terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Consequência da Semana de 1922, no Ceará



O Grupo Clã, ativo no Ceará entre os anos de 1940 e 1950, foi um dos movimentos influenciados tanto pela renovação quanto pela ruptura da Semana de 22. Entre os integrantes, Moreira Campos, João Clímaco Bezerra e José Alcides PintoUma legião de escritores cearenses foi forjada pelo movimento paulista, ainda vivo no estilo de muitos



Há dez anos escrevi o artigo "Semana de Arte de 1922, raízes e consequências", publicado no livro "Modernismo: 80 anos" (Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 2002). Penso ter alinhado no referido artigo as contribuições da Semana de 22 na literatura, nas artes plásticas, na arquitetura, na música erudita, na popular, e no teatro de nosso País.



Este ano, quando a Semana chega aos 90 anos, perguntam-me: "Quais as consequências deste evento nonagenário na literatura cearense?"



Ora, antes de qualquer outra consideração, é preciso sublinhar que o espírito iconoclasta daquele evento ocorrido em São Paulo na segunda década do século XX, já se manifestara pioneiramente no Ceará com a fundação da Padaria Espiritual a 30 de maio de 1892. Na verdade, desde o início, a ação da Padaria Espiritual foi, no dizer de Antônio Sales, "uma festa original, onde a boa gargalhada substituía o tonitroar da retórica cediça e narcótica, destoando travessamente das lúgubres noitadas que se passam no recinto dessas sociedades literárias, hirtas e parvas com seus estatutos maçudos, as suas artes de irmandade do Sacramento e a sua discurseira inoperante".



Estas palavras de Sales são típicas de um discurso tanto de ruptura quanto de renovação cultural que ocorre entre nós bem antes da performance havida em São Paulo. Outra manifestação precursora do Modernismo no Ceará é apontada por Otacílio Colares em "Lembrados e esquecidos" (Fortaleza: IUC, 1975) quando escreve: "Como Menotti del Pichia e Tasso da Silveira, simbolistas aos primeiros passos e assim, precursores do modernismo de vanguarda, assim também pode ser considerado Mário da Silveira, milagre de intuição poética no acanhado meio provinciano", naturalmente o de Fortaleza da década de 1920.



Sânzio de Azevedo, em "Literatura cearense" (Fortaleza: ACL, 1970) inclui Mário da Silveira (autor cujos poemas foram reunidos postumamente sob o título "Coroa de rosas e de espinhos") no espaço dedicado ao Pré-Modernismo, mas em "Aspectos da literatura cearense" (Fortaleza: UFC/ACL, 1982) conclui o capítulo dedicado a Mário assegurando ao poeta o lugar de "legítimo precursor do Modernismo na poesia cearense".



Fases



"O canto novo da raça" (Fortaleza: Tipografia Urânia, 1927), opúsculo de 40 páginas partilhadas por Jáder de Carvalho, Sidney Neto, Mozart Firmeza e Franklin Nascimento, é considerada por Sânzio "o livro inaugural" do Modernismo no Ceará. Em 1929, circulam os dois únicos números de "Maracajá", um suplemento literário do jornal "O Povo", que trazia estampada uma clara identificação: "Folha modernista do Ceará". Tomando para título o designativo do conhecido gato silvestre, esta folha se integrava ao espírito nativista inicial do Modernismo brasileiro.



Após "Maracajá", em 1931, vem a público "Cipó de fogo", título de folha independente também consonante com o espírito modernista que, entretanto, fica apenas no primeiro número. Na fase inicial do Modernismo cearense, compreendida esta como a dos anos 1920 e 1930, destacam-se os escritores Jáder de Carvalho, Franklin Nascimento, Sidney Neto, Mozart Firmeza, Filgueiras Lima, Demócrito Rocha, Heitor Marçal, Martins d´Alvarez e Rachel de Queiroz.



Na segunda fase, que compreende os anos 40 e 50, tendo por balizas históricas a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, prepondera o Grupo Clã, que agregou nomes importantes como os de Joaquim Alves, Fran Martins, Antonio Girão Barroso, João Clímaco Bezerra, Moreira Campos, Milton Dias, José Alcides Pinto, Francisco Carvalho, Iranildo Sampaio, Cid Carvalho, entre outros.



A década de 1960 assiste ao surgimento do Grupo SIN de Literatura, que mesmo de existência breve, produziu substancialmente e renovou sobretudo a poesia, o ensaio e a crítica. Integraram o SIN, entre outros: Barroso Gomes, Horácio Dídimo, Linhares Filho,Barros Pinho, Roberto Pontes, Rogério Bessa, Pedro Lyra, Leda Maria, Yeda Estergilda, Carlos Alberto Bessa.



De 1970 a 1980 destacaram-se escritores como Francisco Sobreira, Caetano Ximenes Aragão, Gilmar de Carvalho, Nilto Maciel, Airton Monte, Batista de Lima, José Hélder de Souza, Mario Pontes, Ana Miranda, Dimas Macedo, Audifax Rios, Carlos Augusto Viana e Virgílio Maia.



De 1990 até o presente há que registrar as presenças de Jorge Pieiro, Ronaldo Correia de Brito, Dimas Carvalho, Paulo de Tarso Pardal, Pedro Salgueiro, Astolfo Lima Sandy, Rinaldo de Fernandes, Tércia Montenegro, Luciano Bonfim, Natalício Barroso, Rodrigo Marques, Ilo Barroso.



Essa nominata incompleta, em razão dos limites deste artigo, seria indeclinável se não houvesse ocorrido a Semana de Arte Moderna de 1922, cujo espírito de ruptura já se achava latente entre nós, conforme antes assinalado.



Nossa força inventiva continua a manar dos precursores e dos realizadores da Semana de Arte de 1922, porque vivemos uma busca constante de identidade, sabedores que somos hoje de que "só há espaço na comunidade universal para o povo que se souber profundamente arraigado em seu espírito" fundador.





Editora Verdes Mares Ltda.



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Manoel Messias Pereira

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