domingo, 13 de maio de 2012

A educação formal de Alto Sundi - Angola


Reportagem

População de Alto Sundi precisa de quase tudo

Bernardo Capita



As aulas são ministradas numa estrutura feita de bambu onde a única sala acolhe alunos de várias idades e classes





Fotografia: Rafael Tati
Cabinda

A situação social das populações da região do Alto Sundi, comuna de Miconge, 280 quilómetros a Norte de Cabinda, é preocupante por falta dos principais serviços sociais básicos.

Alto Sundi, localidade município de Belize, constituída por 28 aldeias, com pouco mais duas mil pessoas, tem falta de infra-estruturas hospitalares e de educação, de água e de estabelecimentos de comércio a retalho.

Nas aldeias da circunscrição, onde as cubatas, na maioria, estão degradadas, também há falta de locais de diversão, o que faz as pessoas deitarem-se cedo ou a passarem o serão numa estrutura construída pela comunidade para reuniões tradicionais.

A pobreza no Alto Sundi é visível, ao contrário do que se verifica noutras áreas do município. A situação deve-se fundamentalmente a dois factores, ter sido, durante o conflito armado, a zona mais fustigada e à falta de uma estrada em condições que permita a circulação de pessoas e bens.

A guerra que atingiu a região do Alto Sundi obrigou a população a fugir para a República Democrática do Congo separada de Angola apenas pelo rio Chiloango. Com a conquista da paz, as pessoas regressam, mesmo conscientes das dificuldades que encontram.

Pela falta de escolas modernas, as aulas são ministradas em estruturas de bambu, com alunos de várias idades e classes juntos na mesma turma.

A situação, além de anti-pedagógica, tem reflexos negativos na qualidade de ensino e aprendizagem e cria desconforto nos alunos da iniciação. O professor Luís Bunga, que tem, no mesmo espaço, estudantes da terceira e da quarta classe, disse, Jornal de Angola, ser difícil trabalhar nestas condições “porque os alunos ficam baralhados e sem saberem que tipo de matéria aprender”.









Luís Bunga afirmou que este tipo de ensino é anti-pedagógico, mas que mais vale assim do que nada, enquanto se aguarda pela construção da escola e que hão-de chegar dias melhores, pois localidade de Conde Cavunga, onde fica a administração, está a ser construída uma escola, que deve estar pronta em Agosto. A secretária provincial da Educação, Ciência e Tecnologia, que fez parte da comitiva do governador provincial que visitou Alto Sundi, disse ser urgente a tomada de medidas para se inverter a situação e que nos próximos dias começa um projecto de construção de escolas, que, “infelizmente, não abrangente as 28 aldeias do Alto Sundi” devido ao número exíguo de crianças em idade escolar.

Berta Marciano lembrou que não pode ser construída uma escola em cada aldeia, mas que tem de ser encontrado “um meio-termo”para as crianças não terem de percorrer mais de um quilómetro para irem às aulas. O Ministério da Educação, referiu, determinou que somente sejam construídas escolas nas aldeias em que haja, no mínimo, 500 alunos.





Saúde e água





A região do Alto Sundi também não tem rede sanitária, o que faz com que as pessoas com menos recursos se desloquem à República Democrática do Congo para ir ao médico e as mais abastadas paguem dois mil kwanzas pela viagem de táxi até à sede municipal, que fica a cerca de cem quilómetros.

O governador provincial de Cabinda, Mawete João Baptista aproveitou a visita para ministrar albendazol, o que permitiu a desparasitação de mais de 1.200 pessoas.

Na localidade de Conde Cavungo, o governador esteve com Marcos Matombe, 87 anos, que há mais de três tem cancro da próstata sem assistência médica.

A mulher, Rebeca Matombe, 68 anos, é quem trata dele com remédios caseiros à base de ervas.

Mawete João Baptista pediu à equipa do Instituto de Emergência Médica (INEMA), que também fez parte da comitiva, que prestasse os primeiros socorros e que posteriormente tratasse do transporte do doente para a sede municipal de Belize, onde há assistência médica adequada.

“O facto das populações do Alto Sundi terem regressado sem exigirem ao governo da província condições para reintegração social é motivo mais do que suficiente para procurarmos soluções rápidas para aliviar o seu sofrimento”, afirmou o governador, que deu ordens aos secretários provinciais para resolverem urgentemente os problemas.

O secretário provincial da Saúde assegurou que o sector vai garantir assistência médica àquelas populações. As consultas, disse Carlos Zeca, vão ser asseguradas por quatro clínicas móveis e os casos de difícil diagnóstico transferidos para a sede municipal de Belize.

“Na próxima jornada de vacinação contra pólio, estamos aqui para coordenar o processo, tendo em conta a quantidade de crianças na localidade”, afirmou.

Os habitantes da aldeia de Maloango Zau consomem água, com resíduos de lama, tirada do rio, causadora de doenças diarreicas agudas.

O secretário provincial em exercício de Energia e Águas garantiu que entre 90 e 120 dias são construídos três sistemas de água, desde que sejam feitos já os estudos de viabilidade técnica.

“Voltamos na próxima semana com a empresa que tem a logística para a realização dos trabalhos preliminares” prometeu Filipe Barros, que declarou que o sector tem dinheiro para as obras.





Reabilitação da estrada





O governo da província investiu cerca de 24 milhões de dólares nas obras de reabertura da estrada Caiguembo-Bulo (Alto Sundi), numa extensão de cem quilómetros, que, garantiu o empreiteiro, está pronta em Agosto.

Mawete João Baptista ficou satisfeito com a evolução dos trabalhos, consubstanciados na terraplanagem e na compactação de 80 quilómetros de estrada.

O governador, que salientou a importância da reabilitação da estrada no desenvolvimento da localidade e na vida da população, recordou que desta forma “é mais fácil ao governo instalar vários serviços sociais junto das comunidades do Alto Sundi”.















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Manoel Messias Pereira

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