sábado, 10 de dezembro de 2011

O silêncio do Piano

Pra que,  uma composição para piano, que não seja dramática, eloquente, emocionante. Que não permita o ser humano reagir naturalmente com o olhar marejado em lágrimas.

Geralmente há mãos que deslizam sobre os teclados, com a ilusão de apenas estar dedilhando a música. Mas a música é o tensionamento, da canção, da melodia, da harmonia e do balanço e deixa no ar um grito de esperança, um resto de saudade. Mas há também o piano que na sala chora em silêncio.

A esperança existe, na tela invisível do pensamento, na alegoria do olhar, que reflete a saudade, da mulher, que entrava em casa perfumada, com o jeito professoral, que colocava um vaso aqui, ali, que encantava com o canto das aves nas árvores e dizia, que precisava colocar aquele canto na música, numa composição no piano. Mas essa mulher virou saudade, depois de ser prisioneira e desaparecida política da ditadura militar no Brasil.

A esperança é que a Comissão da verdade, venha e traga os restos mortais dela, para que toda a familia, possa enterrá-la com a dignidade e as honras familiares, que todos possam expressar diante dos ossos ou das cinzas, o seus choros, de saudades.

Saudades que o marido tens das conversas com a esposa, do jeito de olhar de casal, dos beijos trocados, das línguas dobradas e outras deslocadas no momento do amor. Da composição de ternura até o silêncio do piano.

A casa que era só sorriso e viva, transformou-se numa arquitetura em que há só um diálogo, do silêncio dos espíritos.

E Hoje a Comissão da Verdade, tem de trazer uma resposta, a tantas perguntas que ficaram na pauta de um Estado, em que os seus articuladores, falaram que todos que pensaram de formas diferentes daqueles que atenderam aos anseios de Washington, eram terroristas. Falas essas que não convergem em respeito, em doçuras. Apenas reflete a psicopatia que tomou os militares do Brasil e da América Latina.

Todos que foram os desaparecidos, os mortos, os presos, os anistiados, foram por suas ideologias que eram contrárias ao capitalismo. Um sistema que demonstram  a instrumentalização da desigualdade, da amplitude da fome, da adoção de algo natural, como a divisão humana entre ricos e pobres, negros e brancos, do racismo, do sexismo, machismo com tom irônico, onde as botas esmagavam as flores, e eliminavam as consciências da partilha, da solidariedade e da fraternidade.

Enquanto isto o piano está no canto da sala, no silêncio que doi, no silêncio da suadade, que fica como a literatura, da letra num livro, querendo gritar. Esperando a Comissão da verdade, fazer a correta leitura desta realidade.




Manoel Messias Pereira

professor de História, poeta e crônista
São José do Rio Preto-SP

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