segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A Grécia atual




.O dia "crucial" para o anúncio de um acordo decisivo para abordar no imediato a dramática situação da Grécia prolongou-se pela noite de ontem e em Atenas já se recordavam os últimos dias de Pompeia.



O "acordo doloroso" com a 'troika' internacional, como é designado nas ruas da capital grega, teima em não ser anunciado, prolongando-se a reunião entre o primeiro-ministro, Lucas Papademos, e os líderes dos três partidos que integram o executivo desde 11 de Novembro - o Partido Socialista Pan-Helénico (PASOK), a direita conservadora da Nova Democracia (ND) e a direita nacionalista radical da União Popular Ortodoxa (LAOS) -- acompanhados pelo ministro das Finanças, Evangelos Venizelos.



A reunião na conhecida mansão Maximou, a residência oficial do primeiro-ministro, iniciou-se no final da tarde, quando a noite já ameaçava uma Atenas soturna, encoberta por espessas nuvens e flagelada por um vento polar.



Um país extenuado, que ainda recupera da recente e trágica morte do mítico cineasta Theo Angelopoulos, atropelado mortalmente em 24 de Janeiro no porto do Pireu durante o início das filmagens de um filme sobre a crise da Grécia e da Europa, e que deixou os gregos ainda mais tristes, num país que parece ter deixado de sorrir.



"O problema continua a ser Antonis Samaras [líder da ND], que não vai conseguir explicar aos seus deputados porque mudou de opinião tão depressa. Antes dizia que não assinava um acordo do género, mas agora é diferente. Se o acordo não for assinado é a bancarrota, é a derrota da Grécia", disse ao início da noite à Lusa uma fonte governamental.



"O dilema é grande. Decidir entre medidas muito duras para a população, e a bancarrota. E a bancarrota será pior", assegurou.



Nos últimos dois anos, Samaras cultivou uma imagem de irreverência, que se confundia com a esquerda. Era um forte opositor das medidas de austeridade que começaram a ser aplicadas desde 2010 pelo governo do PASOK do então primeiro-ministro Papandreou.



As actuais discussões permanecem bloqueadas em torno de algumas das medidas exigidas pela 'troika' internacional para a concessão do anunciado plano de resgate de 130 mil milhões de euros anunciado na cimeira de Outubro da União Europeia (UE).



O despedimento de 150 mil funcionários públicos até 2015, incluindo 15.000 trabalhadores já até ao final deste ano, ou a redução de 22 por cento do salário mínimo (atualmente a rondar os 750 euros) permaneciam alguns dos pontos de fricção.



E para cumprir os desígnios da 'troika', que tenta impor este acordo no âmbito de um plano mais vasto que implica o perdão de 100 mil milhões de euros de dívida grega pelo sector privado, sobretudo a banca internacional, os líderes dos partidos pareciam pretender que parte substancial dos novos despedimentos públicos fossem convertidos em reformas antecipadas.



Já em Março, a Grécia precisa de 14,4 mil milhões de euros para as obrigações do Estado que atingem a data de maturidade e terão de ser amortizadas. E em caso de desacordo, não haverá dinheiro para pagar os salários da função pública.



Mas os cálculos políticos continuam assim a ter primazia.



Uma sondagem ontem divulgada em Atenas fornece aos conservadores da ND 31 por cento das intenções de voto, enquanto o PASOK, do ex-primeiro-ministro George Papandreou, obteria uns escassos oito por cento.



E na cena política grega surge pela primeira vez um partido da extrema-direita, o Aurora Dourada, com três por cento das intenções de voto, a percentagem mínima para obter representação parlamentar.



"Não tem nada a ver com o LAOS, que é uma direita radical e nacionalista. Estes são mesmo nazis, com saudação de braço estendido...", precisa um observador político.



O LAOS, dirigido por Georgios Karatzaferis, também desce nas sondagens, garantindo agora cinco por cento das preferências.



Os três partidos à esquerda do PASOK e com representação parlamentar: Partido Comunista (KKE), Esquerda Democrática (DE) e Syriza (esquerda radical) obtêm 40 por cento das preferências, um resultado inimaginável há apenas alguns meses.



O PASOK, a formação mais penalizada pela evolução recente da situação política na Grécia, tem vindo a sugerir que as eleições legislativas, em princípio marcadas para a próxima Primavera, sejam adiadas para 2013.



O objectivo consiste em associar os três partidos do governo de "unidade nacional" às draconianas medidas de austeridade que se preparam para ser anunciadas, e estancar a queda vertiginosa do maior partido da Grécia em 2009, quando obteve mais de 45 por cento dos votos nas legislativas antecipadas.



Uma alteração muito profunda do sistema político, intimamente relacionada com os pacotes de austeridade que já foram aplicados, ou estão perto de ser aprovados.



Nas ruas, nos 'media' e mesmo em círculos próximos do poder o sentimento generalizado é de que "é impossível viver desta forma, porque na Grécia o custo de vida é elevado. O país vai ser vendido a preço de saldo. Os protestos sociais vão radicalizar-se tornar-se particularmente violentos já em 2012", como referiu à Lusa um observador político, que aguardava com impaciência o final da "reunião decisiva".



E os cenários apocalíticos avolumam-se. "Se houver bancarrota na Grécia, com a saída do euro e depois da UE, as Forças Armadas poderão actuar", sugere-se em Atenas.



"Nesse cenário, pode admitir-se a formação de uma Junta Militar. Há cada vez mais gente, incluindo com ligações à direita tradicional e aos socialistas, que começam a admitir a necessidade de uma ditadura. E dizem-no de forma séria, com a classe política totalmente destruída e o país em colapso", disse o mesmo observador.



A Grécia, mesmo com acordo, vai continuar a confrontar-se com muitos pesadelos. E os escassos caminhos para a saída da encruzilhada começam a desvanecer-se.





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Manoel Messias Pereira

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