domingo, 27 de novembro de 2011

A criança que chora na estrada

A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje,vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei de encontra-lo? Quem errou
A vinda tem regressão errada.
Já não sei de onde vim nem de onde estou.
De ou não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.




Fernando Pessoa

poeta

Lisboa - PT


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Manoel Messias Pereira

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