sexta-feira, 5 de novembro de 2010

EUA Municia guerra Cambial com outros US$ 600 bilhões

EUA municia guerra cambial com outros US$ 600 bilhões



Essa imensa massa de dólares frios levou a OCDE e a ONU a advertirem que os Estados Unidos estão “exportando sua crise” e que bolhas especulativas já ameaçam os países emergentes



A dez dias da reunião do G-20, o Federal Reserve anunciou que intensificará a guerra cambial em curso, através da compra de títulos do Tesouro de longo prazo [Treasuries] em poder dos bancos, no valor de US$ 600 bilhões, em oito meses. Assim, o dólar, já em baixa recorde em relação às principais moedas, é derrubado agressivamente pelo Fed, através dessa inundação de moeda tirada do “tênue ar”, na tentativa de impor uma saída da crise via exportações, à custa dos demais países. Essa política já possibilitou que os EUA invertessem a situação em sua relação comercial conosco, passando a ter, desde janeiro-setembro deste ano, no Brasil, seu maior superávit, de US$ 5,74 bilhões.



LIXO TÓXICO



Antes, manobra semelhante para amortecer o lixo tóxico em carteira dos maiores bancos dos EUA, e que os ameaçava de naufrágio, fora executada no assim chamado primeiro “afrouxamento monetário” [QE, na sigla em inglês], de US$ 1,75 trilhão. No Plano Bernanke, 86% dos papéis têm vencimento entre 2,5 a 10 anos. O Fed também mudou as regras para que um determinado título possa responder por mais de 35% do portfólio de um banco. Na reunião de quarta-feira dia 3, o comitê de política monetária do Fed acresceu também os US$ 250-300 bilhões, já deliberados em agosto. Como afirmou o economista e Prêmio Nobel, Joseph Stiglitz, essa política está levando os mercados de câmbio “ao caos”, sem resolver os problemas dos EUA. Em reação a isso, um número crescente de países – inclusive o Brasil – está tomando medidas para controlar, de um modo ou outro, o ingresso desse capital especulativo. No caso do Brasil, aumentando para 6% a alíquota do Imposto de Operações Financeiras e sobre derivativos. E reduzindo os juros para evitar o “carry trade” – a operação em que um banco pega dinheiro a zero de juro, e vai ao exterior embolsar um juro bem maior.



INUNDAÇÃO VERDE



A extensão da inundação de dólares – base dessa política de escalpelar seu vizinho – já havia sido apontada pelo HP em novembro de 2009 (cf “EUA deflagra guerra cambial e Fazenda hesita em ir à luta”, de 11/11/2009): a base monetária dos EUA (isto é, a quantidade de dólares circulantes) aumentara 350% nos três meses após a irrupção mais indisfarçável da crise, em setembro de 2008. Também o “Wall Street Journal”, em maio de 2009, registrou que, somente no sistema financeiro norte-americano, já haviam sido injetados US$ 14,9 trilhões, mais do que o PIB dos EUA.



O economista Yoshiaki Nakano, aliás o primeiro a denunciar que havia uma “guerra cambial” em curso, assinalou que os EUA “desencadearam uma guerra cambial dissimulada com sua política monetária escandalosa de juro zero e de emissão de dólares, inundando as economias emergentes, adquirindo ativos, inflando as bolsas e apreciando suas moedas” (Nakano, “A guerra cambial e o IOF”).



Nakano fez outra observação importante sobre a questão: “a redução da taxa de juros para zero não trouxe de volta nem o crédito nem o emprego, que dependem, hoje, da política fiscal. (...) só a demanda externa, com aumento das exportações e redução nas importações, fará a taxa de desemprego voltar ao nível pré-crise e isso requer depreciação do dólar” (Nakano, “As novas bolhas e a guerra cambial”).



Foi o que se viu no mais recente relatório sobre a economia dos EUA, no terceiro trimestre de 2010. Com a economia rastejando a 0,5% no último trimestre, desemprego real que não se move dos 17%, a crise dos despejos sem solução, e bancos que mantém o crédito sob arrocho, mesmo operando a zero de juro interbancários, soa como fantasmagórica a explicação do Fed de que o tsunami é para “estimular a economia”. Pelo menos US$ 1 trilhão está “empoçado” nos grandes bancos e corporações, por absoluta falta de retorno, e somar mais US$ 900 bilhões não altera em si o problema.



“ECONOMIA MORIBUNDA”



Quem pode ter um empréstimo não quer se endividar agora, e quem precisa de empréstimo não atende mais as exigências. Não há crédito para as pequenas empresas. Com a “economia moribunda”, as empresas não querem admitir, quanto mais ampliar sua capacidade. Desde maio, 400 mil demissões líquidas. Cidades e estados, golpeados pela crise e redução da arrecadação, passaram a demitir em massa. Para cada posto de trabalho criado, há cinco sem-emprego. Diante dos trabalhadores que perderam seus empregos, e dos jovens que chegam ao mercado de trabalho, há uma “década perdida”.



Assim, o destino dessa imensa massa de dólares é a especulação no exterior – como duas décadas de colapso do Japão mostraram. Quanto mais dinheiro se coloca nos bancos a custo zero, mais eles vão ao exterior em busca do diferencial de juros do “carry trade”, e para a especulação com ativos, commodities, terras e ações. Agora, a OCDE e a ONU advertiram sobre a formação de bolhas especulativas nos países emergentes, com esses dólares frios. Em relação às commodities, essa desvalorização do dólar faz aumentar preço delas – em dólares – porque faz com que sejam necessários mais dólares para adquirir a mesma quantidade. Segundo Washington, na nova ordem das coisas, quem for superavitário no seu comércio exterior, deve lhes ceder seu mercado interno e ficar deficitário: essa é a “correção dos desequilíbrios” de que falam. Para quem está arrombado, é muita vontade.













ANTONIO PIMENTA



































































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Manoel Messias Pereira

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