quinta-feira, 6 de outubro de 2011

filme "Deusas" de Sylvie Cachin

Sylvie Cachin






“dEUSAS, nós acreditamos que nascemos perfeitas”, é o novo documentário da realizadora suíça Sylvie Cachin.

Recentemente apresentado na 15ª edição do Festival de Cinema Queer Lisboa, o filme surgiu a partir da ideia de comparar a sociedade indígena sul-africana Khoisan, que vivia de forma pacífica em igualdade de género, e a sociedade pós apartheid, colonialista.







Um filme que surge a partir de um encontro fortuito em Genebra, entre a realizadora e uma ativista sul-africana. Foi desta forma que a realizadora ouviu falar da violência cometida contra as mulheres na África do Sul, em particular sobre as jovens lésbicas, mas também do primeiro povo da África do Sul, os Khoisan, e da forma como estes entendiam e viviam o género e as opções sexuais.







Construir pontes para documentar a busca por um ideal

O ponto de partida aconteceu com uma residência de artista que Sylvie Cachin realizou na Cidade do Cabo, África do Sul, com o apoio do Conselho Suíço para as Artes ( Swiss Pro Helvetia Arts Council). Durante seis meses, a realizadora viveu a dinâmica da sociedade sul-africana e estabeleceu as pontes necessárias à elaboração de um documentário que nos revela o sentir das mulheres negras da África do Sul.

Através de depoimentos, onde se cruzam lições de história, dança contemporânea e denúncias da violência exercida sobre as lésbicas, é-nos revelado como a mulher sul-africana está num caminho de busca da original organização baseada na igualdade de género e na construção de uma sociedade menos violenta.







Sensibilidade e liberdade criativa na denúncia da violência

“dEUSAS” é um documentário que “faz o retrato de mulheres sul-africanas, fortes e independentes, que, desde o fim do apartheid, resolveram tomar o controlo das próprias vidas e avançar com os seus valores.” Mulheres que, evidentemente, “se batem contra a violência cometida contra elas, mais precisamente a violência de que são alvo as lésbicas na África do Sul,” considera a realizadora.



Por outro lado, do ponto de vista criativo, “o filme é uma composição livre sobre os desejos das mulheres negras, maioritariamente lésbicas e sul-africanas,” revela a cineasta.

“Fui livre de fazer este filme tal como queria,” afirma Sylvie Cachin, que acrescenta: “Eu trabalho de forma independente e tinha as entrevistas de seis mulheres diferentes. Decidi fazer uma montagem de uma forma livre, sem qualquer receita, escutando a minha sensibilidade e tentando ficar o mais próximo possível daquilo que eu senti da parte delas.”









Cartaz de "dEUSAS", de Sylvie Cachin (lunafilm.ch)



Todo o ser é perfeito e sem pecado

Para Sylvie Cachin, “cada mulher é uma deusa, é capaz de criar, de ser independente e de avançar com os seus próprios valores.” Por isso, “dEUSAS”, é escrito com d minúsculo, porque a realizadora queria “colocar as deusas na terra, em oposição a Deus, com um D maiúsculo, que é o modelo patriarcal.”



“Nós acreditamos que nascemos perfeitas”, tem origem num conceito que existe na sociedade indígena Khoisan, segundo o qual a orientação sexual é irrelevante.



“Significa que, em termos contemporâneos, se nós nascemos lésbica, gay ou bissexual, a questão não se coloca. Quer se tenha nascido homem ou mulher, somos perfeitos. Não há hierarquia entre os géneros, não há hierarquia entre as identidades sexuais. Isto, em oposição ao pensar cristão que diz que nós nascemos pecadores, onde se inclui toda uma noção de culpabilidade, que me parece não existiam nas sociedades africanas.







Cinema suíço, uma referência no Queer Lisboa

A Suíça tem uma história muito rica em termos de produção de cinema sobre a temática gay, lésbica, bisexual e transexual, por isso os realizadores helvéticos sempre tiveram um lugar no Festival lisboeta.

Uma posição que ao longo das várias edições do festival tem contado com o apoio da Swissfilms e da Embaixada da Suíça em Lisboa.



Para a edição de 2011 a organização do Queer Lisboa seleccionou dois filmes suiços: “gODDESSES, we believe we were born perfect”, de Sylvie Cachin, e “Working on it”, de Sabine Bauman (Suíça) e Karin Michalski (Alemanha).



“A relação do festival com a Sylvie Cachin já vem de há alguns anos atrás,” afirma o Director Artístico do Queer Lisboa, João Ferreira, que revela que tudo começou com a apresentação de “Claudette”, o anterior documentário da realizadora.



“Este ano ela enviou-nos este filme (“gODDESSES, we believe we were born perfect”), que foi uma surpresa para nós, e foi integrado na secção para o melhor documentário. É um filme em que, acima de tudo, se sente que por detrás houve uma liberdade enorme, houve um tempo prolongado de olhar para esta realidade das mulheres da África do Sul, particularmente a coreógrafa (Mamela Nyamza), que é o objecto do documentário. Apaixonou-nos muito este lado livre do filme. Este filme seduziu-nos logo de início.”







Luís Guita, swissinfo.ch

Lisboa






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Manoel Messias Pereira

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