quinta-feira, 7 de abril de 2011

Os Estados Unidos congelaram as remessas de armamentos para o Líbano



The Wall Street Journal, de Washington

Os Estados Unidos congelaram discretamente as remessas de armamentos para o Exército do Líbano, depois que seu governo pró-ocidente desmoronou em janeiro, ressaltando as preocupações crescentes sobre o papel do Hezbollah no país.

A suspensão das remessas, parte de uma revisão mais ampla da assistência militar americana ao Líbano, é um exemplo que inspira cautela sobre o rumo incerto das rebeliões seculares que vêm varrendo o Oriente Médio e a capacidade limitada de Washington para influenciar o processo. A Revolução dos Cedros, em 2005, começou com uma onda de protestos populares que motivou esperanças democráticas nos países ricos, de modo bem parecido com as atuais revoltas. Mas, para o desespero dos EUA e de seus aliados, o Hezbollah emergiu mais poderoso, em vez de mais contido.

A interrupção das remessas de armas foi aprovada recentemente pelo secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, mas a decisão ainda não foi anunciada publicamente porque se teme que sua divulgação interfira nas delicadas negociações internas no Líbano sobre a formação e as políticas do novo governo.

Autoridades de Defesa dos EUA dizem que o país continua ajudando a treinar o Exército do Líbano e fornecendo assistência em outras áreas que não envolvem armamentos, e descrevem como robustos os laços que ainda existem.

Os EUA gastaram US$ 720 milhões desde 2006 apoiando as Forças Armadas libanesas, valor que inclui a cessão de equipamentos e treinamentos avançados. Só entre março e outubro do ano passado esse apoio incluiu pelo menos US$ 18 milhões em equipamentos militares e munição, como mísseis antitanque e lança-foguetes. Havia outros carregamentos no cronograma para o fim do ano passado e o início do atual, mas não se sabe exatamente o que foi entregue aos libaneses.

Uma autoridade do alto escalão do Departamento de Defesa disse que o Pentágono está reavaliando toda a assistência americana às Forças Armadas libanesas "durante este período de formação de governo". Outra autoridade americana disse que a Casa Branca vai basear suas futuras decisões sobre assistência militar, inclusive se retoma as remessas de armamentos, depois de avaliar a composição e a conduta do próximo governo.

Congressistas americanos já tentaram bloquear o auxílio ao Exército libanês em agosto, depois de um confronto letal na fronteira entre soldados israelenses e libaneses. O Hezbollah, um grupo político e militar xiita considerado pelos EUA como uma organização terrorista, tem sido o principal inimigo de Israel no sul do Líbano. Ele tem o apoio da Síria e do Irã.

O Líbano passou por um levante popular em 2005 depois do assassinato do ex-premiê libanês Rafik Hariri, pai do ex-primeiro-ministro Saad Hariri. O atentado ao carro de Hariri foi um evento crucial na história do Líbano e forçou a Síria a encerrar a ocupação militar do país, que já durava 30 anos.

Mas o otimismo inicial dos EUA sobre as perspectivas de mudança "perdeu força", disse uma autoridade americana de alto escalão, e o Hezbollah desde então vem conseguindo expandir seu alcance no país e além, alarmando os EUA e Israel.

A escolha em janeiro de um empresário bilionário apoiado pelo Hezbollah, Najib Mikati, como novo primeiro-ministro, confirmou a posição do movimento como a força militar e política mais poderosa do Líbano. Mikati vai ocupar o lugar de Saad Hariri, que desfrutou do apoio dos países ricos quando foi primeiro-ministro.

A capacidade limitada de Washington para influenciar os acontecimentos no Líbano ressalta as possíveis desvantagens das mudanças em curso na região. Enquanto países como Tunísia e Egito enfrentam a dura realidade de fundar novas instituições políticas após anos de autocracia, as autoridades americanas temem que os governos democraticamente eleitos que surgirem possam não ser capazes de se alinhar aos interesses de Washington.

Mas as autoridades da Defesa dizem que preferem manter algum nível de apoio às Forças Armadas libanesas. Embora enfraquecidos, dizem as autoridades, os militares do país provavelmente continuam sendo a única instituição do Estado com chances de manter a estabilidade.

Representantes da embaixada do Líbano em Washington não quiseram comentar.

Em negociações a portas fechadas com colegas de Washington, autoridades israelenses pressionaram pela suspensão de todas as remessas de armamentos, "por medo de que [as armas] possam acabar nas mãos erradas e ser usadas contra nós no futuro", disse uma autoridade israelense.

Segundo novas estimativas israelenses, o Hezbollah construiu até 550 abrigos subterrâneos no sul do Líbano, incluindo 100 que armazenam foguetes e mísseis. O movimento tem entre 40.000 e 60.000 foguetes, muito mais que durante a guerra de 2006 no Líbano, dizem autoridades israelenses.

O Hezbollah procurou nas últimas semanas se envolver nas revoltas populares que tomaram conta do mundo árabe. O grupo já apoiou os protestos de xiitas em Bahrein e criticou governos árabes por apoiar os líderes de Bahrein ao mesmo tempo em que apoiam os rebeldes na Líbia.


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Manoel Messias Pereira

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