quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

As cartas entre Mario de Andrade d Câmara Cascudo

Câmara Cascudo e Mario de Andrade




Confissões epistolares de Cascudo

29/12/2010

Fonte: Tribuna do Norte



Ticiano Duarte - jornalista Na correspondência de Cascudo com Mário de Andrade, há revelações importantes sobre a situação de sobrevivência do grande norte-riograndense, enfrentando dificuldades financeiras, nos primeiros anos da derrocada do pai que perdera o patrimônio e encerrara os negócios, proprietário que fora de uma das lojas mais prósperas e sortidas do comércio local. Em carta ao paulista, seu amigo e compadre, confessa sua situação pessoal, com o pai na sua companhia, na rua Junqueira Aires, no bangalô, como ele chama, após os credores tomarem a belíssima chácara do Tirol, número 596, na rua Jundiaí. A nova residência de Cascudo, filho, dizia ele para o seu amigo, “é um bangalô na principal ruía da cidade, aquela que sobe para a cidade alta (hoje a sede do Ludovicus). Nesta casa há sempre o quarto do seu doutô Mário...”. Mais adiante, nessa correspondência, datada de 04 de janeiro de 1933, ele ainda informa que continuava como professor interino, do Atheneu, de História, ganhando o salário de 500 contos, “à disposição da pena do Interventor (era Bertino Dutra) que demite catedráticos quanto mais interinos)”. E revela que estava à margem dos ganhos, de um bom salário ou de um bom cargo, pois era considerado “pôlista e perrepista (em Natal porque em São Paulo era democrata), faço milagres para viver porque a vida se encarece e eu não tenho aumento financeiro para acompanhar os preços. Cada dia devo diminuir os gastos, privando-me de hábitos velhos, inclusive de compra de livros”. Eram os primeiros anos da revolução outubrista, no Rio Grande do Norte, de Interventores, que Cascudo conta na correspondência confidencial com o amigo Mário de Andrade que, quando rompeu o movimento insurrecional em São Paulo, aqui o ambiente “tornou-se irrespirável”. E fala que não havia um só revolucionário de 30 que tivesse eleitorado nem simpatia “comparáveis aos velhos e moços chefe do PRF (os chamados perrepistas) e especialmente a dissidência que acompanha a figura nova e varonil do dês. Silvino Bezerra, irmão de José Augusto e inimigo do dr. Juvenal Lamartine”. O desembargador Silvino Bezerra, quando rebentou a revolução de 30, os militares lhe foram oferecer o governo do Estado e ele recusou. Era o pai do dr. Manoel Augusto Bezerra de Medeiros e do empresário Luiz G.M. Bezerra. Confessa Cascudo, na sua análise sobre o movimento outubrista, no Estado. “Os prefeitos nomeados pelos outubristas são insignificâncias sem eficácia nem repercussão. Têm, entretanto as armas, a demissão, a cadeia e os cargos para amigos e inimigos. Toda a população do Estado foi desarmada em 1930. Não há armas em todo o sertão... o comércio, os pequenos agricultores, as classes mais ou menos letradas, são consideradas suspeitas e postas de lado...”. A exceção única, dizia ele, era Dinarte Mariz, prefeito revolucionário de Caicó, que era apoiado por todos os elementos. “Dinarte foi um dos primeiros demitidos, quando o clube 3 de Outubro pôde fazer o atual marinheiro (Bertino Dutra) interventor, irmanada com o chefe de polícia (João Café Filho), multiplicou os empregos para seus apaniguados e uma série de infâmias foi serenamente positivada, dia-a-dia”. A correspondência de Cascudo com Mário de Andrade é rica de informações históricas, de alguns episódios desconhecidos da historiografia oficial. Mas, o que impressiona, nas confissões do mestre, do grande mestre, é a forma como ele foi tratado, humilhado, por governantes, políticos, homens do poder, negando-lhe oportunidades para servir à cultura nacional e engrandecer o Rio Grande do Norte, sua cidade Natal, sempre mesquinha, tradicionalmente sem perdoar os vitoriosos, não dando trégua aos vencidos.















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Manoel Messias Pereira

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