domingo, 1 de setembro de 2013

O Muro da vergonha



O muro da vergonha

Luiz Tavares. Luiz Tavares.
Não vejo mais o muro da vergonha

“Não posso dizer que o preconceito interferiu na minha vida. Mas houve um episódio em que ele
ficou aparente: havia um casamento para eu celebrar à 11h. A noiva me perguntou se era eu quem iria fazer o casamento. Respondi que sim. Aí ela me disse: ‘ então, se for o senhor, acenda todas as luzes da igreja’. Aí eu caprichei: acendi as luzes, coloquei uma túnica de axé bem colorida e fiquei mais bonito que a noiva. Faço parte da Pastoral Afro, que uma vez por ano reúne de 40 a 50 padres, bispos e diáconos negros. Nós vamos todos paramentados, com roupas góticas, coloridas. Uma vez, um bispo me disse que não tinha me enviado o convite para o encontro porque achou que eu iria me sentir humilhado. Não havia motivo, pois não tenho vergonha de assumir minha negritude. Até 1982, os congadeiros [dançarinos do Congado, dança de origem africana eram proibidos de freqüentar a Paróquia São Benedito, em Passos. Quando assumi a paróquia, abri as portas, permitindo que eles manifestassem sua cultura afro. Graças a Deus a igreja despertou. Ela não ordenava padre preto. Não ficava bem para a sociedade ver um padre preto conduzindo uma missa. Acho que dois fatores enfraqueceram muito o preconceito: o Evangelho, que é a carta maior, e a Constituição, que é contra o racismo. Não vejo mais este muro da vergonha que separava brancos e pretos. E agora vem o Papa Francisco, a favor do bem, quando diz que sejamos felizes na medida em que a gente abrace o irmão sem preconceito. Aliás, eu vejo duas igrejas: uma antes do Francisco e outra a partir dele.”

Luiz Tavares de Jesus, 76 anos, padre


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Manoel Messias Pereira

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