sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Morre Leon Cacoff fundador da Mostra de Cinema de São Paulo

 Morre Leon Cakoff, fundador da Mostra de Cinema de São Paulo


Crítico tinha 63 anos e lutava contra um câncer desde o ano passado



Morreu nesta sexta-feira, aos 63, o crítico Leon Cakoff, fundador da Mostra de Cinema de São Paulo. Ele sofria de um melanoma, um tipo agressivo de câncer de pele que atingiu o cérebro, e estava internado no Hospital São José.



O melanoma que Cakoff combateu em 2002 retornou em 2010, mas tinha migrado para o lobo direito do cérebro. A lesão foi descoberta e operada em dezembro. Apesar da quimioterapia, não foi possível evitar as metástases, que também atingiram pulmões e fígado. Ele vinha sendo atendido pela equipe do oncologista Rafael Schmerling.



Seu corpo será velado no Museu da Imagem e do Som (MIS), das 17h desta sexta até as 12h do sábado. Depois, será levado ao Memorial Parque Paulista, em Embu das Artes, onde será cremado.







Nascido Leon Chadarevian em 25 de junho de 1948 em Aleppo, na Síria, Cakoff emigrou para o Brasil com oito anos. Formou-se sociólogo e antropólogo na Escola de Sociologia e Política da Universidade de São Paulo, em 1972. Quando estudante, envolveu-se com política, nos primeiros anos do regime militar. Para driblar a repressão, ele assumiu o pseudônimo Cakoff. A partir de 1969, foi repórter e crítico de cinema em empresas ligadas aos Diários Associados, antes de assumir a programação de cinema do Masp, em 1974, onde atuava pelo cineclubismo e contra a censura ao cinema.







Ricardo Calil:

Leon Cakoff foi artista de cinema

A primeira edição do festival teve apenas 16 longas e sete curtas. O evento foi crescendo ano a ano e, no ano passado, exibiu mais de 400 títulos. Em seus mais de 30 anos de história, a Mostra foi responsável por revelar ao público brasileiro cineastas como Manoel de Oliveira, Quentin Tarantino, Pedro Almodóvar, Amos Gittai e Abbas Kiarostami.



Desde a primeira edição, o crítico manteve uma posição de combate à censura imposta pelo regime militar: trouxe filmes inéditos da China, de Cuba, da então União Soviética, da França e de outros países distantes. Os rolos chegavam por meios heterodoxos, como malas diplomáticas de embaixadas e consulados. "A história da Mostra Internacional de São Paulo é o relato de uma batalha constante contra a censura, as leis arbitrárias, o descaso pela cultura. É, finalmente, uma luta pela criação e preservação de uma memória coletiva", chegou a comentar o cineasta Walter Salles, de "Central do Brasil" e "Diários de Motocicleta".




Leon Cakoff e Renata de Almeida durante a pré-estreia do filme "Quebrando o Tabu", em maio de 2011, em São Paulo

Cakoff também dirigiu dois curtas em parceria com Renata de Almeida, "Volte Sempre Abbas" (1999) e "Natureza-Morta" (2004), e assinou um terceiro sozinho, "Esperando Abbas" (2004). Além disso, produziu outros dois filmes: "Bem-Vindo a São Paulo", reunião de curtas sobre a cidade dirigidos por 12 cineastas, e "O Mundo Invisível", filme inédito que reúne curtas de Manoel de Oliveira, Wim Wenders e Atom Egoyan, que terá exibição na 35ª Mostra.







Ele ainda escreveu os livros "Gabriel Figueroa – O Mestre do Olhar", resultado de uma grande entrevista com o lendário diretor de fotografia mexicano; "Ainda Temos Tempo", com crônicas de viagem ligadas a cinema; "Cinema Sem Fim", com a história dos 30 anos da Mostra; e "Manoel de Oliveira", sobre o cineasta português.



Em 2001, Cakoff abriu com o empresário Adhemar Oliveira a distribuidora Mais Filmes. Ele também era sócio de Oliveira na rede de salas Unibanco Arteplex. Nos últimos anos, dedicava-se a buscar recursos para seu projeto do Museu da Mostra, em que pretendia exibir o acervo acumulado em 35 anos de dedicação ao cinema.



Repercussão



"Leon Cakoff foi uma referência para o cinema de São Paulo. Ele tinha uma inteligência rara e uma visão muito completa do cinema. Era capaz de enxergar a qualidade de um filme comercial e de um filme autoral. É uma perda muito grande. Mas tenho certeza que a Renata de Almeida vai abraçar esse legado e levar a Mostra em frente da forma mais honrosa para a memória do Leon" - Andre Ristum, diretor de "Meu País".



"O que o Leon Cakoff deixa para quem é paulistano e ama Cinema desde pequeno? A Mostra. Então vamos fazer o que ele mais queria: vamos ver Cinema na Mostra! Isso é celebrar a memória de alguém que viveu em nome do que mais amava: o Cinema" - Toniko Melo, diretor de "VIPs".



"O Leon Cakoff sempre trabalhou para trazer um panorama muito rico de filmes para o Brasil. Foi na Mostra que tivemos oportunida de entrar em contato com filmes muito importantes. Cada edição era uma descoberta para mim. Além disso, a Mostra tornou-se um evento conhecido no mundo inteiro por sua qualidade. Ele colocou o Brasil no mapa dos festivais" - Juliana Rojas, diretora de "Trabalhar Cansa".



"O Leon criou ao longo dos anos um evento que hoje faz parte da identidade de São Paulo e que é uma das experiências mais saudáveis e marcantes na cinematografia nacional e mundial. E isso não é pouco coisa tendo em vista a grande diversidade que temos hoje no mundo. A Mostra tem um perfil político e social de formar público e abrir espaço para uma produção que jamais veremos nas salas comerciais. Foi uma vida quase que toda dedicada a um objetivo que trouxe sentido e generosidade para muitas noites e dias de milhares de pessoas. O Leon há muito tempo que já está marcado em nossa história e tenho certeza que seu bom humor, serenidade e força até seus últimos momentos foi por ter o desejo de ver sua obra seguir em frente. Querido Leon!" - Eliane Caffé, diretora de "Narradores de Javé".



“Admiro as pessoas que têm visão, um sonho, a coragem e a determinação de não apenas realizá-lo, mas também de perseverar, não deixá-lo morrer. É o caso do Leon, que foi o primeiro de nós aviajar para o Festival de Cannes, onde nasceu e começou a ser germinada a ideia de realizar um festival de cinema na cidade de São Paulo.” – Rubens Ewald Filho, crítico de cinema.











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Manoel Messias Pereira

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