sexta-feira, 1 de abril de 2011



Franco e a guerra civil na Espanha





A Guerra Civil espanhola (1936-39) foi o acontecimento mais dramático e traumático que ocorreu antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial. Nela estiveram presentes, em aberto enfrentamento, todos os elementos ideológicos, políticos e militares que marcaram o século XX.
Iniciada por meio de um golpe militar liderado pelo general Francisco Franco dado em 18 de julho de 1936, ela, nos meses seguintes, converteu-se numa guerra generalizada e sem quartel entre as forças da direita nacional-falangista e a coligação da esquerda espanhola, terminando por envolver as potências nazi-fascistas e o comunismo soviético, causando um violento banho de sangue que marcou para sempre a Espanha do século XX.


Uma cruzada contra o comunismo





General Francisco Franco (falecido em 20 de novembro de 1975)
De um lado, insurretos, estavam as forças da Tradição, do catolicismo e do fascismo, aliadas às classes e instituições convencionais da Espanha, o Exército, a Igreja e o Latifúndio; do outro a Frente Popular que formava o Governo Republicano, representando os sindicatos, os partidos de esquerda e os simpatizantes da democracia.

Para a Direita espanhola tratava-se de uma Cruzada para livrar o país da influência comunista e da franco-maçonaria. Uma guerra para restabelecer os valores da Espanha tradicional, autoritária e católica, ameaçadas pela desordem social e política em que o país se encontrava. Para tanto era preciso esmagar a República, que havia sido proclamada em 1931, logo após a queda da monarquia e o exílio do rei Afonso XIII.

Para o lado das Esquerdas era preciso dar um basta ao avanço do fascismo que, naquelas alturas, já havia conquistado Itália (em 1922), a Alemanha (em 1933) e a Áustria (em 1934). Segundo as decisões da Internacional Comunista, de 1935, os quadros comunistas deveriam aproximar-se dos partidos democráticos de classe média e formarem uma Frente Popular para tentar deter a maré crescente de vitórias dos nazi-fascistas em vários países da Europa. Desta forma Socialistas, Comunistas (stalinistas e trotskistas) Anarquistas e Democratas liberais deveriam unir-se para chegar e inverter o que parecia ser a tendência mundial favorável aos regimes direitistas.

Foi justamente esse conteúdo, de amplo enfrentamento ideológico universal, que fez com que a Guerra Civil deixasse de ser um acontecimento puramente espanhol para tornar-se numa prova de força entre as ideologias rivais que disputavam a hegemonia do mundo. Nela envolveram-se a Alemanha nazista e a Itália fascista, que apoiavam o golpe do general Franco e a União Soviética que se solidarizou com o governo Republicano.


Antecedentes da guerra






A Espanha ainda nos 30 era um anacronismo histórico. Enquanto a Europa ocidental já possuía instituições políticas modernas, no mínimo há mais de um século, a Espanha teimavam em manter-se como um oásis tradicionalista, governada pela "trindade reacionária": o Exército, a Igreja Católica e o Latifúndio. Trindade essa que tinha sua expressão última no apoio à monarquia bourbônica de Afonso XIII. A elite vivia nostálgica do seu passado imperial grandioso, a ponto de manter um excessivo número de generais e oficiais em relação às suas reais necessidades militares (1 general para cada 100 soldados, o maior percentual do mundo em época de paz).

A Igreja Católica, por seu lado, era herdeira do obscurantismo e da intolerância dos tribunais inquisitoriais dos tempos do Santo Oficio, uma instituição que condenara a modernidade como obra do demônio. E no campo, finalmente, existiam de 2 a 3 milhões de camponeses pobres, los braceros, submetidos às práticas feudais e dominados por uns 50 mil hidalgos, proprietário de metade das terras do país e que formavam os altos da pirâmide social da península.

Como resultado da grave crise econômica de 1930 (iniciada pela quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1929), a ditadura do general Primo de Rivera, apoiada pelo caciquismo (sistema eleitoral viciado que sempre dava seus votos ao governo), foi derrubada e, em seguida, caiu também a monarquia. O Rei Afonso XIII, perdendo o apoio dos militares, foi obrigado a exilar-se em Paris e, em 1931 proclamou-se a República, logo batizada de "República de trabajadores".

A esperança era que doravante, com a mudança do regime, a Espanha pudesse alinhar-se com seus vizinhos ocidentais e marchar para uma reforma modernizadora. Que a República recém proclamada conseguisse a separação do estado da igreja e que introduzisse na constituição e no restante da sociedade as grandes conquistas sociais e eleitorais recentes, além de garantir o pluralismo político-partidário e a liberdade de expressão e organização sindical. Todavia o que se viu a seguir foi a vitória do tumulto e da desordem.

O país, especialmente os trabalhadores e camponeses, reprimidos por séculos, terminou por conhecer um cada vez mais violento enfrentamento de classes. A impotência da República em poder atender as demandas despertadas por todos os lados da sociedade, visto a profunda depressão econômica, provocou a frustração generalizada na sociedade espanhola. Com o ligeiro passar dos anos, as soluções violentas ganharam corpo. Ninguém na Espanha dos anos trinta acreditava que a democracia, desprestigiada em quase todas as partes, salvaria a nação da crise.


Os partidos políticos






Os Comunistas, obedecendo a uma determinação do Comintern (a Internacional Comunista controlada pela URSS), resolveram unir-se aos socialistas, democratas e liberais radicais para compor uma Frente Popular para ascender ao poder por meio de eleições esperando com isso barrar a ascensão vertiginosa do nazi-fascismo. Como sempre, as Esquerdas estavam divididas em diversos partidos e organizações, entre as quais:

PSOE (Partido Socialista Obreiro Espanhol) - Socialistas
PCE (Partido Comunista Espanhol) - Comunistas
POUM (Partido Obreiro da Unificação Marxista) -Comunistas-trotsquistas
UGT (União Geral dos Trabalhadores) - Sindical Socialista
CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores) - Sindical Anarquista
FAI (Federação Anarquista Ibérica) - Anarco-Sindicalista

Elas aliaram-se com os Republicanos (Ação republicana e Esquerda republicana) e mais alguns partidos autonomistas (Esquerda catalã, os galegos e o Partido Nacional Basco). Essa coligação venceu as eleições de fevereiro de 1936, dominando 60% das Cortes (O parlamento espanhol), derrotando a Frente Nacional, composta pelos direitistas.

A Direita, por sua vez, estava eleitoralmente agrupada na CEDA (Confederação das Direitas Autônomas), formada pelo partido agrário, pelos monarquistas e pelos tradicionalistas (carlistas) e, finalmente, pelos fascistas da Falange Espanhola (liderados por José Antônio, filho o ex-ditador general Primo de Rivera) e pela JONS, Juntas de Ofensiva Nacional-Sindicalista, chefiadas por Onésimo Redondo e Ledesma Ramos.


C.E.D.A. - Confederação das Direitas Autônomas

Monarquistas - Partidários do retorno dos Bourbons

Tradicionalistas - Partido Carlista

Falange Espanhola - Partido fascista espanhol

Jons - Juntas de ofensiva nacional-sindicalista

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Manoel Messias Pereira

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