domingo, 17 de abril de 2011

A Poesia


A poesia não é, nunca foi
uma enumeração ou composto
de exuberância, bondade,
altitude, nem arado
ou dádiva de viver sobre o chão
prenche de mortos.

Nem o arrependimento
De Deus por ter criado o homem
com o rosto da sua memória,
ao lado de seus vermes.

Tão-pouco fôlego dos que amam
abrindo a porta límpida
do corpo e chovendo sobre a terra,
ou carregam como tartarugas
o peso do mundo.

Nem reverência por um tigre,
pela leveza malígna de todas as patas,
pela sonolência junto à estirpe
aprisionada também
na dureza de ser tigre.

Nem anjos ou demônios,
flagelo dentro da maça
roída por oculto bicho usufrutuário
da árvore da vida.

Nem a linhagem dos cardos no deserto
ou dos filhos que gerei, nem ainda
visão dos seres que passam pelos olhos

e amo como mártires meus,
vides, gramíneas animais
de que fui responsável.

É o milagre de uma arma
total, de uma só palavra
reduzindo o átomo à completa inocência.




Antonio Osório
poeta

Setubal - Portugal
nasc.em 1933

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Manoel Messias Pereira

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