domingo, 7 de novembro de 2010

De detetives e fantasmas




De detetives e fantasmas

07/11/2010 

Fonte: Tribuna do Norte



Marcelo Alves Dias de Souza - Procurador da República, Mestre em Direito pela PUC/SP, Doutorando em Direito pelo King’s College London - KCL Após assistir a um documentário na BBC Four – “Edgar Allan Poe: Love, Death and Women” -, tive a ideia de diletantemente pesquisar e escrever algo sobre esse genial escritor americano (nascido em Boston em 1809 e falecido em Baltimore em 1849) e sua ligação com a cidade de Londres. Seria algo sobre o Poe autor de estórias de detetives, com o que, esperava, faria um link com o Direito. Mas era “Halloween” e, tomado pelo ambiente, fui mudando o prumo da minha investigação e acabei me envolvendo mais com o Poe escritor de contos macabros (e isso, desde já reconheço, foi um grande erro). Para quem não sabe, editor, crítico literário, maravilhoso poeta (vide “O Corvo” e “Annabel Lee”, que foram curiosamente vertidos para o português por Fernando Pessoa) e contista, Edgar Allan Poe é considerado, juntamente com o inglês Wilkie Collins e o francês Émile Gaboriau, um dos fundadores da ficção policial. Mas ele é também muito admirado pelos seus contos de suspense e terror. Nesses e em outros gêneros, suas obras influeciaram a literatura, o cinema, o teatro e mesmo a ciência (em ramos como a criptografia e a cosmologia) em todo o mundo. Um “cult”, certamente, seja lá o que isso signifique. Tentando ganhar a vida apenas através da literatura (algo bastante difícil à época), o homem Poe também teve uma vida trágica, sendo a morte sua constante companheira. Sua prima e esposa, Virginia Clemm, tuberculosa, andou sempre a namorar com ela (a morte), vindo a falecer ainda muito jovem. O próprio Poe, obrigado a constantes mudanças, veio a falecer ainda jovem, encontrado indigente em Baltimore, com apenas 40 anos. A causa morte, segundo o documentário da BBC, foi a ingestão exagerada de álcool, já que ele foi encontrado, desorientado pela bebida, nas ruas de Baltimore, alguns dias antes de falecer em hospital da cidade. Mas outras drogas, doenças como a cólera ou a própria tuberculose, problemas no coração ou mesmo uma tentativa de suicídio não podem ser descartadas. E a verdade é que sobre Londres e Poe não faltaria assunto. Orfão com cerca de dois anos de idade (o pai havia já abandonado a casa quando sua mãe faleceu), Poe foi adotado pela família do rico comerciante escocês John Allan. A família, por volta do ano 1815, mudou-se para o Reino Unido, tendo o futuro escritor vivido na Escócia e mesmo, por alguns anos, na cidade de Londres (tanto no bairro central de Chelsea como em áreas mais suburbanas). Poe, além de haver vivido na grande Ilha, ali também ambientou algumas de suas estórias, como os contos “The Man of the Crowd” e “Ligeia”. Dotado de um estilo marcante, ele deixou um legado nas obras de grandes ficcionistas ingleses, como Arthur Conan Doyle e Agatha Christie, que expressamente pagaram tributo a essa influência. Mas o fato é que foram os “fantasmas” de Poe e da Londres do “Halloween” que falaram mais forte em mim. E bastou resgatar uma revista, sobre o bairro que morei quando cheguei à cidade (Covent Garden), para enxergar que os três (Poe, fantasmas e Londres) têm tudo a ver. São “histórias” e mais “estórias” de violência, morte e aparições nas cercanias de onde eu vivia. Uma pequena amostra da cidade de “Jack, o estripador”, da Torre de Londres, seus enforcados e seus espíritos. Fui tão a fundo na minha amadorística investigação que resolvi assistir a uma peça/show, “Ghost Stories” (o nome já diz tudo), no Duke of York’s Theatre, que estava fazendo o maior sucesso e que, segundo resenhava “The Times”, tinha inspiração na obra de Poe. Qualitativamente, não achei a peça/show lá essas coisas. Mas saí dali impressionado, o que não era nada bom àquela hora, já tarde na noite, voltando para casa, cruzando estranhos becos e ruelas (jornada essa que considero o meu segundo grande erro). Felizmente, cheguei em casa e, muito cansado, me deitei. Mas acabo de ouvir um grito desesperado ao pé da minha janela. É Jack ou é Poe? Londres – se antes eu apenas desconfiava, agora tenho a certeza - é uma cidade prenha de “histórias” e “estórias” macabras. No dia das bruxas, meu caro leitor, madrugada adentro e terrivelmente assustado, não estou mais sabendo distinguir umas das outras.















©UN
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Manoel Messias Pereira

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