sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Jesus, a biografia (im) possível

Jesus, a biografia (im)possível

08:22 Por António Marujo



Jesus provavelmente não se casou, mas várias mulheres acompanharam-no (DR)
Quem foi Jesus? E quem é ele hoje? A cada 25 de Dezembro os cristãos celebram o seu nascimento, mas, quanto à sua vida subsistem muitas dúvidas e mistérios. Fomos saber quais as mais recentes teses sobre este "judeu marginal" que "viveu num recanto do Império Romano"

Um profeta ou um blasfemo? Um subversivo ou um sedutor? Um homem ou um deus? Um marginal ou um judeu da elite? Um amigo dos pobres e das mulheres ou um opositor aos líderes religiosos do seu tempo? Um político ou um mestre espiritual? Um sonhador ou um revolucionário?

Impossível compor uma biografia de Jesus de Nazaré, cujo nascimento é assinalado desde há séculos a 25 de Dezembro - mesmo se não há certezas sobre a data exacta ou sequer sobre o próprio nascimento. Começamos então por ver que sabemos pouco. Ou talvez não. Ed Parish Sanders, um dos mais importantes estudiosos sobre a personagem histórica de Jesus, escreve n’"A Verdadeira História de Jesus (ed. Notícias/Casa das Letras): "Há muitos aspectos sobre o Jesus histórico que permanecerão um mistério."

Não se sabe, por exemplo, quando e onde nasceu exactamente - apesar de, na festa do Natal, se assinalar a cidade de Belém como lugar onde veio à luz, segundo a tradição. Não se sabe se teve irmãos, embora John P. Meier, autor de Um Judeu Marginal - Repensando o Jesus Histórico (ed. Imago/Dinalivro), uma das obras maiores dos estudos contemporâneos sobre Jesus, aponte para a probabilidade de serem legítimos os vários irmãos de Jesus.

Não se sabe ainda como viveu durante os primeiros 30 anos da sua vida. Não se sabe se se casou - Meier diz que tudo aponta para que tenha permanecido celibatário. Desconhece-se se Jesus tinha consciência plena da sua missão - ou, na linguagem crente, se era Deus.

Sabemos pouco, então, sobre Jesus? O mesmo E. P. Sanders escreve: "Sabemos que iniciou a vida pública sob João Baptista, que teve discípulos, que esperava o Reino, que foi da Galileia para Jerusalém, que fez algo hostil ao Templo, foi julgado e crucificado." Sabemos ainda "quem era, o que fez, o que ensinou e por que morreu; e, talvez o mais importante, sabemos como inspirou os seus seguidores, que, por vezes, não o entenderam, mas que lhe foram tão fiéis que mudaram a História".

Bilhete de identidade

Uma biografia impossível? À procura de respostas, a Sociedade Missionária da Boa Nova organizou o colóquio Quem foi, quem é Jesus Cristo. A convite do teólogo e filósofo Anselmo Borges, vários pensadores e especialistas contemporâneos passaram por Valadares (Gaia), em Outubro, dando um panorama do que se conhece sobre Jesus, em várias áreas. Acompanhámos a iniciativa, que contou com a participação de alguns dos mais destacados teólogos espanhóis.

O bilhete de identidade de Jesus tem alguns elementos seguros, outros menos: sabe-se que a sua família era de Nazaré, na Galileia (actual norte de Israel). Não há certezas sobre se terá nascido ali ou em Belém. A tradição aponta para esta pequena cidade próxima de Jerusalém para confirmar Jesus como o messias esperado pelos judeus, a partir de textos do Antigo Testamento.

O seu pai - adoptivo, segundo a tradição cristã, já que o verdadeiro pai seria o próprio Deus - era artesão. O que significava que a família tinha alguns meios de sobrevivência. Depois de uns 30 anos de vida discreta, Jesus apareceu em público a ensinar uma nova doutrina e a curar pessoas aflitas que o procuravam. Por causa disso, após cerca de dois anos de vida pública, foi acusado pela elite religiosa e levado junto do governador romano, Pôncio Pilatos, que o mandou crucificar. Dois dias depois, vários dos seus seguidores começaram a dizer que o tinham visto vivo,ressuscitado. Para lá destes dados, quem era esse homem? Este "judeu marginal", como é desgnado por John Meier, que viveu num recanto do Império Romano, que depois de uma presença de intervenção pública que pode não ter chegado a dois anos "morreu como blasfemo religioso e subversivo social e político" O que fez ou disse para ser condenado à morte? "Uma morte de cruz própria dos escravos" numa coligação de interesses religiosos e políticos de Jerusalém e Roma, nas palavras de Anselmo Borges.




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Manoel Messias Pereira

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