quinta-feira, 14 de abril de 2011
A herança de Pina Baush
AAFOTO: MICHAEL PROBST/ASSOCIATED PRESS
Mestre. Pina Baush criou, entre outras, a coreografia "Ten Chi", que está em excursão pelo Brasil
SÃO PAULO. O que será dos próximos trabalhos da Tanztheater Wuppertal, a companhia de dança-teatro que a alemã Pina Bausch criou, coreografou e amou, só mesmo no futuro será possível saber. Passados quase dois anos de sua morte, de um câncer rápido e cruel, em 30 de junho de 2009, o que o público verá em São Paulo, no palco do Teatro Alfa, a partir de hoje, é que sua arte se mantém viva, forte, viçosa, emocionando, fazendo rir, surpreendendo, tal qual ela buscou em mais de 40 anos de carreira.
"Ten Chi" (Céu e Terra), o espetáculo que passou pelo Teatro Municipal do Rio na semana passada - depois de 14 anos sem que a companhia pisasse o solo carioca - e que seguirá viagem ainda por Porto Alegre (Teatro do Sesi nos dias 23 e 24), foi encenado pela primeira vez em 2004, quando a ausência de Pina era algo impensável para seus companheiros de palco e de viagens.
Trata-se de uma recriação de imagens da cultura japonesa - assim como a trupe já havia feito em viagens pelo Brasil, Índia e Coreia do Sul, dentre outros países. Se a coreografia/encenação divide opiniões dos críticos, o visual é indiscutivelmente arrebatador: o cenário é tão simples quanto belo, um rabo de baleia para cima, coberto por uma neve que não cessa. As bailarinas evoluem em vestidos macios e lustrosos como camisolas de cetim.
Em inglês e em português, o grupo que veio ao Brasil, formado por 17 homens e mulheres, recita textos, desce à plateia, interpreta clichês do jeito de ser nipônico: a obsessão pelas máquinas fotográficas, os cumprimentos submissos, os risinhos anuentes.
"Você sabe roncar?" é a pergunta que arranca risadas de desconforto da primeira fila.
Há uma semana, antes de embarcar para São Paulo, onde estiveram pela última vez em 2009, três meses depois da morte de Pina, os coreógrafos e diretores artísticos da companhia, o francês Dominique Mercy - bailarino que estrela um dos momentos oníricos de "Ten Chi" - e o alemão Robert Sturm, que era assistente de Pina, além da bailarina mineira Regina Advento, a brasileira da turnê, conversaram com a reportagem sobre as reações que o espetáculo provoca por onde passa. "Às vezes, vejo as pessoas tão concentradas, que não sei se estão amando ou odiando", brinca Regina.
Falaram também sobre a estranheza de não ter mais Pina nas excursões. "Quando você vem a um lugar pela primeira vez sem a pessoa, pode ficar nostálgico, triste. Nós decidimos continuar o trabalho dela, mas ainda não sabemos como fazer sem ela. Eu não sei dizer como é. É uma espécie de vertigem", tentou explicar Mercy.
Dominique Mercy se juntou a Pina Bausch no início dos anos 1970, quando começou a revolução que influenciaria praticamente tudo o que viria a aparecer na dança moderna nas décadas seguintes, e que foi tão mal compreendida num primeiro momento. Ela não admitia ter de explicar o seu trabalho. "Quando falar torna-se impossível, é preciso dançar" - preferia assim.
"Cada bailarino sente a responsabilidade de continuar trabalhando, agora sem o olhar dela. A gente tem que lembrar cada palavra que ela falava, para ser mais consciente, mais forte, mais focado. Vejo que terminamos essa história com a Pina e agora começamos outro livro, sozinhos", conta Regina, ex-integrante do Grupo Corpo, com Pina havia 16 anos. "Às vezes, ainda me pego dançando para ela".
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