terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Reflexão Literária - Cônica de Simone Guerra, poesia de Edvaldo Jacomelli e artigo de Manoel Messias Pereira

Crônica de Simone Guerra

Para Tricotar

No silêncio daquele quarto escuro, estava sentada Maria da Esperança, uma mulher cujo passado marcado pela desolação de um amor, vivia uma vida pacata e solitária. Reservada e muito refinada, comungava ainda um possível amor.
         Ela sentava todas as noites em sua cadeira de cedro e tricotava para passar as horas. Em seus pensamentos, ela se alimentava de viagens amorosas, aventuras sexuais, e sonhava com aquele homem que ela tanto lera nos romances franceses e italianos. Esperança, vivia de ilusões insanas, cheiros não existentes e perspectivas irreais.
      Tricotava, tricotava e tricotava. Vagarosamente seus pensamentos narravam histórias infindáveis: amores, suspense, drama e terror. Mulher calma e serena. Linda face amarronzada. Ela já beirava aos cinquenta anos, mas tinha uma pele fresca e um calor intenso para amar alguém.        
           Maria da Esperança, não tinha sonhos grandiosos, estes eram simples como o nascer de todas as manhãs. Ela apenas desejava suprir aquela solidão de tricotar, com um homem que pudesse fazer dela alguém mais realizada e feliz.
          Dizem que seus lábios nunca foram beijados. Nenhum homem a tocara ou a possuiu. Seu corpo exalava virgindade impregnada. Seus seios ainda são de menina. Seus cabelos são compridos, muito negros e lisos.
             Esperança adormeceu na cadeira, e mais um dia se foi. Amanhã com o levantar de um novo dia, ela estará ainda sonhando com o bem amado, com a vida que não teve, e com as perspectivas que não virão. Seu tricotar é tão limitado!
           
Faça tudo, viva cada minuto com a intensa vontade de ser feliz, realize desejos, ouse segredos. Seja prudente e insana, mas não permita nunca que a cadeira de cedro e o tricotar diário possam consumir você. (Simone Guerra)


Simone Guerra

cronista e poetisa brasileira
O linho e a linha - marisa monte e Adriana Calcanhoto


Poesia de Edvaldo Jacomelli
Nepal
Do sonho

Ir para Nepal deve ser trasladar

O ápice do orgasmo

Os homens estão indo para Nepal

Ah! Como deve ser esse voo indizível

Dentro de meu cerebelo fascinado!

Ir para Nepal deve ser transpor a imaginação!

Os homens estão indo para Nepal

É difícil não reter a magia semântica

De se saborear com a palavra Nepal

Ir para Nepal deve ser

Todo o avesso de ficar sentado



Edvaldo Jacomelli

poeta, cronista e contista

São Jose do Rio Preto-SP - Brasil


Canto tradicional chinês

Artigo de Manoel Messias Pereira
O mundo em 1949 neste dia 21 teve o culto da Fé Baha'i, organizando a Assembléia Espiritual Nacional, nos Estados Unidos, com a intenção de estabelecer o Dia Mundial das religiões.

Quase todos os seres humanos são portadores de determinadas crenças, ou prestam-se a cultos religiosos. A ideia de religião tem como sinônimo o culto prestado à divindade; doutrina ou crença religiosa; acatamento às coisas sagradas, fé, devoção, piedade, crença viva. Tudo que é considerado como um dever sagrado, respeito, escrúpulo. A palavra religião vem do latim religione ou religare, relativo a relação entre criador e a sua criatura.

Para alguns pensadores o homem cria ideia de Deus , por meio de seus medos, a sua frustração do não saber tudo. Daí sempre recorrem -se a Deus. Como se o Criador fosse uma interjeição linguística. Mas para grande parte dos idealistas, Deus criou o homem a sua semelhança.

Todos os homens da terra tem determinadas culturas, determinas fés, determinados pontos de apoios espirituais e cada um defende aquilo que acha correto acreditar. E portanto todos são portadores de necessidades psicológicas, como se um filhote procurando a teta pra mamar.

Só que todos procuram mas Deus, que no passado no Império Romano apresentava-se na figura do Imperador, agora apresenta-se como um ser invisível portador de toda a criação, com uma divindade, que é bom mas também castiga. E assim surgem as diferenças natural dos homens os preconceitos, os medos e os ataques e até mesmo a ideia da violência pra justificar essa ou aquela religião.

E nestas empresas ditas religiosas, que pra muitos aparecem como instituições  formadas por homens portanto criaturas que em assembleias, discutem-se em como  pra chegar até ao criador. E assim todo mundo posiciona-se como certo a ponto de utilizar a guerra religiosa.

Há algum tempo uma Igreja chamada Universal do Reino de Deus, passou a apostar no ódio entre o cultos e iniciou uma chamada em praça pública intitulada "Duelo dos Deuses", e seu criador Bispo Edir Macedo  até elaborou ações de ataques aos outros cultos, assim como a quebra de guias colares e praça pública e até reafirmar que os deuses africanos eram os Demônios. E para tal escreveu um livro. Enganando os seus fiéis e criando um clima de constrangimento entre os negros e brancos portadores da cultura dos orixás.

E no seu orgão oficial da chamada Folha Universal, n.39 uma matéria no final de 1999 em que chamam os filhos e de fé e Yalorixás e babalorixás de forma pejorativa, leva a mãe Gilda de Ogun, como era conhecida a Yalorixá Gildásia dos Santos Santos, que no momento da leitura do jornal, pela forma agressiva, acabou sofrendo de um enfarto em 21 de janeiro e em consequência disto veio a  falecer.

A ação desta suposta Igreja Universal, feriu a Lei Caó, que é a lei que regulamenta os princípios constitucionais para combater o racismo, a lei descreve os aspectos objetivos da ação discriminatória como negar, impedir, interromper, constranger, restringir, dificultar o exercício de direito por parte da pessoa discriminada. 

Os filhos do terreiro entraram na Justiça e teve como advogado o Ogan Dr. Hédio da Silva Junior, professor universitário, afro-descendente e ex-Secretário da Justiça do Estado de São Paulo, que ganhou em todas as instâncias o processo.

Em 2007 o Presidente Luis Inácio Lula da Silva  sanciona a Lei 11.635/2007, criando o Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa, uma luta no Brasil das Yalorixá e Babalorixá e todo o povo das comunidades de Terreiros, de Umbanda, Candomblés, Omolocos, Tambor de Minas , Turquias, em memória da Mãe Gilda, do Terreiro Ilê Axé Abassa de Ogun, localizado em Itapuã.

E assim no dia 21 de janeiro de 2008, tivemos a Marcha de Combate contra a Intolerância Religiosa no Brasil. Reafirmando a defesa do direito Constitucional de liberdade de Culto e pedindo fim da violência contra os praticantes de religiões africanas como o candomblé.

 Embora em junho de 2008, quatro jovens evangélicos invadiram o Centro Espirita no Catete, Zona sul carioca, insultaram os fiéis, quebraram imagens e objetos locais, numa aparente falta de respeito e educação. Demonstrando que a sua formação religiosa era feita num antro de ódio.

O que levou religiosos, intelectuais e até o presidente da Republica as ruas participando de uma concentração e uma marcha de protesto contra a Intolerância Religiosa.

No Brasil a liberdade de culto, partiu de um projeto do deputado comunista e filho de Xangô do candomblé o escritor Jorge Amado. Mas há Resolução da Organização das Nações Unidas - ONU n.2003/1954 no Parágrafo 5 que sublinha as restrições à liberdade em relação ao professar cultos ou crenças que são previstas em lei e necessárias, para proteger a segurança, a ordem, a saúde, a moral e os direitos fundamentais.

É de extrema importância reafirmar sempre o respeito a liberdade, as pessoas e a natureza. A vida deve ser traçada semeando harmonia e luzes de amor. A esperança deve ser sempre capaz de refletir na poesia a concretude de nossa existência.

Manoel Messias Pereira

professor, poeta, cronista
São Jose do Rio Preto- SP - Brasil


Gilberto Gil- A PAZ


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