socioambientais ressaltados", observou.

A lei existe, mas sua implantação caminha a passos lentos, avalia Dias. "Nem sempre o que é instituído está sendo praticado. Avançamos muito, mas há muito que avançar ainda, na formação de professores, por exemplo. A formação de professores e de grupo escolar é o ponto-chave."

Professor concursado do Estado, em estágio probatório, Dias leciona na capital, porque não havia vaga na sua região. "Isso é outra lacuna: não há políticas públicas que permitam que o profissional trabalhe na escola da sua própria comunidade", observou. Para ele, a combinação da formação na academia com a vivência na comunidade torna-se um diferencial para o professor.

Com experiência como professor em comunidade quilombola de 2008 a 2012, ele afirma que a educação não pode ficar presa a um padrão. Na educação quilombola, por exemplo, é preciso valorizar aquilo que a criança traz de casa, o que aprendeu com sua família. "Não se trata de esquecer física, química ou inglês; mas o aluno deve manter o seu idioma, o seu dialeto", explica.

Para ele, o "e" que deve ser ensinado na escola quilombola não é o "e" de elefante, mas o de enxada, instrumento que seu pai utiliza todo dia para trabalhar na roça.

Ainda no período da manhã, foi realizada plenária com o tema Gestão Democrática, Participação Popular e Controle Social na Perspectiva da Educação das Relações Étnico-Raciais, sob a coordenação de Vania Soares, representando a Coordenadoria de Políticas para Negros e Índios do Estado de São Paulo, vinculada à Secretaria da Justiça.

No evento, a professora Denise Carreira, da ONG Ação Educativa, afirmou que não é possível garantir educação de qualidade para todos sem abordar a discriminação racial. "O fortalecimento da gestão democrática anda de mãos dadas com as populações historicamente excluídas", ponderou. (mlf)





Luis Marcos - Quilombola - Quilombo São Pedro - Vale do Ribeira





Vânia Maria Santos e Denise Carreira

Experiências sendo apresentada.


Jerá Giselda e Mauricio

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Manoel Messias Pereira

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