sábado, 2 de abril de 2011

Cultura indígena no Mestrado da Universidade de Brasília

Mundo Cultura indígena é estudada em um novo mestrado da Universidade de Brasília

Cultura indígena é estudada em um novo mestrado da Universidade de Brasília .

Correio Braziliense .


Um seminário intitulado A alma do mundo, ministrado pelo antropólogo Carlos Brandão e pelo líder yanomami Davi Kopenawa, inaugurou, no último domingo, o mestrado profissional em sustentabilidade perante povos e terras indígenas da Universidade de Brasília (UnB). O título assinala o tom de todo o curso, que propõe promover diálogos interculturais para a reflexão da sustentabilidade. Já na abertura houve uma apresentação dos índios bakairi, o ritual kapa, com cânticos e danças de louvor à natureza. O curso é o primeiro do país nesse formato; até então, só havia especializações na área. Além disso, também é o primeiro com metade dos alunos indígenas.

O evento abriu a série de quatro seminários que vão ocorrer durante os 22 meses do curso. Entre os temas abordados, destacam-se saúde indígena, educação, preservação da terra, mineração, impacto dos grandes empreendimentos, políticas públicas e sustentabilidade de uma forma geral. O objetivo é qualificar a atuação de profissionais do campo indigenista, no planejamento e na implementação de ações baseadas nos princípios da sustentabilidade cultural e ambiental em postos governamentais ou não. "O curso é voltado para trabalhadores da área. O grande diferencial e a proposta mais interessante é o diálogo dos saberes entre o conhecimento tradicional e o acadêmico. Metade dos mestrandos e dos professores são indígenas", afirma a coordenadora do curso, Sandra Maria Faleiros.

Para ela, a procura pelo curso prova que já existia uma demanda reprimida por um mestrado nesses moldes. "Foi um dos mais procurados da universidade. Temos alunos de todos os cantos do país." A alta adesão dos estudantes superou as expectativas dos idealizadores. Das 26 vagas, 13 foram ocupadas por índios das mais diversas etnias, como os bakairi (MT), guarani (MS), apurinã (AM), suruí (RO), kinikinau (MS) e wapixana (RR).

O programa inclui também um trabalho de campo em São Gabriel da Cachoeira (AM), que faz fronteira com Bolívia e Venezuela. É a região de onde vem Álvaro Tukano, líder indígena que vai dar aula aos mestrandos. "Eu pretendo falar do que significa sustentabilidade na nossa visão, explicar nosso calendário. Agora, por exemplo, estamos na grande enchente do camarão. É preciso entender a terra. Eu sou plantador de pupunha, mas o açaí quem planta são os pássaros. Agronegócio pra mim não faz sentido. Vida civilizada é a tradicional", atenta. Segundo Tukano, o mérito do curso é propor uma nova maneira de fazer universidade.

Descolonização
Segundo o diretor do mestrado, Othon Leonardos, o processo que culminou na inauguração do curso levou 15 anos. "Antes tivemos uma especialização e algumas teses no tema. Leva algum tempo para o brasileiro se assumir indígena. É quase um processo de descolonização. Mas a crise ecológica atual ajudou a dar mais justificativas ao curso", ressalta. O professor explica que os alunos do mestrado serão capazes de analisar a sustentabilidade de forma geral, como as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. "Eles vão ver todo o contexto, e não só como uma obra de engenharia. Vão dizer se é sustentável sob todos os pontos de vista", completa.

O mestrado profissional em sustentabilidade com povos e terras indígenas é resultado de uma parceria entre a Fundação Universidade de Brasília (FUB), o Ministério da Cultura (Minc), a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), o Ministério da Defesa e a United States Agency for International Development (Usaid), por meio do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB).

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Manoel Messias Pereira

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